Sustentabilidade e embalagem

Novo regulamento incentiva inovação nas embalagens

A nova regulamentação europeia sobre embalagens, e os desafios que vem colocar às várias indústrias do sector, estiveram em análise num debate integrado no Novo Verde Packaging Enterprise Award

João Queiroz

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Reduzir, reutilizar e reciclar mais embalagens é um dos objetivos traçados pela União Europeia para atingir a neutralidade carbónica em 2050. Está plasmado na proposta da Comissão Europeia para um novo regulamento sobre embalagens, que estabelece um conjunto de medidas restritivas e impõem uma série de metas ambiciosas, tudo em nome do bem comum. Tão necessárias quanto a inovação no desenvolvimento de embalagens que cumpram os preceitos da economia circular.

As mais-valias, as oportunidades, as falhas e os perigos que trazem o documento divulgado por Bruxelas, em novembro passado, dominaram o evento “Nova regulamentação de embalagens e novos desafios para o sector”, realizado hoje no edifício do grupo Impresa e que se enquadra no Novo Verde Packaging Enterprise Award, iniciativa promovida pela entidade gestora de resíduos de embalagens (cujo regulamento e prazos pode conhecer no final do texto) e que tem o apoio do Expresso e da EY.

O debate apresentado pelo jornalista João Moleira, contou com a presença de Ricardo Neto, presidente do Conselho de Administração da Novo Verde; Ana Cristina Carrola, vogal do Conselho Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente; Thomas Fisher, head of Market Intelligence and Governmental Affairs do Grupo Landbell AG; Paulo Serra, diretor da região oeste da SAICA; Tiago Moreira da Silva, coordenador da plataforma Vidro+; Nuno Aguiar, diretor técnico da APIP; Paulo Sousa, CEO da COLEP; e Pedro Simões, diretor-geral da Novo Verde.

Conheça as principais conclusões do evento

A proposta

  • A proposta de regulamento sobre embalagens e resíduos de embalagens assenta em três objetivos: prevenir a gestão de resíduos, promover a reciclagem em circuito fechado e aumentar a utilização de plásticos reciclados
  • “Portugal apoia os objetivos e a ambição preconizada na proposta, as medidas são as corretas”, afirmou Ana Cristina Carrola, considerando necessário impor “metas e prazos ambiciosos, mas equilibrados e proporcionais, tendo em consideração” os diferentes contextos dos estados-membros.

A perspetiva internacional

  • “A ideia é harmonizar o mercado interno europeu e criar um campo de competição equilibrado”, resumiu Thomas Fischer.
  • Até 2030 todas as embalagens têm que ser recicláveis e até 2035 toda a infraestrutura tem que estar adaptada. “Alguns países estão atrasados”, alertou.
  • Um dos objetivos é reduzir o espaço livre numa embalagem a um máximo de 40%. “Todos já vimos, sobretudo em coisas compradas pela internet, pequenos objetos chegarem em embrulhos enormes e desajustados”, exemplificou.

Os desafios

  • A SAICA - que opera na Península Ibérica, França e Reino Unido - recicla por ano, 3,5 milhões de toneladas de papel e cartão. Paulo Serra reconhece que o sector “está numa posição relativamente privilegiada neste novo regulamento”, ainda assim, considera que o documento “vai exacerbar algumas das dificuldades que sentimos atualmente. Ou seja, há muitos recursos que se perdem e que não são utilizados para reintegrar outra vez em círculos produtivos”.
  • “O mérito deste regulamento é haver uma vontade de impor uma harmonização de todos os critérios no que toca às novas matérias-primas. O que tem de mérito também tem de demérito, porque é um dos sectores onde há mais diferenças de país para país e mesmo dentro dos próprios países. Portanto, boas regras para harmonizar podem criar desequilíbrios em termos de mercado e prejudicar a indústria, os consumidores, os processadores de resíduos”, defendeu Tiago Moreira da Silva, que aconselha cautela “com as regras muito gerais, porque correm o risco de criar disrupções que podem desvirtuar o mercado que, no final, também é um dos objetivos do regulamento”.
  • Nuno Aguiar lamenta que neste regulamento se continue a verificar “alguma discriminação” em relação ao plástico, como as propostas de eliminação, de restrição e de colocação no mercado de algumas embalagens” ou de incorporação de reciclado. “Face às metas extremamente ambiciosas, vai ser, de facto, um desafio muito grande”.
  • “No caso do metal, já se cumprem as metas da taxa de reciclagem para 2020 e 2030, mas isso não significa que vamos estar parados”, acrescentou Paulo Sousa.

Inovação precisa-se

  • “A investigação e o desenvolvimento têm um poder transformacional da indústria. De facto, a regulamentação vai abrir uma série de oportunidades na embalagem e, portanto, a investigação do ponto de vista tecnológico dos monomateriais e da superfície de contacto é fundamental, tal como desenhar embalagens que possam ser retornáveis”, diz Paulo Sousa.
  • De acordo com Nuno Aguiar não é possível evoluir neste campo se não inovarmos e desenvolvermos novos materiais, produtos e modelos de negócio. “Estas iniciativas como a da Novo Verde potenciam o aparecimento de novos projetos de investigação e desenvolvimento e é isso que é importante fomentar. A própria indústria movimentou-se com várias iniciativas que visam melhorar não só ao nível do design, mas também ao nível das próprias tecnologias de reciclagem e até produzir novos polímeros com outras matérias-primas”, sustentou.
  • “As regulações são catalisadoras para promover essa inovação”, acrescentou Tiago Moreira da Silva.


As candidaturas ao Novo Verde Packaging Enterprise Award, que conta com o apoio do Expresso e da EY, devem ser apresentadas através do site oficial até 31 de março de 2023 AQUI.


Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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