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Sem moderação

Sem moderação

Rita Ferreira

Editora de Sociedade

Moderado

adjetivo

  1. que se moderou; regulado, regrado, atenuado
  2. que revela moderação; comedido, refletido, prudente
  3. que não é extremo; equilibrado, razoável, regular

*definição do dicionário de Português da Porto Editora


Estamos ainda a uns meses de eleger a palavra do ano de 2024, mas já podemos equacionar colocar “moderado/a” na short list.

Há pelo menos uma semana que a discussão sobre o que é uma renda moderada, ou um valor moderado para se comprar ou vender uma casa em Portugal se faz nos cafés, no telemóvel, na TV, nos jornais, à mesa de jantar. Gerou dezenas de comentários, soundbites e outros tantos bitaites.

O que é razoável para uns, é exorbitante para outros. Afinal, quem pode pagar uma renda de 2300 euros ou comprar uma casa de 648 mil euros, valores que o Governo apelidou de “moderados”? Se calhar, mais do que a maioria pensa; mas menos do que uma minoria acredita.

São os factos, em alturas de demasiados adjetivos, que nos podem e devem valer. E os factos são estes: Portugal é o segundo país mais desigual da OCDE. À nossa frente, em 29 países, só os Estados Unidos da América. O relatório publicado há poucos dias chama-se “Ter e não ter - Como ultrapassar a desigualdade de oportunidades”. E em Portugal muitos são os que têm muito pouco, por comparação com os que muito têm.

Portugal tem o elevador social emperrado e, mesmo chamando a manutenção de vez em quando, invariavelmente acaba como a escadaria do metro da Baixa Chiado, em Lisboa: quando avaria, é sempre para quem quer subir. E a “culpa” desta desigualdade, que se enraiza, está nas circunstâncias herdadas: se se nasceu homem ou mulher, onde se nasceu e, no caso português, quem são, onde vivem e qual o trabalho dos pais.

Como nos explicam a Raquel Albuquerque e a Raquel Moleiro, Portugal pertence a um grupo de países caracterizados pela “alta importância da ocupação de ambos os pais na formação da desigualdade de oportunidades, bem como pela influência de fatores ambientais da infância, em particular a situação de propriedade da casa e o grau de urbanização”.

Nem de propósito, a OCDE destaca que no nosso país, tal como na Bélgica e na Suécia, o facto de “os impostos sobre os rendimentos e a riqueza tenderem a ser progressivos e serem pagos principalmente por famílias menos afetadas pelas circunstâncias desfavoráveis” mitiga esta desigualdade com que se nasce.

Na hora de desenhar políticas, o que se toma por moderado pode fazer, afinal, uma grande diferença.

Outras notícias:

Insatisfação sexual. Dados revelados pela Ordem dos Psicólogos mostram que metade da população portuguesa está “insatisfeita” com a sua vida sexual e uma em cada 7 mulheres já foi vítima de violência sexual. Manual que pretende “sensibilizar e educar a população para a saúde sexual” é lançado esta segunda-feira.

Autárquicas a todo o vapor. Apesar de só amanhã começar oficialmente a campanha eleitoral, os partidos não perdem tempo. Hoje o Expresso foca-se em Castelo Branco, onde todos lutam contra Leopoldo. Hugo Soares ataca o Chega e José Luís Carneiro mostra-se otimista.

Crimes informáticos. Durante o ano de 2024, o Ministério Público recebeu quase quatro mil denúncias relativas a cibercrimes, mantendo-se "a tendência que tem vindo a desenhar-se, de ano para ano" desde 2016. Mas a maioria dos casos abertos acaba sem uma conclusão, seja por falta de provas ou por prescrição dos prazos.

Privatização da TAP. O CEO da Air France/KLM quer ter poder de gestão se comprar a TAP. Benjamin Smith admite que se o grupo não puder tomar decisões comerciais "tem pouco interesse" investir na TAP.

Menos carvão, mais lítio. Em entrevista ao Expresso, Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia, elogia o país por se ter livrado do carvão e apostado nas renováveis. E diz que Portugal não deve apostar na energia nuclear mas sim na extração e refinação de lítio.

Rússia ataca. Na noite de sábado para domingo, um ataque “massivo” da Rússia contra Kiev causou pelo menos quatro mortos e 27 feridos. Na sequência da ofensiva, a Polónia encerrou o espaço aéreo sobre duas cidades devido a “atividade militar não planeada relacionada com a segurança do Estado”.

Moldova europeísta. O partido pró-europeu PAS, da presidente Mai Sandu, venceu as eleições legislativas na Moldova, garantindo uma votação de pelo menos 48%, quando estão contados 95% dos votos, faltando apenas saber se consegue chegar à maioria.

Globos de Ouro. Samuel Úria, Lena d'Água e Plutónio foram os vencedores dos Globos de Ouro na categoria de música, numa cerimónia que distinguiu, ainda, uma jovem atriz de 12 anos e uma peça de teatro inspirada por uma reportagem do Expresso da Joana Pereira Bastos.


Frases

“Houve um momento em que acordei de manhã e disse ‘tens de ser candidato’. E ficou decidido” - António José Seguro no programa Alta Definição

"Porque foi tão ágil o cancelamento da Rússia na Eurovisão e está a ser tão polémico o de Israel? A RTP já devia ter dito alguma coisa" - Samuel Úria no Posto Emissor


Os nossos podcasts:

🥤Expresso da manhã. Paulo Baldaia fala com a jornalista Raquel Albuquerque sobre os perigos para a saúde das bebidas energéticas e da possibilidade da proibição da venda destes produtos a menores

💊O CEO é o limite. Começou a trabalhar cedo para conquistar independência. Vendia enciclopédias, enquanto concluía o 12º ano à noite. Aos 23 anos, Nelson Ferreira Pires já liderava equipas na indústria farmacêutica e aos 37 chegou a diretor-geral da Jaba Recordati em Portugal

🗳️Bom partido. Os políticos não se cansam de fazer campanhas eleitorais, Guilherme Geirinhas não se cansa de conversar com eles sobre tudo menos a campanha eleitoral. A 4ª temporada do Bom Partido regressa a tempo das Autárquicas, e a primeira cidade em foco é Lisboa. Oiça a conversa com João Ferreira

🌴O mundo a seus pés. O Brasil é o quarto país mais perigoso para quem defende o ambiente: 12 ativistas foram assassinados no ano passado, segundo um relatório divulgado este mês. Adriana Ramos, secretária-executiva do Instituto Socioambiental brasileiro, explica por que são tão importantes os povos indígenas na defesa do território


O que ando a ler:

Costumo dizer várias vezes que as notícias, as reportagens, as entrevistas, os jornais que entregamos aos leitores não vêm com disclaimer. O produto que chega é o melhor que conseguimos fazer nas condições em que, quem o recebe, desconhece. Mas, na verdade, não tem de ser sempre assim.

É por isso que é tão importante ler este trabalho do New York Times intitulado“Inside The Times’s Reporting and Judgment Calls on Charlie Kirk’s Assassination”. Quando chegou a primeira informação à redação, os jornalistas do NYT “começaram a debater-se com uma série de questões e decisões”, escreve Patrick Healy.

É ele que modera esta conversa entre Nestor Ramos, o editor do noticiário nacional, Julie Bloom, a responsável dos live blogs e os repórteres Jack Healy e Nicholas Bogel-Burroughs.

Houve muitas decisões para tomar, desde o momento em que se lançou a notícia até ao detalhe das palavras que poderiam ser usadas para descrever Charlie Kirk. Este é um disclaimer que vale a pena.

Aproveite e assine o Expresso; aproveite e junte-lhe o New York Times. Todo o jornalismo livre e independente conta.

Tenha uma boa semana.


Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: rmferreira@expresso.impresa.pt

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