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Peço desculpa por interromper, mas é que estamos quase a fechar outra vez

Peço desculpa por interromper, mas é que estamos quase a fechar outra vez

Pedro Candeias

Subdiretor

Horacio Villalobos

Bom dia,
António Costa
entrou pela porta que o povo ansiava ver aberta há horas e disse “muito boa tarde” e muitas outras coisas boas que ficam bem dizer quando a seguir se diz uma má. É um truque político válido, embora escusado neste caso: já toda a gente tinha percebido que este “não ia ser um Natal normal” pela segunda vez em dois anos.

Sim, o reforço da vacinação está nos “83,5% na população com mais de 65 anos”, sim, já há “96 mil crianças vacinadas”, sim, o número de testes realizados é três vezes superior; e sim, as hospitalizações, os internamentos em cuidados intensivos e os óbitos estão “substancialmente abaixo” dos valores trágicos do ano passado.

Havia tudo isto de bom para ser dito por António Costa, mas também havia um “mas” subentendido. Saiu um “contudo”.

“Contudo, foi anunciada uma nova variante, a taxa de incidência tem vindo a crescer e esta é uma má notícia.” Certo, a Ómicron. Veio o PDF com novas medidas restritivas que o PM passou em revista antes de responder às perguntas dos jornalistas, um ritual cerimonioso cujo protocolo ninguém desconhece.

Resumo-as, usando o lead do artigo de oito perguntas e respostas da Mara Tribuna: “nos dias 24, 25, 30 e 31 de dezembro e 1 de janeiro, os testes à covid-19 vão ser obrigatórios para ir ao restaurante, ao casino ou a uma festa de passagem de ano; a semana de contenção foi antecipada: as discotecas e bares vão encerrar já no sábado, o teletrabalho vai ser obrigatório e há novas lotações nos estabelecimentos comerciais”.

António Costa deixou ainda recomendações caseiras, que não entram na categoria das obrigações, pois há lugares onde o Estado não pode naturalmente entrar. Então, o conselho é optar por uma Consoada arejada, com janelas abertas e com máscara, evitar ajuntamentos familiares e que os convivas estejam devidamente testados. Com autotestes, testes antigénio ou PCR’s, preferencialmente estes últimos, embora os anteriores ofereçam igualmente “segurança”.

Questionado sobre a noticiada falta de testes disponíveis em farmácias ou para marcação em laboratórios, António Costa respondeu ter “informação das entidades responsáveis” de que o stock iria ser reposto. O PM também garantiu por outro lado um aumento nos recursos humanos para o rastreio e pediu compreensão e empatia para os profissionais de Saúde a propósito do fecho dos centros de vacinação nos dias 24, 25 e 26 de dezembro, e nos dias 31 de dezembro e 1 de janeiro.

Posto isto, as reações: os representantes dos bares e discotecas falaram em “liquidação total” do setor; o alojamento local pediram mais postos de testagem e os hóteis garantiram que vão perder muito dinheiro; os donos dos restaurantes anteciparam “cancelamentos” nos jantares; e os porta-vozes dos centros comerciais argumentaram que a limitação da lotação “não faz sentido”.

No entretanto, os partidos políticos disseram o que pensavam sobre o pacote de restrições apresentado no Palácio da Ajuda. O PSD acusou o Governo de “incoerência” e de tomar posições “alarmistas” sem base científica; o PCP previu “prejuízos para os trabalhadores” e pediu a gratuidade dos testes, sem limites; o CDS afirmou que o executivo andava “a brincar com a vida do setor dos bares e discotecas”; o BE e o PAN pediram mais apoios e a IL assinou o trocadilho da tarde: “Ciência, não é, só se for Ciência Política”.

OUTRAS NOTÍCIAS
COVID-19.
Lá fora: Israel arranca com a quarta dose da vacina para os mais de 60 anos, Biden tenta sossegar os norte-americanos perante o ritmo galopante da Ómicron, Espanha registou um número recorde de novos casos diários e a Alemanha concluiu que depois da quarta vaga seguir-se-á a quinta, pelo que vai impôr restrições depois do Natal.

TAP. A Comissão Europeia aprovou o plano de reestruturação da companhia portuguesa, mas o OK chega com algumas condicionantes: um corte de 18 slots, o que irá pôr a TAP em concorrência com outras empresas de aviação; e a cedência da Cateringpor e da Groundforce. O Estado vai injetar mais 2,55 mil milhões de euros.

CEMA. Henrique Gouveia e Melo deve ser nomeado chefe do Estado-Maior da Marinha na quinta-feira, por proposta do Governo a Marcelo Rebelo de Sousa. Passaram-se três meses desde que esta promoção foi notícia; na altura, a hipótese foi barrada pelo PR por causa de três equívocos enunciados por este: havia um almirante em exercício (António Mendes Calado), a “fundamentação” para a troca não era a correta e só se substitui alguém quando esse alguém cessa funções.

DRE. Está no Diário da República: Eduardo Cabrita assinou um louvor a todos os funcionários que com ele trabalharam, incluindo os seus motoristas. Fê-lo um dia depois de se ter demitido de funções.

FRASES
“Não se pode dizer que uma empresa que volta a ter um número de aviões superior ao segundo melhor ano da empresa" seja uma tapzinha”, Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e da Habitação

“O Pedro Gonçalves, para o bem e para o mal, é um jogador que não pensa muito nas coisas”, Rúben Amorim, treinador do Sporting

Do debate e votação do diploma no parlamento, ressalta que a situação do tiro aos pombos é diferente da caça”, Marcelo Rebelo de Sousa contra o tiro aos Columba Livia

PODCASTS
🌎 A subida do nível do mar assusta São Tomé e Príncipe. Passada a festa da COP 26 e a contestação dos que protestaram contra a inação dos políticos, o que muda realmente no quotidiano dos países que já estão a sofrer com as alterações climáticas? Ouça Sulisa Quaresma, técnica do ministério do Ambiente são-tomense, em entrevista ao África Agora.

😷 Com o Governo a antecipar o anúncio de novas medidas para a contenção natalícia e do ano novo, tudo por causa da Ómicron, fique a conhecer melhor esta variante no Expresso da Manhã, com o professor e investigador do Instituto de Medicina Molecular, Miguel Castanho.

📽️ Gonçalo L. Almeida e Alexandra Guimarães são as revelações do ano das curtas-metragens graças a ‘MUSGO’, uma curta que fez furor em festivais como o ‘FEST’, ‘Caminhos do Cinema Português’ ou ‘Curtas Vila do Conde’. Estão ambos no Cinetendinha desta semana, disponível em podcast.

O QUE ANDO A VER
Há um momento sublimemente caótico em “È Stata La Mano Di Dio”: a família inteira - pai, mãe, tios, tias, primos e irmãos - come e bebe debaixo do sol numa eira enquanto dois rapazes estão estrategicamente colocados em pontos diferentes à espera que uma das convivas chegue de braço dado com o noivo.

As conversas enrolam-se umas nas outras, há confidências, um assobio íntimo, um homem diz “mato-me se o Maradona não vier, eu mato-me”, uma mulher imponente sentada à margem com um um casaco de peles vestido ao sol a engolir mozzarella aos bocados e à mão, disparam-se insultos carinhosos e fazem-se metáforas politicamente incorretas - e então chega o noivo, coxo e com uma eletrolaringe, e começa tudo novamente.

“È Stata La Mano Di Dio”, é um filme biográfico de Paolo Sorrentino que nos transporta para a sua adolescência em Nápoles, cidade bela, confusa, generosa e violenta, e à sua aproximação definitiva ao cinema que acontece após uma tragédia estúpida.

Fabio Schiso, a quem chamam Fabietto, é Sorrentino na juventude: melancólico, sonhador e solitário, que tem como único amigo um contrabandista exímio a tripular barcos rápidos e uma paixão por Patrizia, a tia sensual que acabará internada com problemas mentais.

É ele o protagonista, e é a sua relação com a mãe e com o pai e com o irmão e com a voz da irmã que nos guia ao longo de um filme maravilhoso, temperado com ironia e humor, dor, tristeza e felicidade, enfim, a vida em cinema, embora não num cinema, mas num serviço de streaming.

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