Economia

Pedro Nuno Santos: reprivatização da TAP “não está agora em cima da mesa”, mas futuro é integrá-la “num grande grupo”

Pedro Nuno Santos
Pedro Nuno Santos
MIGUEL A. LOPES

"Estamos a trabalhar para que a TAP possa estar num grupo grande de aviação porque é a forma mais sólida para a viabilização a longo prazo" da companhia aérea, disse Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e Habitação, em conferência de imprensa em que abordou a aprovação do plano de reestruturação da companhia aérea

No dia em que o Governo se congratula com a aprovação do plano de reestruturação da TAP pela Comissão Europeia, já se começa a pensar no pós-2025, o horizonte definido para o fim do programa de reestruturação da transportadora aérea. O ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, disse esta terça-feira que o trabalho de encontrar um parceiro para a TAP é um trabalho a ser feito "nos próximos anos", que deverá envolver a inclusão da companhia de bandeira portuguesa "num grupo grande de aviação".

Neste momento, "uma nova privatização da TAP não está agora em cima da mesa, mas no negócio altamente competitivo da aviação uma companhia aérea não vive isolada", disse o ministro na conferência de imprensa após a aprovação por Bruxelas do plano de reestruturação. "Estamos a trabalhar para que a TAP possa estar num grupo grande de aviação porque é a forma mais sólida para a viabilização a longo prazo", disse.

"A TAP no mercado global da aviação já não sobrevive sozinha", acrescentou, "e deverá procurar parceiros". E acrescentou que é "um trabalho que será feito nos próximos anos" numa altura em que já há companhias aéreas de olho numa parceria como a Lufthansa e a Turkish Airlines.

O ministro defendeu o modelo hub-and-spoke, com base no Aeroporto de Lisboa, que, segundo Pedro Nuno Santos, é um "modelo de negócio que dá centralidade a Portugal", sendo a única transportadora aérea a fazê-lo no País. Se a TAP fechasse "deixaríamos de ter um 'hub' em Lisboa", o que implicaria que os voos provenientes dos destinos intercontinentais da TAP - África e Américas - "passariam a parar em Madrid, Berlim ou Paris", considerou.

Sobre a alienação dos negócios não relacionados com a aviação, a Cateringpor (refeições) e a Groundforce (handling), o ministro das Infraestruturas disse que esta deverá ocorrer "até ao final do plano de execução de reestruturação" e que esta "só acontecerá" com as "propostas adequadas". "Não vendemos participações da TAP a preço de saldo", ressalvou.

Já os 18 slots que terá de prescindir serão atribuídos a novos interessados em ocupá-los, através de um concurso que será realizado no inverno de 2022, especificou.

"Não vamos ficar com uma 'tapzinha'"

"Um grande sucesso negocial". Foi assim que Pedro Nuno Santos, de olho nos ataques da oposição a um mês das legislativas, descreveu o fim do braço de ferro entre a Comissão e o Governo português. A TAP fica sujeita a remédios como a cedência de 18 'slots' e a alienação de negócios não relacionados com a aviação, e não terá de vender mais aviões, nem de despedir mais pessoas, nem de reduzir mais os salários das que ficaram.

O ministro começou a conferência com uma defesa da transportadora aérea portuguesa - e munido de números. "A TAP exportou nas vésperas da pandemia 3 mil milhões de euros, no 'top' 3 dos maiores exportadores nacionais", dos quais "cerca de mil mil euros são exportações liquidas", disse.

A TAP é, defendeu, "de uma importância vital para uma economia que tem sistematicamente uma balança comercial desequilibrada". E realçou também o apoio que as compras da transportadora dão à indústria nacional: "a TAP, no ano anterior à pandemia, comprou 1300 milhões de euros a mais de 1000 empresas nacionais", disse.

Se a TAP desaparecesse, "os mil milhões deixariam de existir porque deixariam de ser exportações de uma empresa portuguesa e os bilhetes que são comprados por nacionais à TAP passariam a ser importações", considerou.

"Não se pode dizer que uma empresa que volta a ter um número de aviões superior ao segundo melhor ano da empresa" seja "uma 'tapzinha'", ironizou.

Humberto Pedrosa deixa de ser acionista

O secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, disse que o acionista privado da TAP SGPS, Humberto Pedrosa, deixará de ter uma participação na TAP SA, uma vez que a companhia de bandeira passará a ser integralmente pública.

"O acionista privado é e continua a ser, como resultado desta operação, acionista privado da TAP SGPS, que tem um conjunto de outros ativos, mas não a TAP SA", disse Miguel Cruz aos jornalistas no ministério das Infraestruturas, numa conferência de imprensa.

Miguel Cruz esclareceu que "as entradas de capital, dos auxílios de Estado" mencionados "são entradas via TAP SA", algo que resulta numa "separação entre o ativo TAP SA e aquilo que é a 'holding' TAP SGPS".

"O acionista privado, com o qual continuamos a colaborar e a discutir as opções para o futuro, mantém-se exatamente como acionista privado na TAP SGPS, exatamente com a mesma percentagem", disse o governante.

Humberto Pedrosa detém 22,5% da TAP SGPS, sendo os restantes 77,5% detidos pelo Estado.

O secretário de Estado lembrou que a TAP SGPS ainda detém ativos como "a Cateringpor, a Groundforce ou a própria Portugália".

"Mas a TAP SA passa, com estas entradas de capital, a ser exclusivamente pública", deixando de ser detida pela TAP SGPS.

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