Viva, bem-vindos ao Expresso SER. Hoje vamos falar da exploração de lítio na mina do Barroso. Concorda ou não concorda? Vamos também falar sobre a integração de trabalhadores com deficiência nas empresas. Aqui, obviamente, concordamos todos. E vamos também olhar para os bons exemplos no domínio da sustentabilidade, desde a Universidade de Coimbra que aparece como uma das escolas mais sustentáveis do mundo, ao BPI que aderiu aos Princípios para uma Banca Responsável das Nações Unidas.
Uma informação em primeira-mão
Antes de arrancar, fique a saber que a Altice Arena vai ser palco de um grande evento sobre sustentabilidade organizado pela Global Enabling Sustainability Initiative (GeSi) e que terá mais de 300 speakers nacionais e internacionais que vão discutir a adoção de soluções digitais sustentáveis que permitam cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. O evento vai ter três palcos, um focado na Biodiversidade, outro nas Smart and Sustainable Cities e um terceiro na Educação. A cimeira Digital With Purpose Global Summit vai acontecer ao longo de três dias, entre 27 e 29 de setembro, e conta com o alto patrocínio do Presidente da República. Nos próximos dias o Expresso SER vai publicar uma conversa com Luís Neves, CEO da GeSi, que nos vai explicar tudo o que vai acontecer nos palcos da Altice Arena.
Uma mina a céu aberto
NIMBY é um acrónimo em inglês para a expressão Not In My Back Yard (não no meu quintal, em português). É um termo muito usado para descrever a oposição a projetos que são benéficos para a população como um todo, mas que têm um impacto local devastador, sobretudo a nível do ambiente. Há vários exemplos desse fenómeno.
Por exemplo, a coincineração na cimenteira de Souselas provocou uma grande contestação local contra a queima de resíduos industriais perigosos. Mais recentemente, Moita e Seixal opuseram-se à construção do aeroporto no Montijo, sendo que neste caso a lei (entretanto mudada) até dava poder de veto às autarquias locais. Agora estamos a assistir a um fenómeno semelhante com a exploração de lítio na mina do Barroso, no concelho de Boticas, distrito de Vila Real. Estamos a falar de uma mina que prevê uma exploração a céu aberto, com uma duração estimada de 17 anos, e uma área de concessão prevista de 593 hectares.
Depois de em 2022 este projeto da empresa britânica Savannah ter recebido um parecer "não favorável", na semana passada a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) deu ok à exploração das minas, apesar de ter imposto alguns remédios. Vamos colocar na balança os argumentos de um lado e de outro:
1. O Governo argumenta, e com razão, que a fileira do lítio vai ter um impacto relevante na economia. Só o projeto de Boticas prevê a produção de aproximadamente 200 mil toneladas de concentrado de espodumena por ano. Isso permitirá uma produção de lítio suficiente para o fabrico de meio milhão de baterias para carros elétricos por ano. Carros elétricos são bons para o ambiente.
2. A população local argumenta, e com razão, que estas minas a céu aberto terão um impacto ambiental muito grande na região e é a própria APA que reconhece que este projeto pode comprometer a classificação de Património Agrícola Mundial do Barroso.
A partilha dos ganhos económicos com a população local (por exemplo, com a construção de uma estrada de ligação à A24), a limitação à remoção de vegetação em alguns meses do ano e o compromisso de não captação de água no rio Covas ajudam a amenizar o impacto das minas. Mas convenhamos que se também morássemos em Covas do Barroso, Romainho e Muro e tivéssemos uma mina a céu aberto próxima da nossa aldeia, mesmo ao pé do nosso quintal, também diríamos a esta empresa britânica, em bom inglês, Not In My Back Yard.
Esta "espécie rara sobre rodas" pode ajudar a sua empresa a integrar pessoas com deficiência
Catarina Oliveira (na foto, em baixo) anda pelo país, de cadeira de rodas, a dar palestras e formação sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. “Durante 27 anos fui uma pessoa sem deficiência e tornei-me numa pessoa com deficiência motora há sete anos. Percebi então que o mundo, seja a nível de trabalho, seja a nível pessoal, começou a encarar-me como uma espécie rara sobre rodas”. O Expresso Ser assistiu a um webinar desta consultora que nos apresentou um autêntico compêndio sobre as barreiras que estas pessoas enfrentam e a forma como as empresas as podem derrubar.
1. Que barreiras enfrentam? “Grande parte dos problemas de viver com uma deficiência não é inerente à deficiência, é inerente às barreiras que temos constantemente de ultrapassar e que estão à nossa volta”, explica a consultora. E que barreiras são essas? A discriminação, o capacitismo, a infantilização, a comunicação e, claro está, as barreiras físicas.
2. O que podem fazer as empresas? Para acolher trabalhadores com deficiência é necessário que a sua empresa faça adaptações razoáveis, dar formação ao staff, ouvir os trabalhadores com deficiência e não esquecer os ensinamentos da pandemia sobre modelos de trabalho híbrido, flexibilidade no trabalho e recrutamento virtual. E já agora, porque não ter alguém na administração com deficiência?
3. Que benefícios trazem. Com a contratação e integração de pessoas com deficiência “beneficiamos todos, não é um ato de caridade e benfeitoria”. Catarina Oliveira elenca vários benefícios desta integração, desde o impacto positivo no consumidor/cliente da empresa, à redução dos conflitos internos. Leia aqui a reportagem completa.
Plástico: limpar, taxar ou proibir?
Nos últimos dias ouvimos falar muito de plástico, cá dentro e lá fora. Cá dentro, foi notícia que o Governo desistiu de proibir a utilização de sacos de plásticos ultraleves (transparentes) para pão, fruta e legumes e, ao invés, decidiu que vão começar a ser pagos nos supermercados, frutarias e outros estabelecimentos. O Governo quer replicar a medida que adotou em 2015 quando se iniciou o pagamento dos sacos leves (não os ultraleves) e que praticamente os eliminou das compras dos portugueses.
Lá fora, 169 Estados-membros das Nações Unidas estiveram reunidos em Paris, entre 29 de maio e 2 de junho, a debater a poluição provocada pelos plásticos. Não houve ainda um consenso, apenas o compromisso de elaboração, até novembro, de um draft daquilo que poderá vir a ser o primeiro tratado global para travar a poluição provocada pelos plásticos.
Quem resolveu passar das intenções à prática foi Anne Hidalgo, presidente da Câmara de Paris, que anunciou que vai banir a utilização de plástico descartável nos Jogos Olímpicos de 2024. A Coca-Cola, patrocinadora oficial dos Jogos e uma das empresas que mais produz lixo plástico, vai vender no evento água e refrigerantes a granel, em garrafas reutilizáveis.
SUSTENTÁVEL
Coimbra tem mais encanto se for sustentável
O Times Higher Education Impact é um ranking com 1591 instituições do ensino superior que mais se destacam no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. A Universidade de Coimbra aparece como a mais sustentável em Portugal e a 29ª no mundo.
rePLANT salva florestas com tecnologia
O rePLANT é um projeto liderado pela empresa de papel The Navigator Company e pela associação ForestWISE que se dedica a investigar e a desenvolver tecnologias para a gestão da floresta e prevenção dos incêndios. Carlos Fonseca, Chief Technology Officer do ForestWISE, revelou ao Expresso SER as principais inovações deste laboratório que já vai no terceiro ano de vida.
App do Santander mostra CO2 das nossas compras
O banco liderado por Pedro Castro e Almeida lançou uma nova funcionalidade que permite aos clientes conhecer o nível de poluição provocado pelas compras que fazem. A aplicação do banco também permite compensar essas emissões de CO2 com a compra de créditos de carbono. Um exemplo a seguir.
Três bancos no pacto de sustentabilidade
O BPI aderiu aos Princípios para uma Banca Responsável das Nações Unidas e juntou-se assim ao Millennium bcp e à Caixa Geral de Depósitos. No setor dos seguros, a Fidelidade é a única representante de Portugal neste pacto que obriga o setor financeiro a estar mais alinhado com os ODS e com as metas do Acordo de Paris.
Botton apadrinha “fundo verde”
Land. Assim se chama o novo fundo de investimento imobiliário que tem o empresário Filipe de Botton e mais quatro sócios como promotores, e que visa adquirir terrenos abandonados ou degradados e valorizá-los através da replantação de espécies autóctones e da geração de créditos de carbono. O objetivo agora é levantar até 500 milhões de euros junto de vários tipos de investidores.
Bicicletas Gira gratuitas em Lisboa
Desde esta segunda-feira que os residentes em Lisboa com passe Navegante podem utilizar gratuitamente as bicicletas Gira. Esta gratuitidade já estava disponível para todos os jovens residentes em Lisboa, com mais de 16 e menos de 23 anos, e também para os cidadãos com mais de 65 anos, que já têm este passe gratuito.
Lyreco quer ter 90% de vendas sustentáveis
A Lyreco, grupo europeu que vende material de escritório, anunciou o lançamento da sua nova estratégia de sustentabilidade. A empresa apresentou o seu novo plano até 2026, centrado em três pilares: reduzir o impacto das suas atividades no planeta, capacitar as pessoas e impulsionar o progresso sustentável. A empresa, por exemplo, compromete-se até 2026 a ter 90% do seu volume de negócios proveniente da venda de produtos e serviços sustentáveis.
Expresso revela pilhagem da Amazónia
O Expresso faz parte de um consórcio internacional de investigação jornalística sobre a pilhagem da Amazónia. O Projeto Bruno e Dom é uma investigação colaborativa coordenada pelo Forbidden Stories e que envolveu mais de 50 jornalistas de 16 órgãos de comunicação social, num esforço para continuar o trabalho de Dom Phillips, um jornalista britânico assassinado a 5 de junho de 2022, com o ativista Bruno Pereira, quando estava a preparar um livro sobre como salvar a Amazónia. Veja aqui uma das reportagens.
Comparador de preços para carregar o carro
A ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) passou a disponibilizar aos consumidores uma ferramenta que permite consultar todas as ofertas dos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME). "Os utilizadores dos veículos elétricos poderão saber qual o preço cobrado pelo CEME para carregar o seu veículo na rede de acesso público da mobilidade elétrica". Clique aqui para ver o comparador de preços.
MAIS OU MENOS SUSTENTÁVEL
Dia Mundial do Ambiente. O balanço
Portugal reduziu as suas emissões de CO2 em 35% face a 2005 e cumpriu todas as metas ambientais europeias de energia, mas é o país da União Europeia que mais subiu na produção de resíduos per capita, dos que menos recicla e dos que consome mais recursos naturais. E apesar do avanço na classificação de áreas protegidas, o aumento e efetiva proteção destas áreas ainda marca passo. Estas são algumas das características que resultam do retrato estatístico-ambiental de Portugal, divulgado pela Pordata no Dia Mundial do Ambiente, que se celebrou nesta segunda-feira, 5 de junho.
Podcast. Empresas sobrevivem às alterações climáticas?
Ativos inutilizados, financiamentos mais caros e avaliação de investimentos mais difícil. Todos os negócios vão ser afetados de forma direta ou indireta pelas alterações climáticas. Nuno Fernandes, professor da IESE Business School e autor do livro “Climate Finance”, esteve no podcast “Money Money Money” para falar sobre o impacto das alterações climáticas na vida das empresas.
DHL Express compra aviões menos poluentes
A DHL Express, empresa de correio expresso, encomendou à Jetran nove aviões de carga Boeing 777-200LR a ser convertidos pela Mammoth. A companhia assegura que os novos aviões são mais eficientes em matéria de combustível e permitem reduzir as emissões de CO2 em 18%, quando comparado com os antigos aviões.
Hertz reforça frota com o Polestar 2
A empresa de aluguer de carros Hertz Portugal expandiu a sua frota de viaturas elétricas com 40 Polestar 2, distribuídos pelas lojas localizadas nos Aeroporto de Lisboa, Porto e Faro, bem como na Rua Castilho (Lisboa), Santa Catarina (Porto) e Funchal (Madeira). A empresa garante que quer eletrificar 25% da sua frota até ao final de 2024.
Combustível sustentável para a aviação
O ministro das Infraestruturas, João Galamba, participou na Lisbon Energy Summit e assegurou que “temos um número interessante de projetos para produzir combustíveis sustentáveis para a aviação em Portugal. Queremos pôr o país na linha da frente da produção de SAF [a sigla em inglês para os combustíveis sustentáveis para aviação]”. Em matéria de SAF é já conhecido o projeto de 550 milhões de euros da Navigator para a produção de combustíveis sustentáveis em Portugal. A Galp também pretende investir nesta área e no ano passado firmou uma parceria com a TAP para desenvolver este tipo de solução.
54 praias com água “excelente”
Portugal tem 658 praias, mas em vésperas do início da época balnear, a associação ambientalista Zero revela que apenas 54 têm água verdadeiramente “excelente”. São menos quatro do que as classificadas no ano passado, e das atuais 54 praias “Zero Poluição” apenas uma é fluvial, a da Albufeira de Santa Clara, em Odemira.
Os impostos discriminam as mulheres? Não e sim
É tema do livro “Tributação e Desigualdades de Género e Raça”. Os impostos, quando nascem, são iguais para (quase) todos, mas há fatores socioeconómicos que podem criar discriminações sobre grupos específicos. Um deles é o género — não fazendo as regras fiscais destrinça entre homens e mulheres, ao terem salários mais baixos, menos capacidade de progressão na carreira, mais tempo para atividades familiares e domésticas, e ao enfrentarem preços mais caros quando vão às compras, as mulheres acabam por sofrer discriminações adicionais, via impostos.
INSUSTENTÁVEL
Quem está em risco de burnout nas empresas?
Segundo os resultados de um inquérito divulgado pelo Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis (LPATS), cerca de metade dos trabalhadores estão em elevado risco de burnout, apresentando, cumulativamente, três sintomas de esgotamento, como exaustão, tristeza e irritabilidade. Nas empresas, as pessoas de maior risco de burnout são as lideranças, as que têm contacto com público e as que trabalham por turnos. Se quiser saber mais sobre este tema, oiça aqui o podcast “Que voz é esta?”
Temos meios para tratar das “doenças do clima”?
Entre 2030 e 2050, a mudança do clima vai provocar 250 mil mortes por ano em todo o mundo, e em Portugal “as temperaturas extremas são aquilo que provavelmente trará mais perigosidade às pessoas”. Desde a poluição atmosférica ao aquecimento global, as alterações climáticas impactam tanto a saúde física como mental – e “os serviços e os profissionais não estão preparados” para tratar as “doenças do clima”.
Transportes com mais emissões de gases
Numa análise aos últimos dados disponíveis sobre emissões de gases com efeito de estufa, relativos a 2021 e comunicados por Portugal às Nações Unidas, a Zero lamenta que o setor dos transportes esteja “em contramão”, que as emissões na agricultura estejam “persistentemente altas”, e que as emissões nacionais de gases fluorados (para refrigeração) se mantenham duas vezes mais altas do que os valores europeus.
ACONTECEU
Woman in ESG no Santander
Na semana passada, o Women in ESG encheu uma sala do Santander na Rua da Mesquita onde se falou da letra “S” do ESG (sigla inglesa para ambiente, responsabilidade social e boa governança). O Expresso SER foi ouvir Margarida Couto da direção da GRACE (associação que junta 270 empresas comprometidas com a sustentabilidade) elencar cinco dos grandes desafios que as empresas enfrentam: 1) diversidade nas equipas, 2) integração de pessoas com deficiência, 3) necessidade de fazer o reskilling dos trabalhadores 4) respeitar os direitos humanos, 5) e o impacto que as empresas têm na comunidade.
Sobre o tema do reskilling, Margarida Couto disse que “é um tema dramático” porque há muitas profissões que vão desaparecer no futuro por causa da digitalização e da transição energética, e as empresas precisam converter esses trabalhadores. Citou dados do World Economic Forum para dizer que 50% de todos os trabalhadores vão precisar de reskilling até 2025. E reskilling não é só dar formação, é dar ferramentas ao trabalhador para garantir a sua empregabilidade.
SDR Portugal debateu economia circular
No passado dia 31 de maio, no Museu do Oriente em Lisboa, realizou-se a 2ª Conferência SDR Portugal: Economia Circular e Inovação. Leonardo Mathias, presidente do SDR Portugal, disse que “Portugal não pode continuar a enviar 1,5 mil milhões de embalagens por ano para incineração”.
Lisbon Energy Summit & Exhibition
Promovida pelo Ministério do Ambiente e Ação Climática, a Cimeira e Exposição de Energia de Lisboa reuniu no passado dia 1 de junho ministros da energia, partes interessadas e investidores, e abordou vários temas, desde a segurança energética à descarbonização dos sistemas energéticos. O evento aconteceu no Centro de Exposições e Congressos, da FIL.
Turismo de Portugal distinguiu 170 empresas
O Turismo de Portugal reconheceu mais de 170 empresas dos setores de Alojamento, Parques de Campismo e Autocaravanismo, Restauração, Animação Turística, Agências de Viagens, Operadores Turísticos e Organização de Eventos pelo seu compromisso com a sustentabilidade, no âmbito do Programa Empresas Turismo 360º. De microempresas a grandes organizações, têm em comum o compromisso de adotar uma agenda ESG e analisar os impactos da sua atividade no ambiente e nos sistemas sociais em que operam, enquanto criam valor para todas as partes interessadas.
VAI ACONTECER
BCSD debate ESG na Alfândega do Porto
O Business Council for Sustainable Development (BCSD) Portugal vai organizar a conferência “Empresas com Propósito - Desafios e Caminhos para 2030”, que se realiza no dia 28 de junho, no Centro de Congressos Alfândega do Porto, e que contará com a presença de especialistas nacionais e internacionais com o objetivo de debater o papel do setor privado para alcançar as metas da década em termos de sustentabilidade. Clique aqui para saber mais sobre esta conferência.
Por hoje é tudo, daqui a 15 dias estaremos de volta com mais temas, a aplaudir os bons exemplos e a apontar o dedo às más práticas ESG. Porque não basta parecer, é preciso SER. Se quiser falar connosco mande-nos uma mensagem para expressoser@expresso.impresa.pt.
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