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“Exortamos do fundo dos nossos corações que cessem todas as hostilidades”

“Exortamos do fundo dos nossos corações que cessem todas as hostilidades”

Cristina Pombo

Coordenadora da Secção Internacional

Getty Images

Bom dia!

Tem início esta segunda-feira, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, a cimeira sobre a questão palestiniana e a solução de dois Estados, que reunirá chefes de Estado e de Governo e será co-presidida por França e Arábia Saudita. O objetivo deste encontro, que decorrerá à margem da Assembleia Geral da ONU, é tentar avançar na “solução de dois Estados”, que permita a israelitas e palestinianos coexistirem dentro de fronteiras seguras e reconhecidas globalmente.

Em abril, durante um discurso proferido no Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU António Guterres chamou a atenção para o “risco” de este processo “desaparecer completamente”. Mais recentemente, Guterres voltou a colocar o dedo na ferida: “Qual é a alternativa? Uma solução de um Estado, no qual os palestinianos ou são expulsos, ou são forçados a viver nas suas terras sem direitos?” E instou a comunidade internacional a “manter viva a solução de dois Estados e, então, materializar as condições para que ela se concretize”.

22 de setembro de 2025 pode ser o dia de todas as decisões. Na véspera, vários países anunciaram o reconhecimento do Estado da Palestina - Reino Unido, Canadá e Austrália foram os primeiros - Portugal seguiu-lhes o exemplo. Ao início da noite, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, anunciou: “Hoje, dia 21 de setembro de 2025, o Estado português reconhece oficialmente o Estado da Palestina”. “Exortamos do fundo dos nossos corações que cessem todas as hostilidades”, disse ainda o chefe da diplomacia portuguesa, exigindo a “libertação de todos os reféns”. Espera-se que nos próximos dias o mesmo passo seja dado por França, Bélgica, Malta, Luxemburgo, Andorra e São Marino.

A decisão portuguesa tem o “pleno apoio” do Presidente da República. À chegada a Nova Iorque para participar na 80.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou: “O caminho é defender a moderação, afastar-se dos radicalismos. Portugal, desde sempre e com todos os presidentes, defendeu o princípio de dois Estados soberanos. Atuar neste momento é atuar para haver uma hipótese no sentido de haver dois Estados”, disse aos jornalistas.

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas - a quem Washington recusou a emissão de um visto de entrada e por esse motivo não estará presente na AG da ONU - aplaudiu a decisão do Reino Unido pelo reconhecimento da Palestina como Estado. Menos satisfeito está, naturalmente, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que fez saber que “nenhum Estado palestiniano será criado a oeste do [rio] Jordão”, num vídeo dirigido aos líderes ocidentais, nomeadamente do Reino Unido, Canadá e Austrália. E chegou mesmo a afirmar que o seu Governo expandirá os colonatos na Cisjordânia ocupada.

Sharren Haskel, vice-ministra dos Negócios Estrangeiros israelita disse que Telavive está “extremamente desapontada” com Portugal, numa entrevista concedida à agência Lusa, mas afastou retaliações diplomáticas contra Portugal, preferindo sublinhar a “grande cooperação em bastantes domínios” entre os dois países.

OUTRAS NOTÍCIAS
Violência. Cinco suspeitos com idades entre os 19 e 29 anos foram detidos pela PJ do Funchal depois de terem sequestrado, agredido a soco, pontapé e bastonada um homem que filmaram a confessar uma violação que não cometeu. A vítima foi encontrada nua num local ermo em São Roque do Faial.

Autárquicas. Habitação, segurança e mobilidade dividiram os candidatos à Câmara do Porto no debate a cinco na SIC. Todos prometem mais casas, exceto o candidato do PSD que prefere a aposta em “espaços verdes”.

Rússia. Uma aeronave russa invadiu este domingo, pela segunda vez em três dias, o espaço aéreo da Estónia sobre o Mar Báltico, o que obrigou a acionar dois caças alemães para intercetá-la. Segundo a Força Aérea da Alemanha, o avião de reconhecimento russo Il-20M desligou os seus transponders e ignorou os pedidos de contacto. Até quando é que a NATO vai tolerar as violações do espaço aéreo por parte da Rússia?, perguntam José Milhazes e Nuno Rogeiro no seu espaço de análise Guerra Fria.

Funeral. Donald Trump transformou a homenagem ao ativista conservador Charlie Kirk, assassinado a 10 de setembro, num ato político-religioso perante dezenas de milhares de pessoas no estádio State Farm, no Arizona. O Presidente dos EUA descreveu-o como um “mártir da liberdade americana”.

Brasil. Dezenas de milhares de brasileiros saíram ontem à rua em várias cidades do país para exigir que o ex-Presidente Jair Bolsonaro não seja amnistiado. Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão no início deste mês por vários crimes, entre os quais tentativa de golpe de Estado.

Viagem. Durante três anos, a família Saldanha-Pisco deu a volta ao mundo a bordo de um veleiro, e agora, dois anos após o regresso a casa ainda tentam readaptar-se: do sonho ao regresso à rotina, contam ao Expresso como é voltar a viver em terra firme.

FRASES
“Reconhecer a Palestina nestas condições (ou, melhor dizendo, sem condições) não é um acto de justiça, é um erro” Pedro Gomes Sanches, no Expresso

“Portugal não reconheceu propriamente o Estado da Palestina. Limitou-se a seguir a tradição da sua política externa, seja qual for o governo ou regime: evitar até ao limite ter uma política externa” Daniel Oliveira, no Expresso

OS NOSSOS PODCASTS
❌Reconhecimento da Palestina é “fundamental”: mostra “claramente” oposição à política seguida por Israel: Helder Gomes conversa com o antigo secretário-geral-adjunto da ONU Victor Ângelo, em O Mundo a Seus Pés

✡️Nuno Rogeiro: “O Estado Palestiniano tem que reconhecer Israel e dizer ‘queremos coexistir’”, no podcast Leste-Oeste

🏠O que vai acontecer com o crédito à habitação nos próximos meses? Pedro Andersson, jornalista especializado em Finanças Pessoais, responde no podcast Contas-poupança

⭐“Pelo meio tivemos sucessos. Mas o sucesso, ao contrário do fracasso, é silencioso”: Rui Lopes, CEO da AgentifAI, no podcast o CEO é o Limite

O QUE ANDO A VER
“À Primeira Vista”, por Margarida Vila-Nova

Recomeça hoje a nova temporada do monólogo interpretado de forma sublime pela atriz Margarida Vila-Nova e encenado por Tiago Guedes. O espetáculo, que se estreou em julho de 2024, é a versão portuguesa de “Prima Facie”, da dramaturga, advogada e argumentista australiana Suzie Miller. A história centra-se em Teresa, uma jovem advogada, que, a determinada altura da vida, é vítima de violência. A peça vai estar em cena no Teatro Maria Matos, até 9 de dezembro, às segundas e terças, e vale muito a pena ir ver!

E com esta sugestão imperdível termino o Curto desta segunda-feira. Continue desse lado, porque ao longo do dia ainda temos para lhe oferecer muito mais notícias, vídeos e podcasts no Expresso, Tribuna, Boa Cama Boa Mesa, Blitz e Sic Notícias.

Boa semana!

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: cpombo@expresso.impresa.pt

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