Portugal precisa de diminuir a produção de resíduos de embalagens, tornando-as mais leves e mais fáceis de reciclar, apesar de já comparar bem com a Europa. E esse é um dos objetivos do Packaging Enterprise Award, lançado pela Novo Verde, a que o Expresso volta a associar-se, e que procura distinguir um projeto inovador no sector das embalagens.
“A capitação de Portugal — os resíduos que cada cidadão produz por ano, em termos de embalagens — é de 174 quilos. É de destacar este excelente desempenho, mais baixo do que a média europeia, que é 177”, observa Pedro Simões. Na opinião do diretor-geral da entidade gestora de resíduos de embalagens, é essencial enquadrar a questão na perspetiva alargada dos resíduos urbanos em geral. “A produção já atingiu um valor muito elevado. Neste momento estamos a produzir cerca de 5,3 milhões de toneladas por ano, o que corresponde a uma capitação anual de 511 quilos. E com os aterros sanitários a chegarem ao fim da sua vida útil, é urgente encontrar alternativas”, com a certeza que “a reciclagem é das melhores soluções em termos da hierarquia da gestão de resíduos e da valorização do material”. Tudo somado, “há algo que podemos fazer a montante da cadeia — quer na conceção, quer no desenho das embalagens”, o que só é possível com investigação e desenvolvimento (I&D).
Há vários aspetos a ter em consideração na conceção de uma embalagem, sublinha, Pedro Simões, tais como, “a dimensão, a cor, o peso, os rótulos, o tipo de tintas, o modo de impressão utilizado, o material ou a percentagem de incorporação de material reciclado”. Se, por exemplo, ao invés de ser composta por monomaterial, incorporar mais do que um material, a sua reciclagem é mais difícil. A diminuição da produção de resíduos de embalagem, através do chamado ecodesign, é um objetivo, segundo o diretor-geral da Novo Verde: “Criar embalagens mais leves, que possam levar mais produto, é importante, como é serem compostas por menos produtos perigosos e mais fáceis de reciclar.”
Metas e desafios
A legislação está a impor metas de reutilização de embalagens para que possam fazer mais do que um ciclo. Aliás, o vencedor do prémio da edição do ano passado apresentava um projeto que incentivava embalagens reutilizáveis, por outras palavras, a compra a granel. Pedro Simões chama também a atenção para esta questão “premente”: “Temos metas a cumprir para 2025 e 2030. Estamos hoje a reciclar cerca de 60% das embalagens e a meta, em termos globais, para 2025, é de 65% e de 70% para 2030.” São dados de 2020 e a maior parte dos países da UE está acima desses valores, com exceção da Polónia, Croácia, Hungria, Roménia e Malta. Nesse sentido, diz o responsável, “há um salto a dar no aumento da reciclagem, que pode ser feito” ou pela subida pura e dura das quantidades recicladas, ou com recurso à melhoria qualitativa do que chega ao mercado. “Através da prevenção, da I&D, da diminuição do peso das embalagens, temos de conseguir resultados.”
Para Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), “há dois desafios incontornáveis que passam por encontrar soluções sustentáveis do ponto de vista dos materiais, das embalagens e da sua durabilidade” para “que sejam sustentáveis e amigos do ambiente; e fazê-lo com o racional económico”. Para o responsável, é claro que “os consumidores estão disponíveis e querem fazer parte da solução, mas o fator económico é essencial. Isto é, se a embalagem, por muito sustentável que seja, tiver um preço que prejudique o consumidor, ele pensa duas vezes”. Fica evidente que se trata “de um desafio enorme, para quem tem que vender o produto e para a indústria dos produtores de embalagens”.
Bom senso e equilíbrio
É por aqui que passam as prioridades, sustenta Gonçalo Lobo Xavier, também membro do júri do prémio. “Assistimos a um ótimo trabalho entre centros de inovação, centros de saber e a indústria, em que o retalho pode ajudar muito a explicar quais as tendências dos consumidores e também a induzi-los a comportamentos mais responsáveis, sobretudo na exigência, no ecodesign das embalagens e, naturalmente, naquilo que diz respeito à utilização das embalagens em fim de vida.” É importante perceber que não há materiais que devam ser “banidos da equação, o que deve existir é uma utilização responsável por parte do consumidor no sentido de dar um destino às embalagens em fim de vida”, sublinha.
E a inovação, muitas vezes, precisa de tempo e consome recursos, alerta o diretor-geral da APED, pois é “preciso que se perceba que isto leva tempo. Por isso mesmo, sensibilizamos o poder político para que a legislação tenha em consideração que não há soluções no mercado que sejam ótimas do ponto de vista da inovação, da sustentabilidade e com sentido económico-financeiro”. Ou seja, “na ânsia de atingir certas metas e de ficar bem na fotografia, às vezes exagera-se na exigência de prazos e na transposição de diretivas europeias. Tem de haver bom senso e equilíbrio”.
Não restam dúvidas, no entanto, de que este é um sector com grande margem para crescer, sintetiza Pedro Simões: “Hoje temos os materiais de plástico, de papel e cartão, o aço, o alumínio, a madeira, e cada um, tendo a sua especificidade, poderá ser sempre um mar de exploração de novas oportunidades. E há sempre margem para melhorar o ecodesign e a eficiência de uma determinada embalagem.”
Aceitam-se candidaturas até 31 de março
Com o objetivo de encontrar soluções inovadoras no sector da embalagem, o Novo Verde Packaging Enterprise Award destina-se a distinguir trabalhos de investigação e desenvolvimento (I&D), com origem na indústria, comércio, serviços, universidades e outras áreas de desenvolvimento tecnológico. As candidaturas devem ser submetidas através do formulário disponível no site oficial da Novo Verde até 31 de março de 2022. O vencedor será anunciado durante o mês de maio e receberá um prémio no valor de €25 mil. Os critérios de avaliação abrangem a metodologia utilizada, o grau de inovação e criatividade, a adequação do prémio aos objetivos propostos, plano de implementação, demonstração de viabilidade económico-financeira, qualidade da apresentação, organização e qualidade geral da candidatura. É importante realçar ainda que, segundo o regulamento, os projetos devem ir de encontro às metas do prémio, com o objetivo de promover melhorias relevantes em qualquer uma das fases do ciclo de vida das embalagens.
O melhor das embalagens
A iniciativa Novo Verde Packaging Enterprise Award, regressa para mais um ano com o objetivo de recompensar um projeto inovador no sector das embalagens, de novo com o Expresso como parceiro de media. Este prémio, que distingue trabalhos de investigação e desenvolvimento (I&D) com origem na indústria, distribuição ou áreas tecnológicas, tem um valor global de €25 mil.
Textos originalmente publicados no Expresso de 16 de dezembro de 2022
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