Uma “silenciosa revolução”: CES prepara três estudos para conhecer “sociedades longevas”
Américo Mendes e Ana Paula Gil no painel sobre economia do cuidado
Filipe Amorim/CES
A longevidade será, provavelmente, “a maior e mais silenciosa revolução das sociedades modernas”, considera o presidente do Conselho Económico e Social, que organizou uma conferência sobre os respetivos impactos e oportunidades. Encontro contou com a apresentação de três estudos: sobre economia da longevidade, economia do cuidado e a disparidade entre a esperança média de vida e os anos de vida saudável
Vivemos cada vez mais tempo, não só em Portugal, mas um pouco por todo o mundo. O processo de transição demográfica, que traz, em simultâneo, impactos e oportunidades, foi alvo de reflexão numa conferência dinamizada nesta quinta-feira pelo Conselho Económico e Social (CES), em Lisboa.
“Estamos a viver aquela que é, talvez, a maior e mais silenciosa revolução das sociedades modernas”, salientou o presidente do CES. Nesta mudança surgem, para Luís Pais Antunes, quatro palavras-chave: mito, dilema, desafio e oportunidade. Os mitos são vários, desde os associados à idade até à ideia de que este tema diz apenas respeito aos idosos ou de que está somente relacionado com o aumento da esperança de vida. O dilema assenta em qual a resposta da sociedade perante um “modelo que já não funciona”, pois o tempo de reforma pode ser tanto ou maior que o de trabalho.
Os desafios das “sociedades longevas” são “gigantes” e a questão da desigualdade está entre os principais. As oportunidades são “muitas”, mas é necessária uma “mudança de paradigma”, nomeadamente na saúde, onde o sistema está “ainda muito virado para a doença”, apontou ainda Pais Antunes na abertura do encontro.
Nesta área, o coordenador do Centro Internacional sobre o Envelhecimento (CENIE) defendeu que, aos cuidados primários e hospitalares, deve juntar-se um terceiro pilar – a saúde preventiva. Face ao conceito de esperança de vida, Juan Martín explicou a importância de olhar mais para o de esperança de vida saudável, uma vez que os dados mostram que a idade mais avançada está associada a piores condições de saúde: ou seja, o foco não deve ser apenas em viver mais, mas em viver melhor esses anos.
O CENIE é um organismo da Fundação Geral da Universidade de Salamanca, que em conjunto com o CES e o Instituto Politécnico de Bragança e com o apoio do Conselho Económico e Social de Espanha está a preparar uma investigação dedicada à longevidade, através do desenvolvimento de três estudos que deverão estar concluídos até ao final de 2025. A coordenadora científica do projeto é a demógrafa Maria João Valente Rosa, que moderou a sessão.
Um dos trabalhos – em colaboração com o Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa – visa quantificar a economia da longevidade em Portugal, isto é, as transformações económicas decorrentes do aumento da longevidade. Os objetivos da análise passam por caracterizar a população com mais de 50 anos, estimar os impactos económicos gerados por este grupo e o impacto socioeconómico das despesas dos turistas nesta faixa etária que visitam o país, além de estudar os saldos entre contribuições e benefícios das despesas sociais dos maiores de 50 anos, detalhou a investigadora Daniela Craveiro. No painel de debate, a especialista Ana João Sepúlveda considerou que a criação de um “ecossistema nacional para a longevidade” tem de ser uma questão de “desígnio nacional”.
Outro dos estudos, realizado em parceria com a Universidade Católica do Porto, centra-se na economia do cuidado em Portugal. Entre os objetivos estão, segundo o professor Américo Mendes, fazer uma caracterização do perfil das pessoas cuidadas, dos cuidadores informais e da rede de equipamentos e serviços de apoio aos mais velhos. A investigadora Ana Paula Gil realçou, no painel sobre o tema, que o país tem um “modelo obsoleto” e muito assente no papel da mulher, faltando uma melhor articulação entre as áreas social e da saúde, assim como soluções inovadoras ao nível da tecnologia.
A esperança média de vida e os anos de vida saudável são as matérias analisadas no terceiro estudo – que conta com a colaboração da Universidade do Minho – para procurar compreender a “discrepância” existente e poder apresentar recomendações que a reduzam, indicou a investigadora Joana Ferreira Cima. No debate, a professora Céu Mateus destacou a necessidade de agir sobre a pobreza, por exemplo a energética, para melhorar a qualidade de vida. “A pior doença que uma pessoa pode ter é ser pobre”, concluiu.
Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (verCódigo de Conduta), sem interferência externa.