Bom dia,
Começo por apresentar as minhas desculpas, mas ainda não é hoje o dia em que o Expresso Curto volta a ser servido livre da pandemia. É que mesmo que a discussão já esteja sobretudo centrada em como se relançarão economias e vidas, a ordem continua a ser para ficar em casa, para ter cuidado, para usar máscara e não facilitar. Afinal, não diziam há umas semanas que é de uma guerra que se trata?
António Costa já falou do medo de ter de se valer de uma fisga, do risco de ter de lutar com uma ligeira pressão de ar e do sonho de contar com uma bazuca para a batalha que se avizinha dura. Na busca de armas que reúnam consenso, ontem foi dia de mais um Conselho Europeu e a versão menos letal parece ter ficado afastada. “Fisga não será de certeza. Resta saber se será pressão de ar ou uma bazuca”, disse o primeiro-ministro no final da reunião.
Para já foram aprovadas linhas de apoio rápidas a rondar os 540 mil milhões de euros e que deverão começar a ser disponibilizados aos 27 membros no próximo mês. Parece muito dinheiro? Não é. A 'bazuca' com que António Costa sonha é um fundo de recuperação que poderá rondar os 1,5 biliões de euros. O que se sabe e o que ainda está por definir, pode ler AQUI.
Venha a festa de Abril
E lá chegámos à véspera do 25 de Abril que mais polémica gerou nos últimos anos. O local da celebração, as ausências e as presenças, o número de convidados, as regras e o local da celebração, tudo foi discutido. Afinal, em época de pandemia e, sobretudo, com críticos e apoiantes com demasiado tempo livre, é fácil lançar abaixo-assinados contra e a favor, trocar insultos e ofensas durante dias a fio. Numa altura em que liberdades e direitos se discutem como nunca, o essencial será cumprido e a data não deixará de ser assinalada, na Assembleia da República, à janela a cantar a Grândola Vila Morena ou pelo Facebook. Os detalhes pode ler aqui, 25 de Abril sempre, mas em modo virtual. As comemorações pelo país.
O trambolhão do comércio internacional
As últimas previsões do Fundo Monetário Internacional são tudo menos animadoras. Se com a crise de 2009 o produto mundial registou uma quebra de 0,1%, agora a estimativa é que a redução seja de 3%, resultado de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, da instabilidade no mercado petrolífero e, naturalmente, de uma pandemia cuja total extensão dos danos continua por se descobrir. Para tentar perceber o titubeante equilíbrio da economia global, vale a pena ler “Como a covid-19 provocou o colapso do comércio internacional”.
O PS contra a banca
Não seria preciso recuar muitos anos para ler 'PS ameaça a banca' como se uma piada fosse, talvez até título do Inimigo Público. No entanto, a provar que os tempos são mesmo únicos, parece que entre socialistas há agora vontade de controlar a atuação da banca nacional no apoio a famílias e empresas durante a crise causada pela pandemia. Para o efeito, diz o deputado João Paulo Correia, no horizonte pode estar uma comissão de inquérito para avaliar a validade das queixas que têm surgido quanto a dificuldades em aceder a linhas de crédito. Pode ler tudo AQUI, mas fique a saber que a ideia está longe de reunir consenso entre os partidos com assento parlamentar.
Imobiliário
Nem só a atuação da banca nacional começa a fazer soar alarmes. Também no sector imobiliário há riscos e nesse caso uma das ameaças está bem identificada - os fundos “oportunistas”, especialistas em comprar a preço de saldo e em vender apenas depois da recuperação do mercado. Como o Blackstone, um dos tais fundos, fez a maior transação do sector em centros comerciais nacionais (900 milhões de euros) com a crise de 2012 e como o mercado se prepara agora para reagir à crise causada pela covid-19, pode ler AQUI.
A frase
“Uma tragédia humana inimaginável”
Hans Kluge, diretor regional da Organização Mundial da Saúde para a Europa, comentando o facto de metade das mortes causadas pelo coronavírus na Europa terem sido registadas em lares de idosos
O regresso ao mar
Soube-se ontem que Federação Portuguesa de Surf e Associação Nacional de Surfistas propuseram ao Governo que a partir do próximo dia 3 de maio se possa regressar às ondas. À Tribuna, João Paulo Rebelo já garantiu que a esperança do Governo é mesmo que no próximo mês algumas atividades desportivas possam ser retomadas e que ainda espera por mais propostas para encontrar a melhor forma de o conseguir nas diferentes modalidades. Depois, assegura o secretário de Estado do Desporto e da Juventude, o plano será levado a Conselho de Ministros e, tudo correndo como planeado, aplicado a partir do próximo mês. Por todos os motivos, esperemos que sim.
O que ando a ouvir
Oito anos de intervalo entre discos seria motivo suficiente para me obrigar a ir ouvir o que andou Fiona Apple a fazer. Estrela na música ainda adolescente e desde sempre senhora do seu nariz – chamem-lhe carreira se preferirem –, "Fetch the Bolt Cutters" chega quando a sua Nova Iorque passa por uma crise quase sem precedentes. Em dez pontos possíveis, a Pitchfork classificou-o como um 10. Eu ainda não decidi se o coloco na divisão de Pet Sounds ou de Revolver, mas que tem rodado em loop, tem. Que me parece o melhor dos seus cinco discos, parece. Dez? Talvez.
O que ando a ler
Fugir ao coronavírus foi o primeiro critério na escolha do último livro a que me lancei. Para isso, exclui livros com referências a crises financeiras, guerras ou a qualquer das catástrofes que podem estar a chegar como ondas de choque da pandemia. Assim, acabei por deitar as mãos às memórias de Prince. Desde a forma como escolheu o autor (sem nunca o ter formalmente contratado ou sequer lhe ter dito para que escrevia), à viagem dos primeiros sucessos até ao estatuto de 'Sua Alteza Púrpura' e com centenas de manuscritos e fotos inéditas do próprio, "The Beatiful Ones" tem sido uma boa companhia. Quanto mais não seja porque ajuda a escolher uma banda sonora animada para estes dias e porque a única má notícia é mesmo lembrar que de Prince não voltaremos a receber música nova. Afinal, os incríveis também morrem.
Tenha um bom dia
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