Boa tarde, esta é a sua newsletter Expresso Longevidade
Começamos por um estudo que é tudo menos futurologia: em breve seremos mais e estaremos mais velhos. Esta é uma das conclusões do Ageing Report, documento publicado a cada três anos pela Comissão Europeia – desde 2006 – que apresenta projeções demográficas, económicas e orçamentais detalhadas para os Estados-membros da UE e Noruega.
Com a esperança média de vida a aumentar à nascença – em 2023 o número subiu para os 91,5 anos -, a população da União Europeia (UE) deverá aumentar de 449 milhões de pessoas em 2022 para 453 milhões em 2026, antes de diminuir para 432 milhões em 2070. Ao mesmo tempo, prevê-se uma “forte deslocação ascendente” da distribuição etária em todos os Estados-membros, com a dimensão dos grupos etários mais velhos a aumentar, enquanto os escalões mais jovens diminuem.
Mas, e em Portugal? Daqui a 46 anos, o país terá uma população de aproximadamente 8,9 milhões de pessoas, das quais 33,6% com 65 ou mais anos. Um dado que cria desafios transversais, à economia, saúde, finanças públicas, trabalho, sustentabilidade dos sistemas sociais. A análise indica que, nas próximas décadas, o rácio de dependência de idosos “aumentará acentuadamente” em todos os Estados-membros. Trata-se de um indicador que mostra que a população idosa e a população em idade ativa passará de 36% em 2022 na UE para 59% em 2070. No caso de Portugal, a subida é ainda maior: de 40,7% para 67,8%.
Foquemo-nos no trabalho: das 83 mil pessoas qualificadas e sem emprego entre os 45 e os 64 anos de idade, quase 80% deixaram de o procurar – o que comprova a dificuldade de encontrar uma nova oportunidade nesta fase da vida. “Um desperdício de talento”, nas palavras de Vera Norte, assessora da dNovo, uma associação que ajuda quem está nesta situação a regressar ao mercado de trabalho. Há exceções, claro, como a história que lhe contámos aqui sobre Blanca Silva, que depois dos 50 anos fundou uma empresa chamada Nena Selected Coffee.
Mas a estatística é difícil de contrariar: a maior participação de pessoas mais velhas e de mulheres não será suficiente para compensar o declínio da população em idade ativa. O número de pessoas com idades entre 55 e 64 anos a trabalhar na UE deverá aumentar de 65,4% para 75,5%, enquanto se prevê que a população ativa diminua 12%, ou seja, menos 25 milhões de pessoas. No nosso país, espera-se que a população ativa – dos 20 aos 64 anos – sofra uma redução de 58,4% para 49,6%.
O segredo do riso
A pressão imposta pelo envelhecimento tem dado origem a diversas organizações que se ocupam dos mais velhos. Além da criação do Plano de Ação para o Envelhecimento Ativo e Saudável, lançado pelo anterior Governo, têm-se multiplicado as estruturas residenciais, o apoio aos cuidadores, projetos para combater a solidão e promover a interação social das camadas mais velhas. Mas tudo isto se mostra ainda insuficiente num país como Portugal, com números tão elevados de envelhecimento da população.
Essa é a razão para os especialistas em geriatria terem defendido a necessidade de de programas de cuidados de saúde específicos para idosos integrados no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Será oportuno lembrar que Portugal ocupa atualmente o segundo posto na lista de países da UE com mais pessoas acima dos 65 anos. Reunidos em Lisboa, em 20 de Maio, destacaram a importância de aplicar e tornar acessível em todo o país programas especializados na área da Medicina Geriátrica, considerando que "apresentam tanto benefícios clínicos, como económicos significativos".
É, no entanto, preciso ver o lado positivo. Esta é a mensagem de Osvaldo Macedo de Sousa, autor de um novo livro lançado com a Associação Coração Amarelo, em que cartoonistas de todo o mundo refletem, através de palavras e ilustrações, sobre os desafios que traz o avanço da idade. Historiador e investigador especializado em humor gráfico e caricatura reuniu os contributos de artistas de 24 países, juntando diferentes perspetivas sobre o confronto com o avanço da idade e os desafios associados ao envelhecimento.
Que o diga também Carlos Vidal, médico e humorista, que defende que o humor traz vários benefícios terapêuticos e que até escreveu uma tese de mestrado sobre o assunto. Vidal sentia que havia um foco da medicina nas emoções negativas. “As emoções positivas estão muito subvalorizadas. Decidiu seguir um objetivo: ”credibilizar o riso" e as conclusões do seu estudo são surpreendentes: o riso reduz o stress, diminui pressão arterial, provoca o relaxamento muscular e aumento do limiar da dor, além de queimar calorias, estimular o cérebro, contribuir para o controlo da diabetes e ajudar na fertilidade.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt