O tema da pandemia do Covid-19 que nos diz respeito a todos, e que atinge o país e o mundo, é o ponto de partida para esta conversa com o escritor João Tordo que acaba de sair de um período de auto-isolamento por prevenção de eventual contágio da doença por ter participado no Festival Literário Correntes d´Escritas. Falou-se dos excessos que se andam a viver, do medo, do bom senso, da solidariedade, e dos ingredientes deste cenário que poderiam eventualmente dar um bom livro. “Já houve ficções vagamente parecidas com isto, embora nessas ficções normalmente haja zombies. Mas também acho que seria cruel para qualquer romancista ou ficcionista estar a usar isto como arma para ficção, porque enfim isto é a realidade.”
E embora a realidade tantas vezes inspire a ficção, João Tordo alerta para a importância do tempo. “Leva algum tempo. Não se escreveu sobre Auschwitz na semana a seguir a ter acabado a [Segunda] Guerra [Mundial]. Estas coisas demoram algum tempo. E, neste momento, o mais significativo é como nós estamos a reagir a isto. Vou seguindo a coisa não só nas redes sociais que utilizo, e não são muitas, mas sobretudo na reacção das pessoas que me são mais próximas e com quem falo. E há uma polarização estranha. Já ouvi pessoas a dizerem que ‘isto não é nada, é só uma gripe’ e, por outro lado, vi uma senhora numa farmácia ao pé da minha casa a comprar doze garrafas de litro daquele gel desinfetante. Doze. E depois teve uma enorme dificuldade em carregar as garrafas para fora da farmácia. As pessoas ficaram a olhar para ela. É um bocadinho ridículo pensar que levar 12 garrafas de gel e 80 rolos de papel higiénico para casa me vai libertar do mal ou libertar da doença.”
Neste episódio, o escritor fala do seu passado, de como durante uns tempos se sentiu ‘um andarilho’ após ter ganho o Prémio Saramago e como se libertou dessa pressão mediática e deslumbramento. E fala também dos seus fantasmas e sombras. E, claro, dá-nos música. E até trauteia um tema...Tudo isto e muito mais para ouvir neste episódio do podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”.
Mais uma vez, a edição áudio é do Rúben Tiago Pereira. E, como habitual, o genérico desta temporada é uma criação original do músico Luís Severo.
Mantemos o desafio a todos os ouvintes para que enviem as suas opiniões, sugestões, histórias e comentários para o seguinte email: abelezadaspequenascoisas@impresa.pt
Voltamos para a semana. Até lá, pratiquem a empatia e boas conversas!
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