Hugo van der Ding: “Se perdermos tempo a desmontar o sexismo, homofobia, racismo, as pessoas chegam lá. É o que quero com a minha voz"
NUNO FOX
Há quatro anos que Hugo van der Ding anima as manhãs da Antena 3 com a rubrica 'Vamos Todos Morrer', através de notas necrológicas de figuras dignas de antologia que trazem conhecimento e gargalhadas em doses generosas. Figura popular pelas tiras humorísticas como 'A Criada Malcriada', 'Cavaca para Presidenta' ou 'Juliana Saavedra, a psicanalista que deixa os pacientes na merda', Hugo não é tipo de rótulos, nem de um talento só: tem feito teatro, televisão, livros e assinado inúmeros programas na rádio e em podcast. Destaque para o 'Vamos para a Tua Terra', onde todas as semanas nos dá a conhecer um país, ou uma parte do mundo, através dos olhos de quem lhe chama a sua casa de partida. E através destas conversas desmonta o insulto que a extrema-direita tem usado como arma contra migrantes, refugiados ou pessoas racializadas. “Quando alguém grita ‘vai para a tua terra’ sabe lá o que essa pessoa passou para chegar ao que achamos que é a nossa terra. Se ouvirmos as suas histórias de vida, acredito que seremos todos melhores.” Prestes a terminar o primeiro romance, Hugo avisa: “Quero retirar-me das coisas que me obrigam a aparecer, ir morar para o campo e viver mais da escrita.” Ouçam-no no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas” com Bernardo Mendonça
Passaram sete anos desde a primeira conversa neste mesmo podcast. Por razões técnicas, esse episódio já não está online, mas muita coisa mudou e Hugo afirma que já é quase outra pessoa. O que mais reforça a ideia de que esta conversa tinha de voltar a acontecer. Pode ouvir a primeira parte aqui:
Na altura Hugo van der Ding já se tornara conhecido como o autor das hilariantes tiras humorísticas ‘A Criada Malcriada’ e ‘Cavaca para Presidenta’ e, mais tarde, criava a deliciosa personagem ‘Juliana Saavedra, a psicanalista que deixa os pacientes na merda’. A convidar-nos a todos a entrar na sua cabeça e a rir muito com o seu mundo subversivo e alternativo, onde as protagonistas são sempre mulheres, snobs, possidónias e adoravelmente absurdas ou mazinhas.
Desde aí Hugo já fez um sem fim de coisas: publicou livros, fez teatro, televisão, criou serigrafias dos seus desenhos e tem assinado várias rubricas e programas de rádio e em podcast. Há quatro anos que ele é a companhia das manhãs da Antena 3, com a sua rubrica ‘Vamos Todos Morrer’, na Antena 3, onde assina notas necrológicas dignas de antologia e prova-nos que nem a História tem de ser um relato aborrecido e soporífero dos grandes feitos e acontecimentos, nem o entretenimento tem de ser feito com o cérebro desligado.
Como já afirmou o “Daniel Oliveira que não faz chorar”, Hugo van der Ding é de facto um brilhante cronista destes tempos. Extremamente inteligente e culto, usa o humor e o seu ‘destravanço’ quase infantil, para nos ensinar mais sobre quem somos e a nossa História, dando-nos a conhecer mais sobre a literatura e sobre o mundo além dos nossos umbigos ou das nossas bolhas.
Destaque para o seu podcast ‘Vamos para a tua terra!’, onde todas as semanas nos dá a conhecer um país, ou uma parte do mundo, através dos olhos de quem lhe chama a sua casa de partida. Chamou-lhe ‘Vamos para a tua terra’, claro está, para desconstruir o insulto que a extrema-direita tem usado como arma contra os emigrantes, refugiados e demais pessoas racializadas. O último episódio é dedicado aos nossos vizinhos do sul, os marroquinos e o seu território, da neve do Atlas às areias escaldantes do Saara. Verdadeiro serviço público que Hugo serve com tempo e genuína curiosidade sobre outras culturas e povos. E que aqui neste episódio explica o que o levou a fazê-lo.
Desta vez, e a partir desta semana, cada conversa, cada episódio, passa a estar dividido em duas partes, mas pode ser ouvido de uma só vez. Ou em momentos diferentes.
Pode ouvir a segunda parte aqui:
Na segunda parte da conversa, aborda-se como a voz pública de Hugo tem sido importante a vários outros níveis. Como pelo facto de se afirmar um homem gay, deitando abaixo muitos preconceitos e empoderando muitas outras pessoas LGBTQIA+ por passarem a vê-lo como uma referência queer com visibilidade, fora do armário. “Nunca fiz um ‘coming out’. Quando me apaixonei pela primeira vez por um amigo informei em casa e pessoas amigas e nunca mais foi assunto”, chega a afirmar neste episódio.
E aqui se aborda também a forma natural como Hugo tornou público como vive com o transtorno bipolar diagnosticado já na fase adulta, que implica terapia e medicação para o resto da vida. Como sabemos, os assuntos da saúde e doença mental são cada vez menos um tabu, e a experiência da pandemia obrigou-nos a enfrentar esse tema, mas ainda há muito caminho para fazer nesse campo e é sempre bom haver quem fale sem pudores e em nome próprio sobre o assunto. E sobre isto Hugo deixa claro: “Falei da minha bipolaridade porque senti que podia ser útil falar desta experiência que envolveu sofrimento e caminho para perceber que é preciso pedir ajuda.”
Não falamos dos limites do humor, mas falamos dos novos movimentos da extrema-direita, assim como a cultura “woke” e o que algumas pessoas chamam de “Cultura de Cancelamento”. E sobre tudo isto Hugo esclarece as suas posições, as suas inquietações e dúvidas. E chega a dizer: “Ser bem-educado é tornar o outro importante através da conversa. E perguntar, por exemplo, ‘como quer que o trate, que pronomes usa?’ Vejo muita zanga e é preciso haver compreensão, paciência, empatia e pontes de entendimento. E estar do lado de quem expressa que há qualquer coisa que a sociedade valida e que causa sofrimento nos outros.”
E que mais? Hugo conduz também o podcast “Ponto de desencontro” com conversas improváveis onde se cultiva a diferença com base nos livros e em todas as possíveis interpretações que cada um de nós pode fazer a partir delas. E, com o seu primo Martim Sousa Tavares, conduz na Antena 3 o podcast “Duas pessoas a conversar”.
Prestes a terminar o seu primeiro romance, Hugo van der Ding revela também neste episódio que se quer dedicar cada vez mais à escrita, seja do ponto de vista literário, ou a escrever para teatro e cinema. E atira: “Quero ganhar sete Óscares!”
E ainda fala de viagens, amizade, amor, sexo e dá-nos música e poesia.
Como sabem, o genérico é uma criação original da Joana Espadinha. Os retratos são da autoria de Nuno Fox. A sonoplastia deste podcast é do João Ribeiro e teve o apoio de Salomé Rita.
Voltamos para a semana com mais uma pessoa convidada. Até lá, já sabem: pratiquem a empatia, boas escutas e boas conversas!
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