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Cultura

“Como é que eu sei que é poesia? Eu sei que é poesia porque tem o bafo do inferno. Porque se paga muito caro”

“Como é que eu sei que é poesia? Eu sei que é poesia porque tem o bafo do inferno. Porque se paga muito caro”
Raquel Marinho

António Barahona tem 80 anos, uma vasta obra publicada, e trabalha agora na suma poética. Está para sair o sétimo de onze volumes. Recebeu-nos em sua casa, e antes de subir à divisão onde gosta de estar, junto aos livros, às fotografias, e a uma muito pequena janela, ofereceu-nos chá. Já lá em cima, sentou-se numa cadeira rente ao chão, acendeu uma vela, e esperou. Pedimos-lhe para ler um poema. Gravámos esse registo. Mas haveríamos de gravar mais um, no decorrer da conversa que se seguiu

“Como é que eu sei que é poesia? Eu sei que é poesia porque tem o bafo do inferno. Porque se paga muito caro”

Raquel Marinho

Auto-retrato

Apenas um homem
com febre de versos:
minha sã imagem
nua até aos ossos

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Gosta de ler em voz alta?

Sim, gosto. Às vezes leio para mim, também.

Há pessoas que gostam de ler em voz alta depois de escrever para ver como é que fica. Também é o seu caso?

Pode ser, também. Mas nem sempre.

Então é porquê?

É porque me quero certificar de que aquilo que ouvi em silêncio afinal era verdade. É tornar audível aquilo que eu já tinha sentido em silêncio.

Muda muitas vezes os seus poemas?

Pois mudo (risos). Ao longo dos anos estou sempre a mudar.

E porquê?

Porque parte de uma insatisfação e de uma pretensão. Insatisfação porque nunca se consegue aquilo que se quer, nunca se consegue a perfeição que se persegue. E pretensão porque se continua a escrever e tem-se a pretensão de se poder, sabe-se lá, alcançar... (risos)

Alcançar o quê?

Alcançar um ponto em que ... (pausa longa) em que deixe de haver necessidade de escrever. Mas essa necessidade não deve ser uma abdicação ou uma recusa de qualquer coisa que nos é naturalmente imposta e que nós rejeitamos, é uma coisa que acontece naturalmente, como uma libertação. Ou porque já se tenha escrito aquilo que se podia escrever e não se pode escrever mais, ou então porque se chegou à conclusão de que por muito que se escreva nunca se encontra aquilo que se procura.

E em que ponto é que o António está nessa reflexão que acaba de fazer?

(gargalhada) Quer dizer, eu sei lá... eu agora pouco escrevo, pelo menos poesia pouco escrevo. Mantenho um diário e trabalho mais sobre aquilo que já escrevi. Estou ocupado com a suma poética.

Essa suma poética é um projecto. Em que fase é que ele está?

Está quase no fim. Vai sair o sétimo volume e são onze.

Esses diários que diz que mantém...

Sim, é uma coisa a que eu chamo bloco de notas que agora reuni também. Reuni mas não consigo dar por concluído porque como estou sempre a escrever, estou sempre a acrescentar coisas. Escrevo quase todos os dias.

E nos diários escreve...

Escrevo prosa e às vezes acontece que em vez de prosa sai um poema, mas é menos. É um livro de prosa fundamentalmente.

Mas é sobre o seu dia-a-dia, literalmente, ou são as suas reflexões?

É tudo, é tudo. São as minhas reflexões, misturadas com as coisas que me acontecem no dia a dia, com as cartas que escrevo ou que recebo, ou aquilo que falei com amigos, ou aquilo de que me lembro, enfim. Lembro-me de coisas da minha infância e de criança, até de colo da minha mãe. E se me quero lembrar de coisas de ontem já não consigo, o que é muito estranho. Mas isso é porque tenho 80 anos, começam a acontecer estas coisas.

Gostava de saber a sua opinião sobre a poesia que se está a publicar agora. Li algumas entrevistas suas e sei que gosta, por exemplo, do José Miguel Silva. Porquê?

Porque é um bom poeta, para já. E depois porque provoca nas pessoas uma coisa que já é muito rara que é a surpresa. Isso para mim é fundamental. Quando um poeta nos surpreende é porque ele tem alguma coisa que vale a pena. É por isso, é porque me surpreendeu e porque essa surpresa permanece.

Disse que o José Miguel Silva é um bom poeta. O que é isso, ser um bom poeta?

Ser um bom poeta... Sei lá. deixa cá ver, escrevi qualquer coisa, acho que se aplica.

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No texto que acaba de ler fala de Deus. Deus está muito presente no seu trabalho poético, assim como a mulher. Porque é que a religião está tão presente na sua poesia?

Está presente porque é uma coisa fundamental na minha vida. Porque é através da religião que nós recebemos uma ética, recebemos mandamentos e regras de comportamento morais, e não só.

Então posso depreender que para si a poesia está relacionada com a religião?

Sim. Embora a poesia sem esse epíteto de mística já seja por si uma espécie de misticismo profano, a poesia declaradamente mística, como em alguns casos é a minha, está relacionada evidentemente com Deus, com o invisível, porque a realidade não é só aquilo que se vê, é aquilo também que está por trás daquilo que se vê. A realidade é visível e invisível, e para mim o poeta tem de se ocupar da realidade na sua totalidade, não se pode contentar só com metade.

E acha que os poetas fazem todos isso?

Fazem todos isso mesmo aqueles que pensam que não fazem. Porque um poeta pode ser genuíno e pode não ser nada religioso. Pode nem sequer falar em Deus. Por exemplo, penso que Camilo Pessanha não tem nenhum verso com referência a Deus e não se pode depreender da leitura do Pessanha qualquer forma de espiritualidade particular, ele é muito difuso acerca disso. No entanto, para mim aquilo consegue transmitir-nos realmente a presença de Deus.

E qualquer pessoa tem acesso a essa singularidade? Ou seja, se alguém quiser muito escrever poesia, pode trabalhar para chegar a ter esse dom, chamemos-lhe assim?

Já não sei quem é que disse que o génio era uma grande paciência. Não sei, talvez consiga com estudo e paciência versejar. Versejar, escrever textos que se podem confundir com a poesia dos poetas, mas que seja poesia tenho as minhas dúvidas. São coisas diferentes.

Como é que o António sabe que é poesia?

Como é que eu sei que é poesia? Eu sei que é poesia porque tem o bafo do inferno... (risos) Porque se paga muito caro. Às vezes é de graça, mas nesses casos o pobre desconfia.

Falou há pouco de Camilo Pessanha. Gosta muito da poesia dele.

- Sim, é o meu alter-ego. Está ali (aponta para fotografia).

E além do Camilo Pessanha, Teixeira de Pascoaes.

Sim, Teixeira de Pascoaes para mim é fundamental. Ao contrário do Pessanha, o Teixeira de Pascoaes era de uma grande prolixidade e o Pessanha quase não escreveu. Mas são dois grandes poetas, claro. Gosto muito do Pessoa, ensinou-me muita coisa, mas comparando o Pascoaes com o Pessoa, eu prefiro o Pascoaes. Porque naquele provincianismo do Pascoaes há universo e no Pessoa haverá universo mas é mais cosmopolita do que universal. Acho eu, não sei. O Pessoa é mais europeu do que universal, ao passo que o Pascoaes devido à pequenez do seu território é mais universal.

Por falar em grandes poetas, conheceu o Cesariny.

Sim, era meu grande amigo e sinto muita falta dele.

Sente falta dele porquê?

Porque ele aparecia sempre. Ele nunca telefonava antes nem nada, aparecia de surpresa. Se ele fosse vivo podia aparecer aí a qualquer momento. Eu tinha por ele quase veneração, aprendi muito com ele.

Aprendeu com ele através das conversas?

Sim, das conversas. Ele tinha formas de convívio muito interessantes. Nós às vezes estávamos no café e ele dizia assim: “venha comigo.” E íamos até ao atelier dele, que era num último andar num prédio sobre a Sé, com vista para o rio. Ele gostava muito de Chopin, e punha os nocturnos de Chopin e deitávamo-nos um em frente do outro, com uma manta que ele punha, e ficávamos ali. Era tão bom... Outras vezes à noite eu via-o trabalhar. Ia com ele para o atelier e via-o pintar, e isso era também muito bonito. Recordações... Depois as pessoas morrem, e envelhecem. (sorriso) Meu Deus.

O que é que aprendeu com ele?

Olhe, não digo que fossem os primeiros mas os primeiros poemas que eu escrevi depois de o conhecer e de frequentar o Café Gelo, levei esses poemas e dei-lhos a ler. Ele foi para outra mesa, leu, e depois voltou e pôs-me os poemas em cima da mesa e escreveu numa das folhas “acho que sim mas ainda não são estes.” E realmente não eram, e eu acabei por deitar os poemas fora. Mas isso é delicado: “acho que sim mas ainda não são estes.” Depois eu acabei por publicar uma merda de um livro e as pessoas do Gelo maltrataram-me muito por causa daquilo, e tinham razão porque aquilo era uma merda. Mas a minha cabeça naquela altura não estava bem por causa de uma paixão, enfim, era só disparates, e acabei por publicar aquela porcaria, e fui muito maltratado. E sentia-me mal, estava humilhado. E um dia disse-lhe isso, já não sei como lhe disse, mas disse-lhe que estava magoado. Ele olhou para mim e disse-me assim: “Não se preocupe com isso. Aquilo é uma coisa de alguém que ainda não sabe para onde é que vai.” Isto é de uma grande delicadeza.

Mas estava preocupado com as críticas do Café Gelo. Foram muito duros consigo?

Muito. Ali não havia perdão, nem para mim nem para ninguém. (risos) Tudo quanto havia a dizer era dito na cara das pessoas, custasse o que custasse. Porque ali não havia só uma relação de amizade, havia também de ódio. Às vezes embebedávamo-nos e punhamo-nos a dar bofetadas uns nos outros. (risos) Era o desespero!

Tem saudades desses tempos do Café Gelo?

Então não tenho. Mas apesar das saudades estou bem aqui.

A Poesia serve para quê?

Ai meu Deus. A poesia não serve para nada. E aí está a sua grande utilidade.

Deve saber vários versos de cor. Qual é o primeiro que lhe vem à cabeça?

Gato que brincas na rua

Como se fosse na cama,

Invejo a sorte que é tua

Porque nem sorte se chama.

É do Pessoa. É maior o poema mas já não sei mais, não me lembro de mais.

Se não fosse poeta português, seria de que nacionalidade?

Indiano.

Um bom poema é...

Um talismã.

O que o comove?

A obediência da mulher relativamente ao homem que ama.

Que poema enviaria ao primeiro-ministro português?

Ao primeiro-ministro português?! Não me passaria pela cabeça enviar-lhe um poema.

Por sua vontade, o que ficaria escrito no seu epitáfio?

Apenas o meu nome. Não importa mais nada, apenas o nome.

António Barahona fotografado por Tiago Miranda em 2010

O Poema Ensina a Cair começou por ser, em 2015, uma rubrica semanal do Expresso Diário sobre poesia portuguesa. Pretendia divulgar autores contemporâneos, mas não só. A ideia original de Raquel Marinho volta agora ao Expresso, desta vez com uma comunidade grande de seguidores nas redes sociais. Pode acompanhá-la no Instagram e no Facebook.

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Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: raquelmarinho@sic.impresa.pt

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