Patrícia Reis: “As redações eram bichos orgânicos, os jornalistas comunicavam entre si. Hoje estão fixados no computador e no telemóvel”
Lisboeta de gema, nasceu a 12 de dezembro de 1970 em Benfica. “Vivia num caldo muito estranho”, os pais “eram uns putos”, tinham apenas 17 anos quando nasceu, e “sempre foram de direita”. Patrícia Reis sempre votou “à esquerda”. Nesta conversa com Bernardo Ferrão, fala na atual maioria absoluta, “mal aproveitada” por um Governo que “não tem mãos para tocar a viola”. Escritora, jornalista, mãe e amante de livros, lembra ainda os “gloriosos” anos 80 e uma certa forma de fazer - e viver - o jornalismo que é cada vez mais rara nas redações. Oiça aqui o podcast Geração 70
“Na cama com uma almofada em cima dos joelhos, um caderno e uma caneta na mão” - ainda hoje é assim que escreve. Patrícia Reis, lisboeta de gema, nasceu a 12 de dezembro de 1970, em Benfica. “Vivia num caldo muito estranho”, os pais “eram uns putos”, tinham apenas 17 anos quando nasceu. O pai trabalhava no Turismo, a mãe foi secretária a vida toda. Foi educada pelo tio-avô que se chamava António Franco, era pintor.
Estudou na escola alemã, na altura a escola “mais barata”. Do ensino alemão leva algumas lições: “nunca chego atrasada”. Apaixonou-se muito cedo pelo jornalismo e a escrita apareceu desde que aprendeu a escrever: “foi a maior ferramenta que alguém me podia ter dado. A escrever podia sair do sítio, podia ir ao espaço!”
Sempre viveu “sem amarras”, numa família onde “era tudo normal”. Nos “gloriosos” anos 80 fez “as asneiras todas" e na adolescência usava botas da tropa - “achava-me radical”.
Saiu de casa muito cedo. Começou a trabalhar aos 17 anos no jornal O Independente depois de encontrar o anúncio: “Repórteres absolutamente excelentes precisam-se”, recorda. Nos primeiros tempos “vivia do ar”, entre os trabalhos em bares e explicações que dava - “era uma loucura”.
Elogia os outros tempos em que o jornalismo era “vivido e sentido” e critica as mudanças da “cultura jornalística” dos dias de hoje. “As redações eram outra coisa, agora as pessoas estão fixadas no computador e no telemóvel”.
Ana Baiao
Os pais “sempre foram de direita”, mas ela sempre votou “à esquerda”. Numa conversa com Bernardo Ferrão, fala numa maioria absoluta “mal aproveitada” por um Governo que “não tem mãos para tocar a viola”.
Diz ainda que nunca recusou um livro aos filhos, leu-lhes em voz alta durante mais de 10 anos e não esconde a desilusão que tem com o ensino em Portugal.
Fala sem tabus sobre assédio e diz que foi “penalizada” por ser feminista. “Sentia-me ameaçada enquanto mulher. Não é não! Senti a impossibilidade de reivindicar o meu ‘não’”.
Escritora, jornalista, mãe e amante de livros, Patrícia Reis é a mais recente convidada do podcast Geração 70.