“Em Angola avisaram-nos de que ia haver um ataque, fugimos para o mato a meio da noite. De manhã estavam umas bazucadas nas janelas de casa”
Começou a trabalhar cedo para conquistar independência. Vendia enciclopédias, enquanto concluía o 12º ano à noite. Aos 23 anos já liderava equipas na indústria farmacêutica e aos 37 chegou a diretor-geral da Jaba Recordati em Portugal. É o líder há mais tempo em funções na empresa a nível mundial e admite que é tempo de passar o testemunho: “certamente virá alguém melhor do que eu”. Nelson Ferreira Pires, é o convidado deste episódio do podcast “O CEO é o limite”
Tem pouca memória de Angola, o país onde nasceu e viveu até aos dois anos, altura em que, em plena revolução de 74, rumou a Portugal com os pais e seis irmãos. Filho de um engenheiro ligado à indústria petrolífera, Nelson Ferreira Pires, CEO da farmacêutica Jaba Recordati, viu a família recomeçar do zero numa pequena casa emprestada com 50 metros quadrados, em Viseu. “Éramos os retornados de Angola. A situação que vivemos moldou muito a minha resiliência, mas deu-me sobretudo outro valor: o da compaixão, a capacidade de entender o problema do outro”, recorda.
Nelson Ferreira Pires começou cedo a trabalhar: “queria independência. Com 18 anos vendia enciclopédias, enquanto fazia o 12º à noite”. Entrou em Direito, mais ou menos ao mesmo tempo que descobriu a indústria farmacêutica, como delegado de informação médica. A licenciatura acabaria por ficar temporariamente suspensa, quando assumiu a sua primeira função de direção. Retomou e concluiu o curso dez anos depois. “Tinha um compromisso com o meu pai de acabar a licenciatura. Interrompi, mas acabei e acho que ele teria ficado orgulhoso”, diz.
Nelson Ferreira Pires, CEO da Jaba Recordati, durante a gravação do podcast "O CEO é o limite"
Matilde Fieschi
Aos 23 anos já liderava equipas, aos 37 viu a sua carreira acelerar, tornando-se um dos mais jovens diretores-gerais de uma farmacêutica em Portugal. É atualmente o diretor-executivo há mais tempo em funções no grupo Recordati a nível mundial. Soma mais de duas décadas na função. E embora sublinhe que continua a encarar cada novo desafio com a mesma paixão de sempre, Nelson Ferreira Pires, admite que já pensa na sucessão. “É altura de ceder o lugar, ao fim de mais de 20 anos de liderança já temos pouco a ensinar ou a acrescentar e, certamente, virá alguém melhor do que eu para o momento em que vivemos”, vinca.
Apesar disso, em maio deste ano assumiu um novo desafio no grupo passando a acumular também a liderança da empresa na Grécia. "Numa multinacional, quando dizemos que não duas vezes, já ninguém nos convida a terceira. Eu recebi vários desafios, mas não queria mudar de país", explica, acrescentando que, no seu caso, o terceiro convite acabou por surgir - a Grécia - permitindo-lhe manter a sua base em Portugal, ainda que com viagens regulares.
No seu modelo de gestão, Nelson Pires defende que a liderança mais impactante é a que se exerce com o coração. Diz que “as empresas têm de estar lá para as pessoas quando elas precisam” e sublinha que para se chegar a líder numa multinacional, é preciso "ganhar credibilidade interna para contestar decisões porque há alturas em que elas são negociáveis e adaptáveis".
Cátia Mateus podcast O CEO é o limite
O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: