Trabalho

Presidente da República promulga Agenda do Trabalho Digno mas alerta para "efeito contrário" ao pretendido

Presidente da República promulga Agenda do Trabalho Digno mas alerta para "efeito contrário" ao pretendido
TIAGO PETINGA/LUSA

Marcelo Rebelo de Sousa promulgou o decreto que altera o Código do Trabalho por ter sido viabilizado no Parlamento pelo maior partido da oposição, o PSD; e pelos “numerosos aspetos positivos” do diploma, mas não sem deixar alertas

Presidente da República promulga Agenda do Trabalho Digno mas alerta para "efeito contrário" ao pretendido

Cátia Mateus

Jornalista

O Presidente da República promulgou esta quarta-feira, 22 de março, as alterações ao Código do Trabalho no âmbito da chamada Agenda do Trabalho Digno - mas não sem críticas à falta de consenso de certas medidas junto dos patrões e à possibilidade de algumas das mudanças poderem vir a ter o efeito contrário ao inicialmente previsto pelo Executivo. Em declarações a Expresso, reagindo à promulgação do diploma, a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, fala num “compromisso para a valorização dos trabalhadores que é crítico para o nosso futuro coletivo”.

Numa nota publicada na página da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa diz ter tido “em consideração os numerosos aspetos positivos do diploma” e o facto de ter sido viabilizada por “uma larga maioria do Parlamento, que votou a favor ou se absteve, designadamente o maior partido da oposição”, o PSD.

Porém, vinca que aprovou as alterações apesar do “decreto aprovado pela Assembleia da República se afastar, nalguns aspetos, do acordo assinado pelo Governo com os parceiros sociais”; e alertando que este “consagra certas soluções que podem porventura vir a ter, no mercado de trabalho, um efeito contrário ao alegadamente pretendido”, sem especificar quais.

E é precisamente dos parceiros sociais que tem vindo a maior contestação à revisão da lei laboral. Depois de se terem reunido com Marcelo e com António Costa, as cinco confederações patronais que integram o Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS) - Indústria, Comércio e Serviços, Agricultura, Turismo e Construção - voltaram a recorrer ao Presidente da República pedindo-lhe que travasse uma regulamentação que dizem ferida de “inconstitucionalidade”.

Menor flexibilidade num momento crítico da economia

Em causa estão, por exemplo, matérias como a limitação do recurso a outsourcing (externalização de serviços) por parte de empresas que tenham realizado despedimentos coletivos ou por extinção de posto de trabalho nos 12 meses anteriores; reforço das restrições impostas à contratação temporária e a termo, bem como o recurso à prestação de serviços; as alterações ao número de renovações dos contratos temporários, que passam dos atuais seis para apenas quatro; a redução ou extinção do período experimental, atualmente de 180 dias, nos casos em que o anterior contrato a termo (com outro empregador) tenha tido uma duração igual ou superior a 90 dias.

Os patrões contestam ainda o aumento das compensações por despedimento dos atuais 12 dias para 14, por cada ano completo de trabalho; a impossibilidade de renúncia dos trabalhadores aos créditos devidos por cessação de contrato (a não ser por acordo firmado em tribunal); o aumento do valor da retribuição dos estágios profissionais extracurriculares dos atuais 480 euros (valor do Indexante de Apoios Sociais) para não menos que o salário mínimo nacional, 760 euros em 2023.

São alterações que, na opinião das confederações patronais, introduzem maior rigidez nas relações de trabalho, têm impacto negativo na sua política remuneratória e limitam a sua liberdade de gestão, colocando assim em causa o cumprimento do acordo de competitividade e rendimentos, assinado em outubro do ano passado.

São também efeitos que Marcelo parece temer, a avaliar pela nota que acompanha a promulgação da revisão legislativa, mas que a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS), Ana Mendes Godinho, desvaloriza.

Em declarações ao Expresso, a ministra fala no reconhecimento da importância que deve ter para a sociedade “este compromisso para a valorização dos jovens no mercado de trabalho, dos trabalhadores, que é crítica para o nosso futuro coletivo”. Disso “depende também a nossa capacidade de transformar agora esta Agenda para o Trabalho Digno, numa agenda de crescimento para as empresas e trabalhadores”, diz Ana Mendes Godinho.

No que respeita à contestação dos empresários, que mereceu já a oposição de conjunto de cidadãos - entre juristas, investigadores, sindicalistas e membros de comissões de trabalhadores -, Ana Mendes Godinho lembra que “neste momento, o ativo mais valioso e mais procurado no mundo é o talento. Por isso, tudo o que conseguirmos fazer para conseguir criar uma confiança nos trabalhadores, valorizando-os no mercado de trabalho, é uma condição critica para atrairmos talento e fixá-lo em Portugal”. E esse, vinca, “diria que é também um instrumento poderoso para as empresas no momento que vivemos”.

Depois de promulgadas pelo Presidente da República, esta quarta-feira, as alterações à legislação laboral entram em vigor no primeiro dia útil de abril.

Notícia atualizada às 12h15, com detalhes das medidas e a reação da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho

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