A 600 km de Moscovo e uma hora e meia de carro da Ucrânia, veículos blindados, uma poça de sangue, um agente russo no chão e passaportes em seu redor compõem uma paisagem caótica no posto de fronteira de Grayvoron. Mesmo com a incursão gravada em vídeo e difundida nas redes sociais, com colunas militares e homens a correr estrada fora, e até depois de os representantes das milícias clamarem os seus objetivos a viva voz, o Kremlin rejeita que a oposição esteja a cerrar fileiras em território russo. É a primeira vez, desde que a Guerra na Ucrânia começou, há 15 meses, que grupos guerrilheiros russos afirmam ter “invadido” localidades da Rússia. A região de Belgorod está agora nas bocas do mundo, depois de a milícia “anti-Kremlin” Legião da Libertação da Rússia ter reivindicado que cruzou a fronteira, invadiu Kozinka e enviou unidades para Grayvoron.
Membros de uma unidade voluntária composta por cidadãos russos que lutam com as forças da Ucrânia contra o próprio país, os combatentes da chamada Legião da Libertação da Rússia juntaram-se em agosto para lutar pelo lado ucraniano, em torno das linhas fronteiriças. Juntou-se-lhe, na iniciativa militar, outro grupo armado contra Putin e liderado por um nacionalista, o Corpo Voluntário Russo. Kelly Grieco, perita em estratégia e política de Defesa dos EUA, segurança internacional e alianças militares, explica ao Expresso que ambos os grupos são “compostos por russos étnicos, incluindo cidadãos russos”, e que alguns membros “são neonazis reconhecidos e extremistas da ala direita”. A Legião da Libertação da Rússia foi fundada na primavera de 2022 para lutar em nome da Ucrânia, diz que coopera com os militares ucranianos e opera sob o comando da Ucrânia. “O Corpo Voluntário Russo é um grupo de extrema-direita fundado em agosto passado e conhecido por lutar dentro da Ucrânia e na fronteira com o território russo. O líder desse grupo tem laços com grupos nacionalistas brancos na Europa. O grupo assumiu a responsabilidade por uma incursão em Belgorod em março.”
“São ambos certamente grupos reais”, garante ao Expresso Mark Cancian, antigo conselheiro do Departamento de Defesa norte-americano. “Todas as guerras têm um elemento de guerra civil, e há seguramente russos insatisfeitos que podem pegar em armas para se opor ao seu Governo. E, se a imprensa russa está a dizer que a Rússia lançou ataques aéreos contra os grupos, então há claramente uma oposição armada lá.” Mas será essa oposição, como advogam os aliados de Putin, organizada por Kiev?
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