Finlandeses continuam mais felizes e benevolência aumentou na pandemia: o que revela o relatório sobre a felicidade global
Atos de benevolência – como fazer voluntariado, donativos ou ajudar desconhecidos – aumentaram durante os anos de pandemia, revela o Relatório da Felicidade Mundial, cujo primeiro lugar continua a ser ocupado pela Finlândia. Peritos acreditam que o tema do bem-estar deve assumir um papel de maior relevância nos próximos tempos
Pelo sexto ano consecutivo, a Finlândia surge no topo da lista dos países mais felizes do mundo, de acordo com o Relatório da Felicidade Mundial – um estudo anual publicado pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, divulgado esta semana. Portugal mantém a posição que ocupava no ano anterior – o 56.º lugar, com uma pontuação de 5,968 numa escala de zero a dez.
Depois da Finlândia (7,804) seguem-se Dinamarca (7,586), Islândia (7,530), Israel (7,473) e Países Baixos (7,403). A completar os primeiros dez surgem Suécia (7,395), Noruega (7,315), Suíça (7,240), Luxemburgo (7,228) e Nova Zelândia (7,123). No grupo dos 20 mais felizes estão ainda países como Austrália (12.º lugar), Estados Unidos (15.º) ou Reino Unido (19.º).
Quanto ao fim da tabela, o Líbano (136.º) e o Afeganistão (137.º) – marcados por contextos de guerra – continuam a ocupar os dois últimos lugares, com uma diferença notória: a média das avaliações é mais de cinco pontos inferior do que nos dez países mais felizes.
As classificações refletem uma média do período entre 2020 e 2022: mesmo com a pandemia de covid-19, as perceções das pessoas sobre o bem-estar têm sido “notavelmente resilientes”, realça o documento. “Mesmo durante estes anos difíceis, as emoções positivas permaneceram duas vezes mais predominantes do que as negativas e os sentimentos de apoio social positivo duas vezes mais fortes do que os de solidão”, aponta um dos autores do estudo, John F. Helliwell.
A avaliação baseia-se em três indicadores: avaliações sobre a vida, emoções positivas e emoções negativas. Os inquéritos são realizados pela empresa Gallup e, depois, a análise dos dados recolhidos tem em conta outras seis variáveis: rendimento, apoio social, esperança de vida saudável, liberdade, generosidade e corrupção.
Para o sucesso dos países nórdicos contribuem os “níveis geralmente elevados de confiança, tanto pessoal como institucional”, assim como, em relação à pandemia, o facto de registarem “taxas de mortalidade de um terço em comparação com a Europa Ocidental” nos anos de 2020 e 2021, indica o relatório.
O rio Tejo passa a dividir as estatísticas regionais Foto: Getty Images
Depois de dois anos de pandemia, foi a invasão russa da Ucrânia a marcar 2022. Apesar dos danos e sofrimento vividos em território ucraniano, o documento relata que as avaliações de vida no país, em setembro do ano passado, “permaneceram mais elevadas do que no rescaldo da anexação da Crimeia”, em 2014.
Tal deve-se a um “sentido mais forte de propósito comum, benevolência e confiança na liderança ucraniana”. A Ucrânia surge no 92.º lugar e a Rússia no 70.º. No ano passado, “a benevolência cresceu acentuadamente” na Ucrânia e “caiu significativamente” na Rússia.
A benevolência é, aliás, um dos aspetos em destaque neste relatório: verificou-se uma “expansão global” em 2020, mas sobretudo no ano seguinte – especialmente em termos de prestar ajuda a desconhecidos. E os dados de 2022 mostram que estes “atos pró-sociais” continuam a ser “cerca de um quarto mais comuns” do que antes da pandemia, demonstrando que “as grandes crises podem conduzir a melhorias na confiança, na benevolência e no bem-estar, se induzirem as pessoas a estender a mão para ajudar os outros”.
Os especialistas afirmam que o bem-estar irá situar-se no centro do debate político no futuro, dados os efeitos que tem em aspetos como a longevidade ou a produtividade, mas que ainda há muito a fazer neste campo. “O papel do bem-estar no desenvolvimento sustentável já está presente, mas o bem-estar deve desempenhar um papel muito mais central na diplomacia global e nas políticas internacionais e nacionais nos próximos anos”, defendem.