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Itália em pânico com o Covid-19. As democracias estão preparadas para uma epidemia?

Itália em pânico com o Covid-19. As democracias estão preparadas para uma epidemia?

David Dinis

Diretor-adjunto

Bom dia,

parece ter sido num ápice. Depois de fazer cair a autocracia chinesa do seu pedestal, a epidemia atingiu em cheio a Coreia do Sul, depois o Irão, até atingir em cheio a Itália. De sexta-feira para hoje, foi um susto: quatro mortes, 152 infectados, uma dúzia de cidades forçadas ao isolamento, eventos cancelados (incluindo jogos de futebol, o final do maior evento de moda italiano ou o belíssimo carnaval de Veneza), Duomo encerrado, Conselho de Ministros de urgência decretando sanções para quem violar as regras impostas. Se Itália não está em estado de sítio, parece à distância - pelo menos, em estado de pânico, com supermercados já vazios e ordem para limitar casamentos e funerais a familiares próximos - como explicou a Manuela Goucha Soares.

Falando nós de Itália, falamos já de Europa. Em poucas horas, a Áustria decide fechar as ligações ferroviárias ao país vizinho, pouco depois de ouvirmos Marine Le Pen, a líder de extrema-direita francesa, exigir o fecho de todas as fronteiras a sul. O Governo presidido por Macron não foi tão longe, ainda, mas deu sinal de um alerta alerta que se espalha pelos outros países da UE: "A situação está muito volátil", disse o ministro da Saúde francês, citado pela Reuters. "Falei com os meus colegas alemão e italiano e concordámos em ter uma conversa esta semana a nível europeu".

Com o número de casos mundial a passar os 78 mil casos, com as oito mortes no Irão a pôr todos de máscaras (e os vizinhos a fechar fronteiras), o que mais assusta as autoridades é que ninguém sabe, em Itália, qual foi o paciente zero. Se preferir: quem foi o homem ou mulher que começou o contágio rápido, não havendo sinais de que algum dos pacientes tenha vindo da China. “O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde falou de uma janela de oportunidade para controlar a situação de epidemia. O ponto de viragem para que se transforme numa pandemia global parece muito mais perto depois das últimas 24 horas", avisa um especialista no The Guardian.

Por cá, depois de mais de uma dezena de falsos alarmes, o susto recomeçou: há um português infetado a bordo de um cruzeiro no Japão, que se queixa de falta de apoio e de ter passado 24 horas sem comer; e há um novo caso suspeito, vindo de Milão, atualmente internado no hospital de São João. Para além de uma recomendação da Direção-Geral de Saúde, pedindo aos médicos que reportem casos de doentes vindos do Norte de Itália.

Durante o último mês, vimos como uma autocracia não estava preparada para reagir a uma epidemia destas (como mostra este relato de uma quarentena em Shanghai). Nos próximos dias veremos se as democracias estão. E se fosse por cá, estaríamos?

Lá por fora, devia falar-se disto também: na Síria, há mais um milhão de refugiados na fronteira em apenas dois meses, fruto da ofensiva de Assad contra um dos últimos bastiões da oposição. Entre eles, há sobretudo mulheres e crianças, que morrem de frio em Idlib para fugir às bombas de Assad e Putin.

Na América fala-se de Sanders. Com a vitória nas primárias do Nevada, acabaram as dúvidas: o mais progressista dos candidatos à esquerda ganhou entre os hispânicos como entre os "nativos", ganhou entre os mais jovens, mas também noutras faixas etárias, pelo que se tornou no mais forte candidato à nomeação. Os adversários subiram o tom contra ele, diz o New York Times. E Trump já o tem na mira: "Parece que o Louco Bernie está a ir muito bem".

Por aqui, a Venezuela deixa marcas na relação entre Portugal e Espanha. Este fim de semana descobrimos que o novo Governo de Sanchéz (com Podemos a bordo) ocultou a Lisboa que a vice-presidente da Venezuela cruzou o espaço aéreo português. Isto depois de sabermos que as nossas secretas acompanharam o voo de Guaidó para Caracas. E com o Governo português a garantir que não houve falhas de segurança nesse voo que conduziu Guiadó ao seu país, via TAP. Esta relação com ditaduras, um dia, vai abaixo.

E o Montijo? Vai abaixo? Este sábado, o Expresso contava como o Governo está a pedir ao PSD que salve o novo aeroporto do Montijo, mudando uma lei para tirar poder de veto aos autarcas que são contra - uma espécie de lei que se muda à medida, como se faz noutro tipo de estados. O PSD decidiu não reagir - mas parece que o modo de reagir do PSD agora é vigiado, como se faz também noutro tipo de estados. Estranho país, este.

Pelo meio, um secretário de Estado está no centro da polémica. Nuno Artur Silva vendeu a sua empresa ao sobrinho, para poder ir para o Governo. Mas, se nega que ainda tenha a haver dividendos dela, não nega que o contrato de saída é diferente consoante os lucros que a empresa tenha tido em 2019. Eu, confesso, ainda não percebi o esclarecimento, mas avalie por si.

E o FC Porto voltou à liderança (por agora). Por cá, ainda sem jogos cancelados, e desta vez sem urros nos estádios, falou-se de futebol. Com o Sporting a vencer por mérito de um jovem jogador que parece despontar; e com os dragões a voltar a uma liderança que pensaram impossível até há dias, fruto de um golo incrível de Alex Telles. Hoje joga o Benfica, com aquela dúvida existencial: uma equipa em perda consegue recuperar?

Ainda na bola, registe isto: se o treinador do Sporting desdiz de Bruno Fernandes, Bruno mostra em Inglaterra como se faz.

Já agora uma informação útil para as conversas de café: afinal, quem já passou à final do Festival da Canção?

O QUE ESTOU A LER

Como estamos numa espécie de pausa de carnaval, deixo não um, mas três livros recomendados, que me chagaram às mãos nestes dias. O primeiro é sobre a China de hoje, um país onde os cidadãos já mal podem atravessar a rua sem que o partido fique a saber, um país que - uma geração depois de Tiananmen - usa as poderosas novas tecnologias para criar o estado de vigilância mais apertado que o mundo já viu. Chama-se "We Have Been Harmonized" e traz um aviso na capa: Hoje a China, amanhã o mundo?".

No mesmo sentido, quero recomendar-lhe "The Age of Surveillance Capitalism", que nos fala precisamente da luta pelo nosso futuro em tempos de uma nova fronteira de poder. O livro abre com uma definição que pode ser útil para o apresentar: "Surveillance Capitalism: uma nova ordem económica que trata a experiência humana como material livre para práticas escondidas de extorsão e vendas; lógica económica parasita em que a produção de bens e serviços está subordinada à nova arquitetura global de alteração dos comportamentos". O livro foi recomendado pelo The Times como o "Das Kapital para a era digital", mas - para que não restem dúvidas - também é recomendado com um dos livros do ano pelo Financial Times e pelo ex-Presidente Obama.

Por fim, falo-lhe ainda de um livro feito à medida dos dias de hoje. Chama-se "Nervous States", fala-nos de como os ataques terroristas, as ameaças de crise económica ou a ameaças de conflitos nos colocaram a todos no mundo à beira de um permanente estado de nervos.

Dito isto, as leituras servem para estar mais informado, não para ficar mais preocupado. É o que se espera que a informação nos dê: outra serenidade, mais informada.

Vá seguindo a informação do dia por aqui,
até amanhã!

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ddinis@expresso.impresa.pt

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