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Progressos na medicina, reforço dos direitos humanos e mais proteção do ambiente: 23 notícias positivas que ficam de 2023

Manifestação climática em Lisboa, 24 de novembro de 2023
Manifestação climática em Lisboa, 24 de novembro de 2023
Anadolu

Num mundo com várias crises, as notícias positivas acabam muitas vezes ofuscadas, despercebidas ou esquecidas. O Expresso reuniu 23 histórias positivas para recordar, com travo mais doce, o ano que agora chega ao fim

Uma nova guerra à porta da Europa, uma crise política inesperada e novos recordes alarmantes nas temperaturas do planeta. Quando fazemos o balanço de 2023, é provável que as histórias menos positivas sejam as mais fáceis de lembrar.

Mas o ano não se fez só de eventos negativos e - como sugere um estudo da Universidade de Essex publicado em maio - reportar sobre o que acontece de bom é importante para ajudar a atenuar os efeitos das más notícias.

Por isso, o Expresso volta este ano a publicar uma lista de 23 notícias positivas para recordar o ano de 2023.

1.

Fim oficial da pandemia

Mais de três anos depois da Covid-19 ter entrado para o léxico mundial, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou a 5 de maio que o coronavírus deixou de ser uma emergência global.

Oficialmente, chegou assim ao fim a pandemia que, segundo os dados mais recentes (17 de dezembro), infectou mais de 772 milhões de pessoas em todo o mundo, matando perto de sete milhões. Em Portugal, o vírus infetou mais de metade da população (5.5 milhões) e vitimou 26 mil pessoas.

2.

Excedente orçamental

O Banco de Portugal admite que o Estado poderá fechar 2023 com um excedente orçamental de 1,1% do PIB. A concretizar-se esta previsão é apenas a segunda vez que tal acontece desde que o país vive em democracia.

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, já recomendou cautela na utilização desta folga orçamental. O Orçamento de Estado prevê a criação de um fundo para financiar futuros investimentos, mas não há consenso sobre a questão.

3.

Sucesso da semana de quatro dias

2023 foi também o ano em que avançaram os projetos-piloto para testar a semana de quatro dias. Em Portugal, foram 39 as empresas a participar, abrangendo mil trabalhadores.

Feitas as contas, a esmagadora maioria das empresas deu nota positiva à experiência. A reorganização do trabalho permitiu manter os níveis de produção com o mesmo número de trabalhadores, mas usando menos tempo. Já os trabalhadores reportaram sentir-se mais criativos e produtivos, assim como menos cansados e ansiosos.

4.

Um reforço dos direitos humanos e LGBT em Portugal

Já na reta final do ano, a Assembleia da República passou uma nova lei que garante o direito à autodeterminação da identidade de género nas escolas.

O parlamento aprovou também uma lei que proíbe “quaisquer práticas destinadas à conversão forçada da orientação sexual, identidade ou expressão de género”. As terapias de conversão estão igualmente na mira da União Europeia. Em novembro, um relatório do Parlamento Europeu defendeu que estas práticas devem ser totalmente banidas do espaço comunitário.

5.

Igreja Católica mostra abertura à comunidade LGBT

Logo no início do ano, o Papa Francisco disse numa entrevista que as leis que criminalizam a homossexualidade são “injustas”. "Ser homossexual não é um crime (...), mas é um pecado", defendeu. Uma declaração da Igreja Católica neste sentido já era esperada desde 2019 e é um progresso assinalável face a 2008 (quando o Vaticano recusou assinar uma declaração da ONU que apelava à descriminalização da homossexualidade).

O ano termina com o sumo pontífice a autorizar a bênção a relações entre pessoas do mesmo sexo. A posição foi “mais do que temiam alguns e menos do que esperavam outros”, como escreve o correspondente do Expresso em Roma.

6.

Progressos para a igualdade de género

Em 2023 voltaram a ser dados passos em todo o mundo no combate à desigualdade de género e para salvaguardar os direitos das mulheres:

  • A Austrália aprovou uma lei de transparência sobre desigualdade salarial;
  • Espanha aprovou a criação da licença menstrual e passou a permitir o aborto aos 16 anos sem autorização parental;
  • Índia criou uma quota que reserva 33% dos assentos parlamentares para mulheres;
  • A primeira-ministra da Islândia juntou-se à greve das mulheres contra as desigualdades;
  • O México descriminalizou o aborto;
  • A África do Sul avançou com lei para se tornar o primeiro país a ter licença parental totalmente partilhada.

7.

Mais acesso ao ensino para raparigas

Segundo a UNICEF, há atualmente mais 50 milhões de raparigas inscritas na escola do que em 2015. Apesar deste progresso, a ONU alerta que a África Subsaariana e o Afeganistão são áreas de particular preocupação para a exclusão das raparigas e jovens mulheres da educação.

Isto quando 16% das crianças e jovens de todo o mundo ainda não vão à escola.

8.

Uma mudança de paradigma no futebol feminino

2023 fica também para a história como o ano do futebol feminino. Com quase dois milhões de adeptos nos estádios da Austrália e Nova Zelândia, este Mundial bateu um recorde de pública. Em média, cada jogo teve 26 mil pessoas nas bancadas.

Para Portugal, esta foi a estreia na competição mais importante da modalidade. Telma Encarnação marcou o primeiro golo da seleção nacional nesta competição.

Gualter Fatia/Getty

No final, Espanha saiu vitoriosa. A celebração ficou marcada pela polémica em que o presidente da federação espanhola beijou uma das jogadoras. A controvérsia arrastou-se durante meses, mas Luis Rubiales acabou afastado da modalidade por três anos.

Na Europa, a explosão mediática da modalidade trouxe mais investimento. A UEFA vai mesmo abrir uma segunda competição de clubes e expandir a Champions para incluir mais equipas.

9.

Mais proteção para os oceanos

Depois de quase duas décadas de negociações, o mundo alcançou finalmente um “acordo histórico” para proteger os oceanos. O Tratado do Mar Alto foi adotado pelos 193 estados-membros das Nações Unidas e cria uma “onda comum de conservação e sustentabilidade no alto mar, para além das fronteiras nacionais – cobrindo dois terços dos oceanos do planeta”.

Entre os objetivos do documento, que é juridicamente vinculativo, consta a proteção de 30% dos oceanos até 2030. O governo português foi mais longe e decidiu antecipar esta meta para 2026. No Algarve, foi criada uma nova Área Marinha Protegida (Pedra do Valado), a primeira aprovada neste século.

Em julho, Portugal juntou-se também ao número crescente de países que pedem uma “pausa precaucionária à mineração em mar profundo” até que haja conhecimento científico suficiente para perceber os riscos desta prática. Isto quando os Açores avançaram com uma moratória que proíbe este tipo de exploração na região até 2050.

10.

Novo folgo no combate à desflorestação

Em terra, entrou em vigor a Lei Europeia da Desflorestação. Como explica o Parlamento Europeu, “a nova legislação obriga [a partir de 2025] as empresas a garantir que os produtos vendidos na UE não conduziram à desflorestação nem à degradação florestal, para defender o clima e a biodiversidade.

11.

Recuperação de espécies ameaçadas

Apesar da “Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas” do IUCN revelar que há mais de 44 mil animais em risco, 2023 foi também o ano da recuperação de várias espécies. É o caso do Onyx (dado como “extinto” no estado selvagem mas agora reintroduzida com sucesso no Chade) e da baleia azul (que foram novamente encontradas no Oceano Índico depois de terem sido dizimadas pela caça), entre outros.

12.

Mais passos para a neutralidade carbónica

No combate às alterações climáticas, o ano fica marcado pelos passos “históricos” dados na Cimeira do Clima da ONU (COP28). Reunidos no Dubai, os países estabeleceram um Fundo de Perdas e Danos. E, pela primeira vez, o texto final da Cimeira do Clima da ONU incluiu uma menção inédita a uma “uma transição para o abandono” dos combustíveis fósseis.

Embora as alterações climáticas continuem a inspirar muitos alertas, estes não foram os únicos sinais positivos, nomeadamente na redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE):

  • A Califórnia passou uma lei que passa a exigir que grandes empresas (como a Exxon, Apple, Disney e outras gigantes) divulguem informações sobre as suas emissões de carbono;
  • O Equador votou contra exploração de petróleo na Amazónia em referendo;
  • Também em referendo, a Suíça passou uma lei que estipula a neutralidade carbónica para 2050.

13.

Uma crise ambiental resolvida com sucesso

Fruto dos esforços para cortar as emissões de químicos com efeitos prejudiciais, a ONU prevê que “se as atuais políticas permanecerem em vigor, a camada de ozono deverá recuperar para os valores de 1980 (antes do aparecimento do buraco na camada de ozono) por volta de 2066 sobre a Antártida, até 2045 sobre o Ártico e até 2040 para o resto do mundo”.

A recuperação trará também um impacto positivo na mitigação das alterações climáticas, evitando um aquecimento adicional de 0.5ºC.

14.

Bactérias que decompõem plástico

Cientistas da Universidade de Edimburgo desenvolveram uma bactéria geneticamente modificada que se alimenta de plástico, transformando-o numa matéria-prima que pode ser utilizada no fabrico de outros produtos. O estudo divulgado na ACS Central Science apresenta a descoberta como uma possível solução para o problema das toneladas de resíduos de plástico que todos os anos acabam em aterros e no mar

15.

Progressos no tratamento do cancro e Alzheimer

O ano fica também marcado por vários avanços na medicina. No tratamento do cancro do colo do útero, por exemplo, os cientistas alcançaram o maior desenvolvimento dos últimos 20 anos. Os resultados dos ensaios clínicos mostram que a utilização de medicamentos já disponíveis e baratos antes da radioterapia traduziu-se numa redução de 35% na taxa de morte e de reincidência da doença.

Já nos EUA foi também aprovado o primeiro medicamento que desacelera os sintomas da Alzheimer. A avaliação da Agência Europeia de Medicamentos é esperada no início do próximo ano.

16.

A primeira vacina contra a malária chegou a África

Por outro lado, a Organização Mundial de Saúde deu luz verde à primeira vacina contra a malária, uma das doenças mais mortíferas em África. A vacina, que é vista como “um grande avanço para melhorar a saúde infantil e a sobrevivência das crianças”, começou a ser distribuída em 12 países africanos, num total de 18 milhões de doses administradas a partir de 2024.

A esperança é de que se consiga “prevenir dezenas de milhares de mortes futuras a cada ano”. E a OMS já pré-qualificou uma segunda vacina.

17.

A campanha na internet que tornou um antibiótico mais acessível

Tudo começou com um vídeo. Corria o mês de julho quando o autor e vlogger John Green publicou no seu canal de YouTube um apelo. “Raiva Mal Contida: Uma Carta Aberta à Johnson & Johnson”, atualmente com 1.4 milhões de visualizações, foi o ponto de partida para uma campanha viral que quis pressionar a multinacional a não renovar a patente do Sirturo, que manteria este medicamento contra a tuberculose inacessível por mais quatro anos.

A comunidade online respondeu ao apelo, partilhando milhares de publicações nas redes sociais sob a #PatientsNotPatents (em português, “Pacientes Não Patentes). O tema dominou as tendências no Twitter durante uma semana, até que a Johnson & Johnson acabou por anunciar uma parceria com a ONG suíça Stop TB para distribuir uma versão genérica do medicamento em países de baixo e médio rendimento.

18.

O transplante que nos aproxima da cura da cegueira

Pela primeira vez, uma equipa de médicos de Nova Iorque conseguiu transplantar um olho inteiro para um paciente de 46 anos anos. Apesar de ainda não ser certo se o homem recuperará a visão, o órgão "demonstrou sinais extraordinários de saúde”.

Independentemente do resultado, o procedimento foi uma oportunidade única para estudar o olho humano e é vista como um passo importante na procura por uma cura para a cegueira.

19.

A explosão da Inteligência Artificial

Não é um fenómeno novo, mas 2023 foi o ano em que a Inteligência Artificial deu o salto para o grande público que a transformou rapidamente na próxima grande tendência tecnológica. Com apenas um ano de vida, o ChatGPT é um exemplo disso mesmo. A startup está avaliada em 80 mil milhões de dólares e já superou a marca dos 100 milhões de utilizadores semanais.

Mas a “idade de ouro” da IA vai muito além da ferramenta de bolso pronta a responder a todas as nossas perguntas. As possibilidades são infinitas e podem ter impactos muito concretos nas nossas vidas. No campo da medicina, por exemplo, a inteligência artificial já consegue identificar cancros com precisão e ajudou a encontrar um antibiótico para uma superbactéria.

20.

Eleições na Polónia e uma esperança para a UE

A 15 de outubro, a Polónia foi a votos. O resultado foi uma geringonça de três partidos que retornou Donald Tusk ao poder e pôs fim a oito anos de governo conservador de direita. A viragem ao centro e a favor da União Europeia foi aplaudida como um sinal de esperança por toda a Europa, contrariando a ideia de que a Europa Central está a tornar-se irremediavelmente mais iliberal.

21.

Pobreza mundial volta a cair

Há várias décadas que a taxa de pobreza internacional tem vindo a cair continuamente. A crise pandémica inverteu esta tendência durante três anos, mas 2023 marca o ano em que, globalmente, o mundo regressou aos valores pré-pandemia.

Ainda assim, o Banco Mundial estima que 691 milhões de pessoas vivem atualmente em pobreza extrema - ou seja, 8,6% da população comparado com 9,74% em 2020. E alerta que as taxas globais escondem profundas clivagens entre países, com o Médio Oriente, África (Norte e Subsaariana) e Sul da Ásia a ver pouca ou nenhuma melhorias. “Erradicar a pobreza extrema globalmente até 2030 [objetivo da ONU] permanece improvável sem uma atenção adicional a estes países”, alertam os especialistas.

22.

A greve que parou Hollywood

A greve dos atores e argumentistas congelou a máquina de Hollywood durante seis meses, causando centenas de milhares de dólares em prejuízos para os estúdios e adiando inúmeras estreias.

Os efeitos vão continuar a sentir-se no início do próximo ano, agora que a indústria pôs o pé no acelerador para retomar as produções. Mas para os mais de 11 mil argumentistas e cerca de 15 mil atores, a greve - a primeira desde os anos 1960 - trouxe melhorias significativas, nomeadamente assegurando pagamentos residuais pela exibição dos seus conteúdos em plataformas de streaming e garantias relativamente à utilização de inteligência artificial.

23.

Barbenheimer (e o regresso do público aos cinemas)

Foi um dos fenómenos culturais incontornáveis de 2023. A estreia no mesmo dia de dois dos filmes mais antecipados do ano gerou um frenesim mediático em torno de Barbie e Oppenheimer, batendo recordes de bilheteira e consagrando o regresso do público às salas de cinema após os difíceis tempos da pandemia.

Muito se tem escrito sobre os impactos do fenómeno, conhecido nas redes sociais pelo nome combinado “Berbenheimer”. Resta a dúvida se este terá efeitos a longo prazo ou foi apenas um momento de glória numa indústria em crise.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: calmeida@expresso.impresa.pt

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