Médio Oriente

Diplomacia de Israel “extremamente desapontada” com reconhecimento português do Estado da Palestina

Sharren Haskel, vice-ministra dos Negócios Estrangeiros de Israel
Sharren Haskel, vice-ministra dos Negócios Estrangeiros de Israel
João Carlos Santos

Vice-ministra dos Negócios Estrangeiros israelita defende que o reconhecimento do Estado da Palestina, “na realidade, não vai mudar muito” nas atuais frentes de crise, dominadas pela guerra na Faixa de Gaza. Diz-se desapontada com Portugal, mas afasta retaliações diplomáticas

Sharren Haskel, vice-ministra dos Negócios Estrangeiros israelita afirmou hoje que Telavive está “extremamente desapontada” com Portugal e outros países que se preparam para reconhecer o Estado Palestiniano, criticando “iniciativas unilaterais” que afastam as partes de um compromisso.

Em entrevista à agência Lusa, Sharren Haskel lamenta que o reconhecimento do Estado Palestiniano, já anunciado por Reino Unido, Canadá e Austrália, a que se juntará ainda hoje Portugal, “na realidade, não vai mudar muito” nas atuais frentes de crise, dominadas pela guerra na Faixa de Gaza e nos territórios ocupados na Palestina.

“Para se resolver um conflito são necessários dois lados e, quando se dão passos unilaterais, isso só leva o outro lado a também dar passos unilaterais e afasta qualquer opção de compromisso de ambas as partes”, comentou.

A número dois da diplomacia israelita evitou alongar-se sobre os contactos com o Governo português nos últimos dias, referindo apenas que “tudo foi dito formalmente, nos canais adequados” sobre o reconhecimento da Palestina.

“Estamos extremamente desapontados com os países e líderes que optam por reconhecer o Estado palestiniano, porque, na verdade, isso recompensa o Hamas e recompensa o terrorismo. Penso que não o teriam feito em nenhum outro caso no mundo”, condenou, aludindo ao grupo islamita palestiniano, em guerra com Israel desde os ataques de 07 outubro de 2023 em solo israelita, que fizeram cerca de 1.200 mortos e 251 reféns.

Sharren Haskel observou que “o Hamas está a celebrar” as atuais iniciativas diplomáticas de reconhecimento da Palestina - que incluem ainda França, Bélgica, Malta, Luxemburgo, Andorra e São Marino -, “porque sabem que estão a ser recompensados pelo pior massacre de judeus desde o Holocausto”.

Afastadas retaliações contra Portugal

A vice-ministra dos Negócios Estrangeiros afastou porém retaliações diplomáticas contra Portugal, salientando “as boas relações” com um país que continua a ser visto como “um aliado” de Telavive.

“Temos uma grande cooperação em bastantes domínios. Muitos israelitas escolhem Portugal não só como destino turístico, mas também, nalguns casos, como residência e há uma grande comunidade israelita que está a prosperar. Existe, portanto, uma relação e uma ligação muito estreita e esperamos e contamos obviamente que estas relações continuem”, manifestou.

Segundo a vice-chefe da diplomacia israelita, a iniciativa de uma dezena de países ocidentais em relação à Palestina tem origem no Presidente francês, Emmanuel Macron, que “tem liderado estes esforços contra Israel e em apoio ao Hamas”, o que merece “uma forte resposta” de Telavive.

“As relações entre Israel e França estão tensas devido às escolhas de Macron, que encorajou e fortaleceu o Hamas em tempos de guerra”, apontou, a propósito dos pronunciamentos do líder francês sobre a guerra na Faixa de Gaza e a crise israelo-palestiniana.

Por outro lado, relacionou as decisões agora tomadas por vários países sobre a Palestina com “pressões internas”, como disse ser o caso do Reino Unido, apesar do seu papel histórico na região.

“É importante compreender que muitos destes reconhecimentos, incluindo o Reino Unido, o Canadá e a Austrália, não têm a ver com política externa ou internacional”, segundo Sharren Heskel, mas com “uma grande imigração do Médio Oriente” nestes países, que acabam por promover “muito racismo e muito ódio contra Israel e contra a comunidade judaica”.

A governante cita a “explosão de antissemitismo crescente” naqueles Estados, com raízes na imigração do Médio Oriente e suas aprendizagens anteriores nas escolas dos países de origem, “demonizando os judeus e Israel”, adicionando também o exemplo de “mais de 200 deputados britânicos eleitos com uma margem muito pequena, que dependem largamente dessas comunidades”.

As declarações de reconhecimento do Estado Palestiniano têm levantado receios sobre eventuais retaliações sobre os territórios ocupados por Israel, havendo planos já anunciados de expansão de colonatos e a proposta da ala radical do Governo israelita de anexação da Cisjordânia, o que é considerado “uma linha vermelha” para várias diplomacias ocidentais, incluindo Paris.

A política de Israel “tem sido a mesma nesse domínio nos últimos dois anos e mesmo antes disso”, afirmou Sharren Haskel, referindo que as operações militares na Cisjordânia “decorrem desde o início do dia 07 de outubro [2023]” e vão continuar.

“Desde esse massacre, o Hamas tem apelado a todas as organizações terroristas para que se levantem e lutem. Não se limitaram a matar israelitas (…) mas também têm lutado contra a Autoridade Palestiniana”, advertiu, e esta tem sido “incapaz de restaurar a estabilidade”.

Apesar dos relatos de violência crescente de colonos israelitas e dos militares contra a população palestiniana, a governante argumenta que, em muitas partes da Cisjordânia, “as Forças de Defesa de Israel entraram para ajudar, para tentar erradicar todas estas células terroristas caóticas” nos territórios ocupados.

“Se isso vai continuar enquanto houver caos, mortes e atividades terroristas, claro que sim”, declarou, ressalvando que esta postura ”não é uma novidade” desde o início da guerra, e, “na verdade, a questão é que nada vai mudar”.

Em relação aos colonatos a resposta segue no mesmo sentido, porque “a política do Governo de Israel não mudou desde antes da guerra até agora”, assinalou a vice-ministra dos Negócios Estrangeiros, que devolve a questão ao que entende ser a sua essência, ou seja, “a forma como Israel pensa que o conflito israelo-palestiniano deve ser resolvido”.

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