Algarvios com mais de 65 anos em programa dedicado à saúde mental: “A idade hoje em dia não interessa, interessa é como nos sentimos”
Nos municípios de Faro, Loulé e Olhão, um projeto dedicado à saúde mental promove o bem-estar e a qualidade de vida de pessoas com mais de 65 anos. O plano é desenhado à medida de cada um, a partir de um leque de atividades variado – desde estimulação cognitiva a yoga adaptado ou sessões sobre autocuidado. O psicólogo responsável e dois participantes, de 78 e 80 anos, partilham com o Expresso como o programa tem feito a diferença no dia a dia
Aos 78 anos, Dora Faria garante que “a idade hoje em dia não interessa”. “Interessa é como nos sentimos, com paz, com amor, ajudar o vizinho, dar a mão ao irmão que precisa”, declara com certeza. Tudo isso lhe proporciona o Saúde Mental 360º Algarve, em que participa desde que o projeto começou, em setembro do ano passado, e que se prolongará pelo menos até fevereiro do próximo ano.
Dedicado à “promoção do bem-estar, da qualidade de vida e da saúde mental dos idosos”, o projeto promovido pela Plataforma Saúde em Diálogo nasceu numa região marcada por uma “situação muito delicada” devido ao “êxodo de profissionais de saúde, particularmente os que trabalham na área da saúde mental”, o que se traduz em “respostas claramente insuficientes”, explica ao Expresso o psicólogo e responsável Ricardo Valente Santos.
O programa – que se destina a maiores de 65 anos, especialmente com baixa escolaridade e condição socioeconómica desfavorecida – assume “particular incidência na prevenção da depressão, do suicídio e na monitorização das demências”. Após uma avaliação de diagnóstico inicial, de acordo “não só com as necessidades mas também com a vontade da pessoa”, é elaborado um “plano de ação”, inspirado no modelo da prescrição social, que “vai ao encontro do que a pessoa quer fazer”.
Dora gosta particularmente das sessões focadas na promoção do autocuidado e competências socioemocionais, em que são partilhadas ferramentas de gestão emocional. No dia em que conversa com o Expresso, o tema abordado foi o sofrimento. “Muita gente sofre sem ter necessidade. Acontece uma coisa, o que é que vamos fazer? Resolvemos da melhor maneira, foi isso que o Ricardo explicou”, relata.
Do leque de atividades disponibilizadas – que decorrem semanal ou quinzenalmente nos municípios de Faro, Loulé e Olhão de forma gratuita – fazem também parte atividade física adaptada, sessões e workshops de nutrição, yoga adaptado, consultas de psicologia e sessões de estimulação cognitiva.
“Apesar de ter 80 anos, uma pessoa está sempre a aprender. E já tenho aprendido muito neste projeto”, conta José Santana, para quem a estimulação cognitiva tem sido “importantíssima” nestes dois meses desde que integra o programa. “Já mudei muito na minha vida”, acrescenta. “Não é só a parte física, a parte mental também interessa muito para termos longevidade na nossa vida. As pessoas muitas vezes não ligam.”
Também Dora tem “aprendido imenso”. “É uma sabedoria que às vezes já está esquecida. E passo essa sabedoria aos que não vão, aos que não querem ir, que estão em casa.” A septuagenária realça ainda o convívio que as aulas proporcionam, desde ir tomar um café à partilha de receitas de culinária. “É ouro. Não há dinheiro que pague.”
Até agora, José faz um balanço “muito positivo”, incluindo porque o tem levado a conhecer “pessoas novas e maneiras de ser muito diferentes”. “E tudo isso nos vai enriquecer e ajudar à nossa aceitação”, resume. Os participantes têm transmitido satisfação com o projeto precisamente pela junção da “vertente mais de saúde física e saúde mental” com a “vertente de convívio, animação, partilha e alegria”, indica Ricardo Valente Santos.
“Acaba por haver uma sinergia entre a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida e esta dimensão mais social tem uma importância muito significativa”, aponta o psicólogo. Neste momento participam 180 pessoas, valor que deverá subir para 200 até ao final de março. O projeto conta com o apoio da Fundação Belmiro de Azevedo e dos municípios e, para continuar para lá de 2025, será necessário assegurar financiamento. Para o futuro, “se a avaliação de impacto for significativa, a ideia é primeiro expandir no Algarve e depois a outras regiões do país”.
Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo.
Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.