Conhecer pessoas e organizar viagens: nesta comunidade só entram maiores de 50 anos
Gabriel Mello
Nasceu em 2017 e este ano é aposta em Portugal: uma comunidade online em que pessoas com mais de 50 anos podem conhecer-se, receber e visitar outras ou partilhar dicas sobre viagens. O Expresso conta-lhe de que forma surgiu, como funciona e quais os objetivos da plataforma, através de uma conversa com o gestor do Freebird Club
Há alguns anos, Peter Mangan colocou no Airbnb uma casa de campo no condado de Kerry, no sudoeste da Irlanda, depois de ter ido trabalhar para a capital, Dublin. O pai, Owen, ficou responsável por ser o anfitrião. Aos 70 anos, era viúvo e estava um pouco isolado, mas a vida mudou com a receção e interação com os hóspedes: conhecer pessoas da mesma faixa etária trouxe mais alegria ao dia a dia, que passou a ser preenchido com atividades como jogar golfe, ir jantar fora ou simplesmente passear.
Ao ver como o pai se sentia mais feliz, Peter pensou que o mesmo podia acontecer com outras pessoas daquela idade, e foi a partir daí que nasceu a ideia de criar, em 2017, o Freebird Club, uma “comunidade social online de troca cultural, viagens e hospedagens para pessoas com mais de 50 anos conhecerem outras, na sua zona ou em destinos desejados”, explica ao Expresso o gestor da plataforma em Portugal, Miguel Botelho Martins. As hipóteses são várias: tanto é possível ser anfitrião no local como reservar estadias nas casas de outros membros, no próprio país ou no estrangeiro, além de planear viagens em conjunto ou apenas partilhar dicas e conselhos.
“O objetivo é criar uma ferramenta para combater a solidão dos adultos mais velhos, promovendo a criação de ligações sociais significativas, ou seja, verdadeiras amizades. É capacitá-los ou empoderá-los com novas oportunidades de viagens de turismo e promover, além da inclusão social, a inclusão digital, ao desenvolver uma plataforma que possa ser facilmente utilizada por toda a gente, independentemente da sua literacia digital”, afirma Miguel Botelho Martins.
Ao mesmo tempo, a ideia é contrariar a “perspetiva muito negativa” sobre o envelhecimento, vigente numa sociedade “extremamente idadista”. O gestor recorda um estudo que leu, quando viveu na Ásia, no qual “perguntavam a milhares de pessoas qual era a primeira palavra que lhes vinha à cabeça quando pensavam em envelhecimento”. “No Japão a resposta tinha sido sabedoria e na sociedade ocidental foi perda de memória”, aponta. “Um dos grandes objetivos é mudar essa tónica negativa que colocamos no envelhecimento.”
As situações de solidão e isolamento afetam especialmente as faixas etárias mais avançadas e o panorama agravou-se com a pandemia de covid-19. A plataforma acompanhou a evolução: enquanto numa fase inicial era “muito orientada” para as hospedagens, depois daquele período adotou uma visão “mais abrangente”. O pai de Peter é exemplo de alguém que “retirou imensos benefícios, mas nunca viajou para fora da sua zona”. “O que queríamos é que fosse o mais inclusivo possível. É tanto para pessoas que adoram viajar como para aqueles que gostam de ajudar outros a descobrir os locais onde residem. Alargámos o espetro da plataforma”, resume o responsável.
Para aderir, é necessário preencher o formulário de inscrição, completar um perfil pessoal com identificação de interesses e preferências – para facilitar as conexões – e efetuar o pagamento. É possível optar entre três tarifários: três meses (19,90€), seis meses (29,90€) ou 12 meses (47,90€). Atualmente, são cerca de 21 mil os assinantes, distribuídos por 45 países. A start-up já ganhou prémios europeus de inovação social e envelhecimento saudável e em Portugal, onde decidiu apostar este ano, contabiliza 3000 membros.
O crescente envelhecimento da população é um “fenómeno demográfico internacional”, mas “particularmente significativo em Portugal”, refere Miguel Botelho Martins. “Existem mais de 500 mil idosos a viver sozinhos”, acrescenta. Simultaneamente, o nosso país é um destinto turístico “extremamente popular, particularmente entre esta faixa etária”, e na plataforma é já “o quarto país que mais adere”.
Os membros do clube têm em comum “o espírito aventureiro, uma grande paixão por viagens e intercâmbio cultural”, assim como a procura por experiências que lhes permitam “conhecer pessoas com interesses semelhantes e criar memórias”. Para o futuro, a meta é atingir 100 mil assinantes até ao final de 2027 e contribuir com o “desenvolvimento de mecanismos” para reagir a uma “alteração demográfica” que “está para durar”.
Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.