Longevidade

Para reatar, manter ou criar novos laços, nasceu a “primeira rede social” para idosos

Para reatar, manter ou criar novos laços, nasceu a “primeira rede social” para idosos
Gary John Norman

A empresa Sioslife, com origem em Braga, criou uma rede social para que os mais velhos possam reencontrar amigos, fazer novos ou simplesmente contactar familiares. Integrada num sistema disponível em mais de 600 instituições, é adaptada às características de cada um e de uso “simples e intuitivo”, conta o responsável ao Expresso

Como forma de contribuir para enfrentar o problema do isolamento social, muitas vezes associado ao envelhecimento, uma empresa portuguesa decidiu criar aquela que classifica como a “primeira rede social para idosos”. A nova ferramenta está disponível desde meados de junho através do sistema digital da Sioslife, presente em mais de 600 instituições em Portugal, Espanha e Brasil.

“A plataforma é muito intuitiva e permite que qualquer pessoa, com baixa ou mesmo inexistente literacia digital, consiga utilizar. É isso que faz com que tenhamos utilizadores com mais de 100 anos, pessoas que não sabem ler nem escrever, com dificuldades físicas ou cognitivas e que estão a conseguir tirar proveito da tecnologia e sentirem-se mais incluídas na sociedade”, explica ao Expresso o fundador e responsável da empresa, Jorge Oliveira.

Ao longo de dez anos de vida, a Sioslife tem apoiado a transformação digital de instituições de cuidado para a população mais velha, desde lares, centros de dia e serviços de apoio domiciliário, mas também municípios, em projetos focados na inclusão digital deste grupo.

A plataforma, acessível através de um tablet, é adaptada “ao perfil individual de cada utilizador, com base nos seus gostos e motivações, mas também nas suas características físicas e cognitivas”. Além disso, “não há ratos, não há teclados, não há comandos”, de forma a que o uso “seja simples e intuitivo”, descreve Jorge Oliveira. Depois de funcionalidades como jogos, músicas ou filmes, surgiu a ideia de criar uma componente de socialização.

“É neste contexto que surge a rede social, que permite que qualquer pessoa que a utilize possa pesquisar por região, por proximidade ou numa determinada instituição. Estamos a conseguir promover o reencontro de pessoas que já não se viam, que já não conversavam, que perderam os laços de alguma forma ao longo da vida, porque deixaram de ter oportunidade de se contactar. Mas também estamos a promover a socialização e a permitir que conheçam novas pessoas, façam novas amizades, conseguindo combater o flagelo que é o sentimento de isolamento social”, retrata.

Através de um convite, também é possível que um familiar ou amigo possa aderir. “Cria-se uma mini rede social privada, muitas das vezes, entre a família, a pessoa apoiada e a própria instituição”, aponta. A rede não ser aberta a qualquer pessoa permite um acesso controlado, salvaguardando a segurança – um aspeto especialmente importante quando o nível de literacia digital não é elevado. “Não há o risco de acederem a conteúdos maliciosos, vírus ou algum tipo de conteúdos que não sejam controlados”, realça o responsável. O total de utilizadores ronda as 16 mil pessoas e, até agora, “o feedback tem sido muito positivo”.

Para o futuro, o objetivo é chegar a mais organizações e pessoas, com base na evolução da tecnologia e do envelhecimento nos próximos anos. “Todos corremos o risco de ficar excluídos das tecnologias porque evoluem numa velocidade estonteante, que é difícil acompanhar. Aí, vamos ter sempre um papel de as aproximar da população que está mais infoexcluída”, prevê Jorge Oliveira. Ao mesmo tempo, o caminho passará “cada vez mais” por procurar que os mais velhos consigam permanecer em casa face à institucionalização. “Não substituímos o cuidado que é prestado, mas como há um grande desequilíbrio entre o número de pessoas que necessitam de cuidado e o número de pessoas disponíveis para cuidar, a tecnologia pode e deve ter um papel de alavanca e de ser um facilitador para a chegada dos serviços a esta população mais envelhecida.”

Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: scbaptista@impresa.pt

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