Um “ataque massivo” da Rússia contra Kiev provocou pelo menos quatro mortos e 27 feridos, segundo as autoridades da capital ucraniana. A ofensiva foi descrita “como um dos maiores” bombardeamentos contra a cidade desde o início da invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Numa publicação no Telegram, este domingo de manhã, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que Moscovo lançou cerca de 500 drones e mais de 40 mísseis durante a noite, causando vítimas civis e danos em várias infraestruturas. Entre os alvos estiveram Kiev e as regiões de Zaporíjia, Khmelnytskyi, Sumy, Mykolaiv, Chernihiv e Odessa.
“Instalações civis, uma fábrica de borracha e edifícios residenciais foram atingidos nestes ataques brutais”, disse Zelensky, classificando a ofensiva como “vil”. “Este ataque surgiu como uma espécie de culminar da semana da Assembleia-Geral da ONU, e é assim que a Rússia mostra a sua verdadeira posição. Moscovo quer continuar a lutar e a matar, e merece a maior pressão internacional. Enquanto houver fundos energéticos e uma marinha fantasma, o Kremlin continuará a lucrar com esta guerra e com o terror. Vamos continuar a retaliar para cortar estas fontes de receita e forçar a diplomacia”, acrescentou na publicação citada pelo jornal “The Guardian”. O presidente ucraniano apelou ainda a uma resposta forte dos EUA, da Europa, do G7 e do G20.
Em Zaporíjia, pelo menos 16 pessoas ficaram feridas, incluindo três crianças, segundo as autoridades.
Rússia confirma ofensiva de “larga escala”
Num comunicado citado pelo “The Guardian”, o Ministério da Defesa da Rússia confirmou a ofensiva de “grande escala” lançada contra a Ucrânia, sublinhando que os ataques tiveram como alvo infraestruturas militares. “Na noite passada, as Forças Armadas da Federação Russa realizaram um ataque de grande escala com armas de alta precisão de longo alcance, lançadas por via aérea e marítima, bem como com veículos aéreos não tripulados, contra empresas do complexo militar-industrial ucraniano ao serviço das Forças Armadas da Ucrânia, assim como contra infraestruturas de bases aéreas militares.”
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andrii Sybiha, pronunciou-se sobre os ataques numa publicação na rede social X. “A Rússia lançou mais uma ofensiva aérea massiva contra cidades ucranianas enquanto as pessoas dormiam. Centenas de drones e mísseis destruíram novamente edifícios residenciais e causaram baixas civis”, escreveu, defendendo a necessidade de punir Moscovo: “Putin tem de sentir o risco de continuar esta guerra. Tem de sentir para si próprio, para os bolsos dos seus aliados, para a economia e para o regime. Só isso pode levá-lo a parar esta guerra insensata.”
Polónia em alerta
Na Polónia, caças foram acionados na madrugada de domingo e os sistemas de defesa antiaérea colocados em alerta máximo. Varsóvia fechou também o espaço aéreo nas cidades de Lublin e Rzeszów, numa decisão que, segundo o serviço de monitorização Flightradar24, esteve ligada a “atividade militar não planeada relacionada com a segurança do Estado”. As autoridades polacas explicaram que se tratou de uma medida preventiva para proteger o espaço aéreo e os cidadãos, sobretudo nas zonas próximas da fronteira.
As tensões no flanco leste da NATO têm vindo a aumentar. Na noite de 9 para 10 de setembro, mais de 20 drones russos entraram no espaço aéreo polaco, levando caças da Aliança Atlântica a abater alguns deles. Na semana passada, aEstónia acusou Moscovo de enviar três caças para o seu espaço aéreo e a Roménia esteve perto de abater um drone. Estas violações levaram Varsóvia e Tallinn a solicitar reuniões ao abrigo do artigo 4.º do tratado da NATO, que prevê diálogo sempre que a integridade territorial ou a segurança de um Estado-membro esteja ameaçada.
Drones na Dinamarca
Também a Dinamarca relatou sobrevoos de drones não identificados sobre os seus aeroportos e bases militares. Na noite de sexta-feira, aparelhos foram observados na maior base militar do país, após várias violações do espaço aéreo nos últimos dias.
“Não os abatemos”, disseram as autoridades, que qualificaram a situação como atos de “guerra híbrida”. A intrusão levou ao encerramento temporário do espaço aéreo ao tráfego civil.
Já na quarta-feira, tinham sido detetados drones sobre a Base Aérea de Skrydstrup e o aeroporto de Aalborg, obrigando à suspensão dos voos durante uma hora. Dois dias antes, o aeroporto de Copenhaga tinha sido forçado a fechar durante cerca de quatro horas, afetando cerca de 20 mil passageiros.
As autoridades ainda não identificaram os responsáveis, mas falam num “ator profissional” e num possível “ataque híbrido”, levantando suspeitas de ligação à Rússia. O país está em alerta máximo desde segunda-feira. A primeira-ministra, Mette Frederiksen, avisou que o número de incidentes deste tipo pode aumentar.
Na Alemanha, um “enxame” de aparelhos de origem desconhecida foram avistados na sexta-feira no norte do país, no estado de Schleswig-Holstein. O país anunciou que vai autorizar as Forças Armadas a abater drones em caso de intrusão no seu território.
Na sequência destas incursões, ministros de dez países europeus, incluindo a Ucrânia, reuniram-se esta semana para discutir a criação de “parede de drones”.
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