Guerra na Ucrânia

“Vamos conquistar a nossa terra, um centímetro de cada vez”: ao 748º dia de guerra, tropas pró-Kiev atacaram na fronteira com a Rússia

“Vamos conquistar a nossa terra, um centímetro de cada vez”: ao 748º dia de guerra, tropas pró-Kiev atacaram na fronteira com a Rússia
STRINGER/Reuters

Grupos de alegados voluntários russos a favor da Ucrânia atacaram zonas perto da fronteira – e deixaram um aviso ao Kremlin, a poucos dias das eleições presidenciais que Putin irá ganhar. Diretor da CIA pressiona republicanos no Congresso a desbloquear apoio a Kiev

O presidente da Câmara de Kursk, uma cidade russa perto da fronteira com a Ucrânia, anunciou há poucas horas o encerramento preventivo de todas as escolas e a imposição de aulas à distância de forma temporária. "Devido aos recentes acontecimentos, decidi que as crianças em idade escolar vão estudar à distância" até sexta-feira, 15 de março, escreveu o autarca Igor Kutsak, nas redes sociais.

A decisão foi tomada após terem sido registados ataques levados a cabo por grupos de voluntários – a maioria de nacionalidade russa – que combatem a favor da Ucrânia e contra o regime do Kremlin.

"A aldeia de Tiotkino, na região de Kursk, está totalmente controlada pelas forças de libertação russas", escreveu no Telegram um desses grupos, denominado Legião da Liberdade da Rússia, horas depois de anunciar uma “infiltração” bem sucedida em território russo. “Vamos conquistar a nossa terra, um centímetro de cada vez”, acrescentaram.

Estes voluntários garantem que o exército russo abandonou a aldeia durante os ataques – "deixando para trás posições e armas pesadas", segundo a agência de notícias francesa AFP.

O Ministério da Defesa confirmou a incursão nas regiões de Kursk e Belgorod, mas garante que infligiu baixas pesadas às forças pró-Kiev – cujos objetivos saíram “frustrados”, nota o Kremlin.

Os serviços de informações da Ucrânia sublinham que os grupos atuaram sem qualquer intervenção oficial de Kiev. Contudo, ao mesmo tempo que os voluntários atacaram a Rússia, os militares ucranianos levaram a cabo 25 ataques com drones e nove ataques com rockets contra várias cidades: Kursk e Belgorod, mas também Moscovo, Leningrado, Bryansk, Tula e Oryol. Foi um dos maiores ofensivas contra a Rússia desde o início do conflito, há mais de dois anos.

Em contrapartida, o Kremlin garante ter conseguido ocupar Nevelske, uma aldeia perto da região ucraniana de Donetsk.

A tensão na fronteira aumenta a poucos dias das eleições presidenciais na Rússia, que Vladimir Putin deverá vencer sem grande oposição. “As pessoas vão votar em quem querem, não em quem têm de votar. Os russos serão livres”, promete a Legião da Liberdade da Rússia.

Diretor da CIA pressiona Congresso dos EUA

Entretanto, o diretor da CIA foi ouvido no Congresso norte-americano e referiu-se à ajuda à Ucrânia bloqueada no Congresso: “Isto tem consequências para os interesses americanos… que estão relacionados com os nossos interesses no Pacífico”, sublinhou Williams Burns.

O chefe da CIA referia-se ao facto de representantes do Partido Republciano estarem a travar nova ajuda militar à Ucrânia – uma posição defendida por Donald Trump, candidato às presidenciais de novembro –, e de isso poder fragilizar as relações entre os EUA e a China.

Apesar do bloqueio político, dois responsáveis do governo norte-americano garantiram hoje que um novo pacote de ajuda militar no valor de €400 milhões está a ser preparado: será financiado através do Pentágono, evitando assim o voto no Congresso, e deverá ser anunciado publicamente na quinta-feira, segundo a Reuters.

Ao mesmo tempo, o “Financial Times” dá nota que Bruxelas também está a preparar mais financiamento para Kiev. Segundo quatro fontes ouvidas pelo jornal britânico, os estados-membros da União Europeia estão quase a chegar a acordo sobre o envio de equipamento militar no valor de €5 mil milhões.

Bill Clark

Outras notícias:

> A Polónia juntou-se à iniciativa da República Checa para comprar e entregar munições à Ucrânia com urgência. Sem dar mais detalhes, o ministro dos Negócios Estrangeiros polaco afirmou que a contribuição financeira do país é "significativa”. Bélgica, Dinamarca, Lituânia, Países Baixos e Canadá são alguns dos países que já aderiram.

> O secretário de Estado do Vaticano declarou hoje que a primeira condição para a paz na Ucrânia é o fim da agressão russa, após críticas de Kiev ao pedido do Papa para que as duas partes tivessem a coragem de levantar "a bandeira branca" e negociar. "Os agressores devem ser os primeiros a encerrar as hostilidades, para depois acontecer a abertura das negociações", disse o cardeal Pietro Parolin, numa entrevista ao jornal italiano “Corriere della Sera”.

> Uma semana após a publicação de um áudio em que oficiais da Alemanha falam sobre informação classificada relativa à guerra na Ucrânia, a Força Aérea alemã ordenou hoje o aumento da segurança das comunicações. "A necessidade de proteger a informação tornou-se ainda mais importante à medida que o processo de digitalização avança", lê-se numa mensagem enviada aos militares.

> O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, assinou hoje uma lei que permite aos militares congelar as suas células reprodutivas para que possam assegurar descendência através de técnicas de reprodução assistida após a sua morte.

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