Sociedade

Recolher obrigatório: uma manifestação pacífica para lá da hora, compras de antecipação e depois o vazio

Recolher obrigatório: uma manifestação pacífica para lá da hora, compras de antecipação e depois o vazio

O recolher obrigatório não impediu que algumas centenas de pessoas – profissionais e empresários da restauração — se continuassem a manifestar na praça D. Pedro IV (Rossio), em Lisboa, sem qualquer indício de confrontos com as forças de segurança. Mas depressa Lisboa - e os restantes 190 concelhos com risco elevado de contágio - mergulhou no vazio.

Esta é a primeira vez que Portugal enfrenta um recolher obrigatório diurno durante o fim de semana, mas as últimas horas antes do confinamento domiciliário marcado para as 13h — previsto nos concelhos em que o risco de contágio é mais elevado — foram de contraste em vários pontos do país. Durante a manhã deste sábado, o Expresso testemunhou várias situações de afluência aos supermercados muito para lá do que é habitual, apesar da chuva que foi caindo de forma intermitente.

Num dos pontos de reportagem, em Moscavide ao início da manhã, registaram-se mesmo filas de clientes a aguardar a entrada nos estabelecimentos comerciais. “Devia ter vindo ontem. Mas não tive tempo”, queixa-se uma cliente que está no final da fila para entrar no Lidl. Mais tarde, a fila havia duplicado de comprimento. Já no centro comercial Vasco da Gama, a afluência ao hipermercado Continente era inferior à registada na sexta-feira.

Em Cascais, houve filas da parte da manhã (também no acesso aos supermercados), mas o encerramento antecipado das lojas decorreu com normalidade. Formaram-se filas de espera para as compras e muita gente foi passear junto ao mar, mesmo com o tempo pouco convidativo. Na praia de Carcavelos centenas de surfistas não quiseram perder a agitação marítima, pelo menos durante a manhã.

RESTAURAÇÃO, ENTRE O DRAMA E A INOVAÇÃO

A norte, o Expresso acompanhou a implementação de uma medida da Câmara Municipal de Matosinhos, que transformou a central de táxis em central de reservas de comida. Ainda a hora de almoço estava longe de chegar e os pedidos já se acumulavam. A adesão à medida da autarquia para apoiar a restauração local foi visível. Mas a situação da restauração parece dramática um pouco por todo o país, percetível não só pelos estabelecimentos fechados como também pelas manifestações do setor.

Em Lisboa, e depois dos protestos na Invicta que terminaram em confrontos com a Polícia, as manifestações deste sábado contra as restrições impostas pelo Governo quiseram ser "pacíficas e apartidárias" e se houve quem gritasse pela demissão de Costa, Marta Temido e Graça Freitas, a maioria das intervenções foi mesmo um grito de socorro. "Estamos a morrer", dizem os representantes da restauração, hotelaria, turismo e cultura. E foram às dezenas os "deixem-nos trabalhar!", que não se ouviam desde que Cavaco deixou o Governo do País.

No Parque das Nações, na capital mas longe da agitação de manifestantes do Rossio, o cenário é de desolação. Houve estabelecimentos que não chegaram a abrir e outros que optaram pela abertura mas que não tiveram quaisquer clientes. Este foi o dia em que até os icónicos teleféricos, herdados da Expo 98, pararam.

As queixas repetem-se na zona do Campo de Ourique, uma das localizações premium da capital, onde os hábitos de consumo se alteraram por conta da pandemia mas cujo drama agora se agravou. “As pessoas vinham almoçar ao fim de semana em família, ficavam pela tarde, juntavam-se amigos, perdemos tudo isso. E perdemos também as reuniões de fim da tarde”, explica um empresário em declarações ao Expresso. Em Campolide, a SIC acompanhou os almoços antecipados de um restaurante a enfrentar quebras superiores ao normal.

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Desde a hora de almoço que apenas um grupo reduzido de estabelecimentos pode manter-se aberto. À noite, o cenário é de verdadeiras cidades-fantasma. O novo confinamento está a travar a recuperação e os indicadores sinalizam uma nova quebra da atividade: os economistas apontam para uma queda do PIB que pode chegar a 2,5% nos últimos três meses do ano.

GOVERNO RECONHECE DUREZA

Este sábado, o primeiro-ministro reconheceu que este e o próximo fim de semana vão ser "muito duros para muitas atividades económicas, para a restauração, para o comércio, que vão ter prejuízos grandes". Na mesma intervenção, António Costa recordou o motivo que levou ao decretar destas medidas mais musculadas. Para o chefe de governo, está em causa não só o controlo da pandemia numa altura crítica enquanto se evita o confinamento geral da primeira vaga.

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