Aprender a usar a internet e aumentar a literacia em saúde: projeto prepara combate à exclusão digital dos mais velhos
O rápido caminho para um mundo cada vez mais digital traz associado o risco de “deixar para trás” as faixas etárias mais avançadas, que apresentam maior dificuldade no uso da tecnologia, erguendo-se um obstáculo no acesso a informação e serviços. O projeto "LiterAge4All”, liderado pelo Instituto Politécnico da Guarda, pretende melhorar estas competências e, simultaneamente, proporcionar conhecimento no campo da saúde
O Instituto Politécnico da Guarda (IPG) vai liderar um projeto europeu que visa melhorar as competências digitais das pessoas com mais de 50 anos. Ao mesmo tempo, o objetivo passa por promover o envelhecimento saudável, através da disponibilização de informação relevante em áreas relacionadas com a saúde e a qualidade de vida.
Se é certo que a sociedade é “cada vez mais digital”, com uma “digitalização dos sistemas e dos serviços” que, por um lado, “tem como base reduzir as desigualdades entre as diferentes populações, que vivam distantes de alguns serviços”, por outro lado “também acaba por promover uma maior exclusão das pessoas com baixa literacia digital”, retrata Carolina Vila-Chã, docente e investigadora do IPG, ao Expresso.
O projeto “LiterAge4All” assume, neste contexto, “dois grandes objetivos”. “Ajudar as pessoas a entrar nesta era digital e combater a exclusão digital e, ao mesmo tempo, proporcionar-lhes conteúdos e fontes fidedignas onde possam ir buscar informação sobre como cuidar da sua saúde e como aceder a serviços de saúde”, explica a professora.
Irá ser desenvolvida uma aplicação – disponível para televisão, telemóvel e tablet – que incluirá cursos breves de iniciação ao uso de dispositivos eletrónicos com acesso à internet, permitindo “dar os primeiros passos de forma segura”, e proporcionar acesso a conteúdos “associados à saúde, à promoção de um envelhecimento saudável, através da alimentação saudável, o exercício físico, a gestão das doenças crónicas não transmissíveis”, como as doenças cardiovasculares e a diabetes.
A aplicação também pretende “ajudar a compreender como é que se pode aceder a serviços de saúde”, por exemplo a receita que o médico prescreveu ou o boletim de vacinas. Para a página do projeto, que irá ser criada, está prevista a compilação de “livrarias digitais” para “agregar informação importante sobre saúde e que venha de sites e de instituições fidedignas”, ou seja, “já seriada e agregada no mesmo sítio”.
Algo particularmente importante tendo em conta que uma das “grandes barreiras” que os mais velhos enfrentam é “o receio de utilizar estes sistemas e de os estragar ou até de entrar em sites que desconheçam”. “Como é algo novo, as pessoas têm medo de mexer e preferem evitar ao máximo a utilização por falta de experiência e de confiança”, relata Carolina Vila-Chã.
No caso das que vivem em “meios mais rurais, das zonas de menor densidade populacional”, o impacto é maior. “Acabam por ficar ainda mais excluídas e afastadas. A transição digital vem para reduzir a desigualdade mas, para estas pessoas, pode aumentar ainda mais o fosso”, alerta. “Esta aceleração muito rápida e não acompanhada vai deixar para trás uma faixa da população que, por si só, já é muito vulnerável.”
Precisamente porque não basta disponibilizar as ferramentas, o projeto prevê a formação de voluntários para apoiar na aprendizagem. A ideia é que possam depois “ir até às comunidades, em reuniões informais, para ajudar as pessoas a ir aprendendo como navegar”. Os encontros deverão ocorrer inicialmente em espaços públicos na região da Guarda.
Na faixa etária dos 55 aos 64 anos, 78,2% da população usava a internet em 2023, mostram os dados da Pordata. Um valor que desce para 53,2% no grupo seguinte, dos 65 aos 74 anos. Quanto às competências digitais, no grupo dos 55-64 anos 38% apresentavam no ano passado um nível básico ou acima de básico, passando para apenas 18,5% nos 65-74 anos, indica uma análise do Instituto Nacional de Estatística.
Nos últimos anos, a pandemia de covid-19 trouxe “uma abertura maior e um maior interesse da população mais velha” em relação à tecnologia, que até então muitos “tinham relutância” em usar. “A pandemia desse ponto de vista despertou as pessoas mais velhas para a importância de a utilizar, porque era um meio que tinham de poder comunicar com os familiares”, considera a investigadora.
Além do IPG, integram o projeto – que terá a duração de dois anos e meio – a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde, a Unidade de Tecnologias da Saúde e da Bioengenharia do Centro de Cirurgia Minimamente Invasiva Jesús Usón (Espanha), a Fundação para as Oportunidades Digitais de Berlim (Alemanha) e a Universidade de Tecnologia da Silésia (Polónia).
Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo.
Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.