A notícia de que em Fátima estarão cerca de seis mil peregrinos nas comemorações do 13 de outubro surge hoje num clima de muito menor crispação do que aquele que rodeou a realização da Festa do Avante, no início de setembro. E se assim acontece é porque, finalmente, se começa a saber viver com a pandemia do coronavírus.
Neste caso, o plano de contingência adotado pelo Santuário prevê a presença de um fiel por cada oito metros quadrados, numa área total de 48 mil metros quadrados. Um distanciamento semelhante foi aplicado nas praias e na Festa do Avante, onde a DGS permitiu a participação de 16 mil militantes do PCP.
Hoje sabemos que caso a Festa do Avante não se tivesse realizado, sem que se tenha registado surtos, seria pouco provável que a também habitual peregrinação a Fátima nesta altura do ano não teria lugar, ainda que a legislação para festivais e espectáculos em tempo de covid-19 tenha caducado a 30 de setembro.
Para trás ficaram, no entanto, centenas ou milhares de manifestações públicas que – talvez por não terem colocado o dedo no ar como foi feito pelo PCP e pela Igreja – que este ano não se realizaram. Não se trata apenas dos festivais e outros espectáculos meramente musicais, mas sobretudo das inúmeras festas e romarias espalhadas por todo o país com objectivos não exclusivamente lucrativos que foram varridas do mapa pela pandemia. Exemplos há muitos como a Feira de São Mateus, a Ovibeja, Festas do Mar, Fatacil, Festival do Crato…
Falta, agora, retomar na medida do possível outros eventos que implicam necessariamente a presença de público. É o caso dos jogos de futebol que ainda se encontram vedados à indispensável presença de público. Há, contudo, sinais de abertura e de regresso à normalidade possível: os próximos dois jogos da Seleção, a realizarem-se a 7 e 14 de outubro no Estádio de Alvalade têm uma lotação autorizada de 5% e 10%, segundo a Federação Portuguesa de Futebol.
Ainda antes, já neste sábado, terá lugar o primeiro teste com público em jogos de futebol, com a disputa do encontro entre o Santa Clara e o Gil Vicente, nos Açores, em partida da terceira jornada da I Liga. O levantamento gradual das medidas, à semelhança do que já vem sendo feito noutros países, afigura-se como indispensável para evitar o deslaçamento da sociedade a que temos vindo a assistir nos últimos meses.
Neste momento, não se trata apenas de regressar a como era dantes mas sim de evitar a todo o custo as doenças perniciosas que chegaram com a pandemia e que têm sido menosprezadas: o afastamento das crianças das escolas, o enclausuramentos dos idosos, o não cuidar de outras males mas, acima de tudo, a quebra da atividade em inúmeros sectores que inexoravelmente trarão o desemprego, a fome, a ausência de segurança nas ruas, e, por fim, depois das disrupções sanitária, económica e social, a ruptura do tecido político.
OUTRAS NOTÍCIAS
Donald Trump testou positivo e fica de quarentena. O Presidente dos EUA terá testado positivo quanto à covid-19, quando falta pouco mais de um mês para as eleições presidenciais que se realizam a 3 de novembro. O mesmo sucedeu com a sua mulher, Melania Trump. Segundo um post no Twitter do próprio Donald Trump, às seis da manhã desta sexta-feira, os dois iniciarão o processo de recuperação juntos. O anúncio sucedeu depois de Trump ter viajado no avião presidencial com a assessora Hope Hicks, que deu positivo ao teste à doença na quarta-feira à noite. Segue-se também logo após o primeiro debate com o seu adversário, Joe Biden e quando se apresta a começar uma das campanhas eleitorais mais sobreaquecidas da história dos Estados Unidos da América. Horas antes, Donald Trump opôs-se a qualquer mudança nas regras dos debates – ainda estão agendados mais dois – com o candidato democrata: “Por que razão aceitaria isso quando venci facilmente o primeiro?”
A Agência Europeia de Medicamentos iniciou ontem a avaliação da vacina da AstraZeneca, também conhecida como a “vacina de Oxford”. “O início da revisão contínua significa que o comité começou a avaliar o primeiro lote de dados sobre a vacina, que provêm de estudos laboratoriais”, disse o instituto europeu em comunicado, acrescentando que os ensaios clínicos estão já numa fase avançada de ensaios clínicos em larga escala.
33% dos jovens já agrediram nas suas relações de namoro. Segundo um dos autores do estudo, produzido na Universidade de Trás-os-Monte e Alto Douro, as raparigas agridem tanto como os rapazes. O estudo contou com a colaboração de 7139 adolescentes e mostra que, do total de adolescentes que agridem, cerca de 55% são rapazes e 45% são raparigas. Segundo Ricardo Barroso, “os rapazes que agridem nas suas relações de namoro tendem a ser mais agressivos e mais frios emocionalmente. Em termos de comportamento, têm menos capacidade para regular as suas emoções. Devido a estas características psicológicas, há mais propensão para a agressão física.” Já no caso das raparigas, “e tendo em conta que tende a haver mais raiva e hostilidade, e um certo desligamento emocional, é mais comum a violência psicológica”
Depressão Alex está a caminho e traz chuva e vento forte. É provável que grande parte dos portugueses seja obrigado a esquecer os planos para um fim de semana prolongado, devido ao feriado de 5 de outubro, passado prazenteiramente ao ar livre. Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera estaremos perante “um aumento significativo da agitação marítima na costa ocidental, em particular entre o início da manhã de dia 2 e a madrugada de dia 3, em especial a norte do cabo Raso, onde a altura significativa das ondas poderá atingir 4 a 5 metros”.
PAN apoia Ana Gomes. “Fazemo-lo porque é a única candidata progressista, humanista, europeísta e que sente a emergência climática que vivemos. A única candidata que pela sua independência e pela transversalidade das suas ideias é capaz de agregar diferentes campos políticos, ativismos, gerações e diferentes sensibilidades, capaz de levar a eleição a uma segunda volta e de vencer estas eleições”, disse a líder parlamentar do PAN, Inês de Sousa Real, ontem, em conferência de imprensa.
Sporting e Rio Ave eliminados da Liga Europa. A equipa de Alvalade foi copiosamente batida em casa pelo LASK Linz da Áustria, por 1-4. Os acontecimentos precipitaram-se quando, após sofrer o segundo golo, o defesa-central Sebástian Coates foi expulso.
Já o Rio Ave deu bastante mais luta ao histórico Milan AC (sete vezes vencedor da Liga dos Campeões). A equipa de Vila do Conde obrigou os italianos a ir para o prolongamento, após empate a 1-1 no tempo regulamentar. No prolongamento, o Rio Ave esteve a ganhar por 2-1 até ao último minuto, não evitando porém a decisão por grandes penalidades. Seguiu-se uma maratona de 24 penáltis que acabaram por decidir o afastamento da equipa portuguesa.
FRASES
“Limite à circulação na Baixa e Chiado avança no próximo mandato”. Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, em entrevista ao “Jornal de Negócios”
“Nem as chefias nem os trabalhadores da Função Pública estavam preparados para o teletrabalho”. Eugénio Rosa, economista, em entrevista ao jornal “i”
“Decidimos hoje implementar as sanções. É importante fazermos o que decidimos há semanas atrás”. Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, sobre a posição da União Europeia face à Bielorrússia, esta madrugada em declarações aos jornalistas após cimeira em Bruxelas
“A transgressão é muito necessária neste momento em que parece tudo muito conformado”. João Peste, vocalista dos Pop dell’Arte, no Ao Vivo na Redação, da BLITZ
O QUE ANDO A LER
Em 1973, com a ideia de produzir uma biografia de Amália Rodrigues, a editora Arcádia convidou o escritor Manuel da Fonseca a entrevistar longamente a cantora portuguesa. Ela era então conotada com a situação, enquanto Manuel da Fonseca estava pelo reviralho. O certo é que as conversas, que decorreram nas casas de Amália na Rua de São Bento e no Brejão, nunca viram a luz do dia.
A ideia da biografia, ainda que em moldes muito diversos, seria concretizada muito mais tarde. Só em 1987 chegou aos escaparates, com a chancela da Contexto e assinatura de Vítor Pavão dos Santos “Amália. Uma Biografia”, documento decisivo para conhecer a obra de Amália ainda que com algumas lacunas.
Também por isso vale a pena voltar atrás, ao tempo em que a Arcádia seria ocupada pelos seus trabalhadores, após o 25 de Abril. As bobinas onde estavam registadas as entrevistas de Manuel da Fonseca andaram desde então por paradeiro desconhecido. Até que surgem neste ano da graça de 2020, quando se celebra o centenário do nascimento de Amália Rodrigues, numa edição intitulada “Amália Nas Suas Palavras” com selo da Porto Editora e das Edições Nélson de Matos.
Em quase 400 páginas fica bem marcada a distância para a biografia de Pavão dos Santos, mais interessada nos acontecimentos musicais que pontuaram a carreira de Amália. Isso quer dizer que, aqui, Amália abre o coração como não abriu em muitas das entrevistas que concedeu.
Mas também que há um espectáculo chamado Manuel da Fonseca, muito hábil à procura dessa Amália que sempre nos escapou e que, muito provavelmente, continuará a escapar.
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