Nuno, Joana, Rafael, Clementina... A diferença está nas pessoas

Ana Baptista
Clementina Delgado começou “por brincadeira” a fazer vestidos, não para as bonecas, mas para as festas todas que havia em Miranda do Douro, onde vivia com os pais e três irmãos. Aos nove anos até tirou o primeiro curso de modelação, mas quando veio estudar para o Porto, a escolha recaiu em Engenharia Alimentar. “A parte do vestuário era um hobby que cresceu de tal forma que tive de parar para pensar, ainda mais porque tinha essa tradição na família. O meu trisavô e bisavô eram alfaiates, a minha avó era costureira e a minha mãe foi modista. Estraguei-lhe a máquina de costura imensas vezes e, naquela altura, a máquina tinha de ir para o Porto para ser reparada e demorava um mês. Mas a minha mãe já me perdoou”, diz, rindo. Até porque Clementina abraçou a profissão de modista, até em projetos fora do comum como a confeção dos fatos de papel crepe do cortejo de São Bartolomeu, o santo padroeiro da Foz, um dos oito bairros felizes que o Expresso visitou o ano passado. “Não moro na Foz, mas há seis anos que faço os fatos e que participo no cortejo”, conta. Por isso é que, é com tristeza na voz que diz que este ano, por razões profissionais, não vai poder fazer os fatos, apenas participar no desfile que acontece a 15 de agosto. “Este é o meu projeto de eleição desde que sou modista, há 28 anos”, confessa.
Pessoas como Clementina, que abraçam as tradições dos bairros que não são a sua origem, foi do que mais encontrámos na viagem pelos bairros felizes de Portugal e, por isso, será em pessoas felizes que vamos centrar a viagem que agora começa.
Pessoas como Nuno Henriques, que nasceu em Santarém mas foi nos Canaviais, em Évora, que encontrou o bem-estar há já mais de 20 anos. Ou como Joana, que, há três anos, se mudou de Lisboa para uma pequena quinta em Videmonte, uma aldeia a 20 minutos da Guarda, conhecida pela abundância de água e pelo pão.
Nenhum deles se arrepende da mudança. Pelo contrário. “Mesmo com a seca, o nosso furo nunca deixou de ter água. Só prova que foi uma boa decisão ter vindo” diz Joana. Aliás, neste cerca de um ano que passou desde que estivemos em Videmonte, aconteceu muita coisa. Os passadiços do Mondego abriram no verão de 2022... “De repente, temos a junta de freguesia a pensar em estacionamento.” E, “na quinta, tenho, finalmente, eletricidade e um frigorífico, e agora arranjámos três burros e estamos a pensar fazer passeios com eles. Além disso, comecei em setembro o mestrado de design multimédia na Covilhã e continuo a trabalhar no café”, conta, rindo.
Já Nuno, mantém-se como presidente da Casa do Povo, onde, até à passagem de ano, tem tudo reservado para as inúmeras festas tradicionais da freguesia, para festas de aniversário, casamentos e batizados. Não fosse Canaviais o bairro sempre em festa. “O nosso espírito de comunidade é bonito de se ver. Em maio, o Grupo de Cantares ficou em terceiro lugar num concurso da RTP e quando chegaram foi uma festa. Até o pessoal da Ucrânia e da Moldávia que mora aqui veio para a rua”, descreve, quase emocionado.
Em Rabo de Peixe também mudou muita coisa. Mas só nas conversas. “Esta série [‘Rabo de Peixe’] está a polarizar as opiniões. Se não gostas és mal-agradecido, se gostas é cool. Enquanto rabo-peixense não me ofendi. Aquilo não é Rabo de Peixe. É ficção”, nota Rafael Pereira. Nascido e criado naquele que é, agora, o bairro mais falado dos Açores, por causa da série da Netflix, é também um dos mentores do podcast de entrevistas “É de Ardê”, por onde já passaram José Pacheco, deputado do Chega, ou o comediante António Raminhos. Apesar de já terem mais de sete mil seguidores no Facebook, ainda procuram algo que os faça “explodir na internet”, mas optaram por não entrevistar ninguém da série. “Há muita polarização e não sabia o que ia sair dali”, remata.
O projeto
O Bairro Feliz é uma iniciativa do Pingo Doce, a que o Expresso se associa, e que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida nos bairros. Para isso é lançado um desafio onde entidades locais públicas ou privadas (associações, IPSS, fundações, cooperativas) ou grupos de vizinhos até cinco pessoas inscrevem projetos “que promovam um impacto positivo” nos seus bairros.
As ideias
Enquadram-se em seis áreas: ambiente; apoio animal; apoio social e cidadania; cultura, património, turismo e lazer; educação; e saúde, bem-estar e desporto. São analisadas por um painel de jurados, que faz uma primeira seleção, e depois levadas a votação popular nas lojas.
O prémio
Cada vencedor ganha até €1000 para desenvolver o projeto.
Os prazos
As candidaturas estão a decorrer até 4 de julho. Serão avaliadas de 5 de julho a 9 de outubro e votadas nas lojas de 10 de outubro a 25 de novembro, dia em que são também anunciados os vencedores.
Saiba mais
Em pingodoce.pt/bairrofeliz. E acompanhe no Expresso e na SIC.
Pessoas mais felizes
No primeiro ano, procurámos ideias para tornar os bairros mais felizes. No segundo, os bairros mais felizes. Agora procuramos as pessoas mais felizes com os seus bairros. Pelo terceiro ano consecutivo, o Expresso associa-se ao projeto Bairro Feliz — um desafio lançado pelo Pingo Doce a todos os bairros, a todos os vizinhos, para descobrirem e apostarem em novas ideias. Acompanhe a nossa viagem ao longo dos próximos meses por todos os distritos do país. No online e nas páginas do Expresso.
Textos originalmente publicados no Expresso de 9 de junho de 2023
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