“Queriam muito conversar”: jovens voluntários conhecem “isolamento bastante duro” durante cinco dias com idosos em Vila Nova de Foz Côa
Um grupo de 24 jovens esteve em Vila Nova de Foz Côa para promover atividades com a população mais velha, no âmbito de uma iniciativa da VO.U. – Associação de Voluntariado Universitário. Pode ter sido uma “passagem breve”, mas foi “muito intensa”: contactar de perto com a realidade do isolamento e solidão trouxe “muitas aprendizagens”
Durante cinco dias do final do mês de agosto, o quotidiano de muitos seniores de Vila Nova de Foz Côa foi diferente, tanto para aqueles que estavam em casa como para os que frequentam instituições como lares, centros de dia ou até uma unidade de cuidados continuados: jovens voluntários até aos 30 anos dedicaram a semana a partilhar tempo e a dinamizar atividades com os mais velhos.
O objetivo foi o de ajudar a combater a solidão, que se “faz sentir muito naquela zona do país”, diz ao Expresso a vice-presidente da VO.U. – Associação de Voluntariado Universitário, Inês Esteves. É por isso que a iniciativa VO.U. Mais Longe, organizada anualmente pela associação e que já vai na quinta edição, decorre em regiões do interior – Mogadouro, Fornos de Algodres e Sabrosa já a receberam.
“Conversámos, levámos jogos, por exemplo, cartas, dominó, bingo. Também algumas atividades com plasticina, para a motricidade fina, que é importante. Ou seja, para ‘puxá-los’ cognitivamente e tentar que fossem mais ativos”, conta a responsável sobre os dias em Foz Côa. Muitas vezes, o diálogo era suficiente, fosse nos lares ou na rua, onde bateram porta a porta em várias aldeias. “Íamos conversando com as pessoas, ver se precisavam de ajuda com alguma coisa. Percebemos que queriam muito conversar. As pessoas têm a sua independência, mas sentem-se sozinhas.”
Mafalda Sampaio, uma das jovens que integrou o grupo de 24 voluntários, salienta como se confrontaram com um “isolamento bastante duro” e conseguiram “ganhar perceção de como é viver no interior do país, mais profundo e despovoado”. “Recebemos mais do que aquilo que demos e, apesar de ter sido uma passagem breve, acabou por ser muito intensa”, relata a estudante de 22 anos, acrescentando que “há muitas potencialidades no interior e nas pessoas que o habitam”, que “não podem ser abandonadas nem esquecidas”.
Para a voluntária Beatriz Tavares, tratou-se de uma vivência “muito enriquecedora”. “Foi uma experiência que me ensinou muito, que me fez olhar para a vida e pensar que preciso de aproveitar enquanto cá estou e tenho saúde para isso. Aproveitar também os meus avós, passar mais tempo com eles. E também que devo saber abrandar”, retrata a jovem de 19 anos, que já tinha feito voluntariado com idosos ainda no secundário e que, atualmente, pertence a um dos projetos da VO.U. dedicado a crianças.
Já para Mafalda, este tipo de voluntariado foi uma novidade, mas o balanço é igualmente positivo. “Com o conjunto de atividades que fomos realizando, acabou por haver muito convívio, muita partilha de conhecimentos, de experiências e até muitos conselhos, mais da parte dos idosos para nós, como é óbvio. Isso trouxe muitas aprendizagens.”
No final da semana, o auditório municipal foi palco de uma exposição com fotografias e de uma apresentação com resumos em vídeo sobre o trabalho desenvolvido ao longo dos cinco dias – para a comunidade, houve ainda uma aula de dança. “Sentimos uma alegria enorme. Sinto até que existe um antes e um depois desta experiência. Deixou uma marca muito grande em nós, mas também nas pessoas com as quais contactámos. É muito gratificante”, resume Mafalda.
Desde 2008 que a associação mobiliza e integra estudantes do ensino superior em projetos de solidariedade social e o trabalho com os mais velhos não se fica por aqui: um dos programas promove o acompanhamento de idosos por jovens voluntários, em visitas semanais que podem servir apenas para fazer companhia ou para atividades, de acordo com as necessidades e preferências.