Manuel Beja: “No futebol e nas empresas portuguesas não conheço pessoas LGBT fora do armário. A visibilidade tem valor político"
Manuel Beja entrou este ano a bordo do voo da agenda mediática enquanto chairman da TAP, uma viagem cheia de turbulências provocada pelo despedimento de Alexandra Reis, ex-administradora da TAP. A aterragem foi imprevista, já que o Governo decidiu demiti-lo, com “justa causa”. Nesta primeira entrevista após a sua demissão, o gestor afirma que “não há justa causa”, elogia Pedro Nuno Santos, avisa que o Estado deve manter posição relevante na privatização da companhia aérea e admite entrar com um processo de indemnização. Recorda ainda as insinuações veladas que o Chega lhe fez na Comissão de Inquérito, o momento em que referiu o seu marido e o ano mais feliz da sua vida, quando há duas décadas adotou o seu filho Guilherme, no Brasil. Ouçam-no no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas” com Bernardo Mendonça
Há meio ano, na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP e, por seis horas, o ex-chairman da TAP Manuel Beja desenhou um retrato crítico da forma como o Governo - tanto no lado das Infraestruturas como nas Finanças - tratou a empresa. Também se queixou da falta de escuta de ministros que não lhe atenderam o telefone numa altura de crise.
O seu papel enquanto chairman, depois de Miguel Frasquilho, era ser a cola, ou o maestro, entre os vários protagonistas e lados que compunham a TAP, nomeadamente entre a administração e as tutelas do Estado. Mas correu mal, a crise instalou-se e as partes não colaram. O que é que falhou? O facto de ter sido um ‘chairman’ mais discreto do que os seus antecessores, fez dele um elo mais fraco, mais dispensável? Esta é uma das primeiras perguntas que lhe é colocada no arranque deste podcast.
Na Comissão Parlamentar de Inquérito, Manuel referiu um Governo que "perdeu o norte" e uma presidente executiva sem "bom senso". Que grandes lições tirou dessa experiência? E que ‘mea culpa’ faz ou o que teria feito diferente, se soubesse o que sabe hoje? Manuel Beja responde também nesse olhar pelo retrovisor, seis meses depois da sua demissão.
O gestor Manuel Beja retratado seis meses após a sua demissão do cargo de chairman da TAP
Quando questionado pelo Chega na mesma Comissão de Inquérito, perante algumas insinuações veladas, Manuel Beja referiu o marido. Qual a importância da visibilidade da orientação sexual de executivos de topo? Sendo um homem assumidamente gay teria chegado profissionalmente aos cargos de liderança que chegou se não tivesse feito boa parte do seu percurso no estrangeiro? Ainda há muitos armários nos cargos de poder? Beja responde e fala da importância da visibilidade LGBT na sociedade e nos cargos de poder, e ainda refere os perigos do racismo que persistem no país. E relata como sentiu isso na pele, através do seu filho, que é “uma criança não branca”.
Sobre as ameaças da extrema direita, deixa o alerta: "O Chega não acredita na maior parte do que grita. São claramente movidos por oportunismo, por autopromoção e vontade de poder. Mas não deixam por isso de ser perigosos, porque espalham o ressentimento, promovem uma regressão civilizacional, fomentam a divisão, o ódio e a falta de solidariedade contra ciganos, estrangeiros, refugiados, contra quem tem uma religião diferente da sua, contra tudo aquilo que é humano, mas não é igual a eles próprios. E embora não acreditem no que dizem, temo que uma fatia da população possa passar a acreditar no que a extrema direita populista diz."
Licenciado em Matemática Aplicada à Economia e à Gestão, e com larga experiência de gestão, sobretudo na área das tecnologias de informação, Manuel Beja foi diretor de recursos humanos da Novabase e conhece bem o mercado brasileiro, visto que lá trabalhou uns anos, e que é o principal mercado de exportação da TAP. O tema está na ordem do dia, já que pela segunda vez, a TAP será privatizada, agora com as contas limpas. Resta saber quem a compra e por que valor. E que mudanças irão acontecer. Manuel Beja concorda com esta privatização? Quais os riscos que a companhia enfrenta? Que companhia preferia que comprasse a TAP? E já agora, na sua opinião, onde deve aterrar o futuro aeroporto de Lisboa? Ouça neste episódio as respostas de Beja a estas questões.
Na segunda parte deste episódio em podcast, Manuel Beja começa por responder a duas perguntas colocadas pela presidente da ILGA, Ana Aresta, fala dos desafios do ativismo, e o que os pode levar a estar à beira de um ataque de nervos, comenta a realização pessoal que a paternidade lhe trouxe, e recorda o ano mais feliz da sua vida quando há 20 anos adotou o seu filho Guilherme, no Brasil. E, na sequência, relata como dois anos depois o seu filho “adotou” o seu atual marido. Manuel Beja conta ainda a forma como celebrou com uma grande festa os seus 50 anos, os fantasmas e inquietações que atualmente o acompanham e revela também alguns dos seus prazeres, que incluem vólei, padel e ciclismo.
Como habitual, neste episódio Manuel Beja dá-nos a conhecer algumas das músicas que o acompanham e os dois poemas que escolheu para ler e como reverberam em si.
Nesta nova temporada o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de José Fernandes. A sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro, com o apoio de Salomé Rita.
Voltamos para a semana com mais uma pessoa convidada. Até lá pratiquem a empatia e boas conversas!