Foi aos 9 anos, no primeiro dia da colónia de férias que havia de lhe salvar a vida, que Manuela percebeu finalmente que “não era uma aberração”. Só aí compreendeu que não estava sozinha, que havia outros como ela. Crianças escondidas que viviam com medo, marcadas pela brutalidade da prisão dos pais, arrancadas dos seus braços e forçadas a crescer com o vazio. Até àquele domingo, 23 de julho de 1972, Manuela nunca tinha brincado com outras crianças.
Quando nasceu, os pais viviam na clandestinidade. Francisco Canais Rocha e Rosalina Labaredas, os nomes verdadeiros que a filha só havia de conhecer muitos anos depois, eram funcionários do PCP e começaram a namorar em Moscovo, para onde tinham fugido para escapar à vaga de prisões que se seguiu à campanha de Humberto Delgado. Ao perceber que estava à espera de bebé, o casal decidiu voltar a Portugal, mas o regresso obrigava-os a uma vida na sombra. Tirando o núcleo duro do partido, ninguém podia saber da sua existência.
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