Quem era Vladlen Tatarsky? Fervoroso defensor da guerra na Ucrânia, blogger esteve na linha da frente em 2014
Retrato de Vladlen Tatarsky num memorial improvisado junto ao local da explosão, em São Petersburgo
OLGA MALTSEVA
Nascido em Makiivka, na Ucrânia, Vladlen Tatarsky esteve preso e juntou-se às forças separatistas apoiadas pela Rússia em 2014. Acabou por se dedicar aos blogues, destacando-se pelo apoio à guerra na Ucrânia, ao mesmo tempo que criticava “episódios individuais” sobre a atuação das forças russas no terreno. Morreu no domingo num ataque a um café em São Petersburgo
O influente blogger militar ultranacionalista Vladlen Tatarsky, morto no domingo num ataque a um café em São Petersburgo, na Rússia, era conhecido pelos fervorosos comentários a favor da guerra na Ucrânia, mas também por pontuais críticas às falhas russas no campo de batalha.
Tatarsky, cujo nome verdadeiro é Maxim Fomin, nasceu há 40 anos na cidade de Makiivka, na região ucraniana de Donetsk. Utilizava o apelido do protagonista do romance “Geração ‘P’”, publicado em 1999, do autor russo Victor Pelevin. Trata-se de um poeta falhado que acaba por se tornar redator de anúncios, numa história que se situa nos primeiros anos de Boris Ieltsin como Presidente russo, com o objetivo de criticar o consumismo e a corrupção da época.
Antes de ser blogger, Tatarsky começou por trabalhar como mineiro, seguindo-se um negócio de mobiliário. Com dificuldades financeiras, assaltou um banco e foi preso. Conseguiu fugir durante uma rebelião separatista apoiada pela Rússia, semanas depois de Moscovo ter anexado a Crimeia, em 2014 – e foi nesse ano que se juntou às forças separatistas para lutar na linha da frente.
Acabou por se dedicar aos blogues com popularidade crescente – tinha mais de 500 mil seguidores no Telegram. Nos comentários de apoio à invasão russa da Ucrânia, não distinguia entre alvos civis e militares. “Felicito todos, todos os que esperaram até este momento. Vamos derrotar todos, vamos matar todos, vamos roubar todos os que precisamos. Tudo será como quisermos”, dizia num vídeo em setembro, no Kremlin, a propósito da anexação russa de quatro regiões ucranianas.
Vladlen Tatarsky foi morto enquanto liderava uma discussão num café nas margens do rio Neva, no centro histórico de São Petersburgo
Apesar de entusiasta da guerra, por vezes criticava a forma como era conduzida. Em várias publicações no ano passado, apontou o dedo ao comandante responsável por uma tentativa fracassada de atravessar um rio na região de Donetsk. “Até descobrirmos o nome deste ‘génio militar’ que desperdiçou o BTG [grupo tático do batalhão] perto do rio e ele responder publicamente por isso, não haverá reformas no exército”, apontou.
Em declarações por escrito à CNN, explicou que não criticava a apelidada operação militar especial russa enquanto um todo, mas sim “episódios individuais”, salientando acreditar que a Rússia iria alcançar os objetivos na Ucrânia. “Farei pessoalmente todos os esforços nesse sentido”, garantiu em maio.
Ainda assim, aproveitou para apelar à mudança. “Todas as áreas precisam de ser melhoradas. Cada guerra revela alguns inconvenientes, deficiências ou falsas experiências, experiências que precisam de ser ajustadas às realidades modernas. Portanto, absolutamente todas as esferas precisam de reforma”, defendeu.
Apoiante do Grupo Wagner
Outra das críticas de Tatarsky aconteceu quando as forças russas se retiraram de Kherson, em novembro. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, visitou a cidade depois da retirada e o blogger quis saber por que motivo Moscovo não tinha aproveitado a oportunidade para o assassinar com um drone, recorda a Reuters.
Dugin e a filha no festival a que terão ido antes da explosão
Recentemente, demonstrou forte apoio ao Grupo Wagner e à ofensiva destes mercenários russos em Bakhmut. Publicou um vídeo do líder, Yevgeny Prigozhin, a visitar um centro desportivo e, horas antes de morrer, escreveu até um comentário de apoio a uma fotografia onde se vê um cartaz de recrutamento Wagner: “É bom ver tal publicidade ao ar livre.” Já Prigozhin reagiu à morte do blogger com um vídeo em que diz estar a erguer uma bandeira com a frase “em boa memória de Vladlen Tatarsky”.
No domingo, Tatarsky dava uma palestra perante cerca de 100 pessoas num evento organizado pelo grupo “Cyber Z Front” – o nome refere-se à letra Z, que a Rússia adotou como símbolo da guerra. Uma explosão ocorreu depois de uma mulher, que se identificou como Nastya, oferecer um busto de Tatarsky ao próprio.
Entretanto, a jovem suspeita do ataque, a ativista Darya Tryopova, foi detida. Este poderá ter sido o segundo ataque do género na Rússia, depois da morte de Darya Dugina, em agosto – a filha do filósofo ultranacionalista Alexander Dugin morreu na explosão de um carro. Dugina e Tatarsky foram fotografados juntos várias vezes.
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes