Rússia: ativista antiguerra detida por suspeita de envolvimento no homicídio à bomba do 'blogger' Vladlen Tatarsky

As autoridades russas anunciaram hoje a detenção de uma jovem suspeita do ataque a bomba que matou no domingo o 'blogger' militar russo Vladlen Tatarsky e feriu mais de 30 pessoas em São Petersburgo.
Os investigadores russos "detiveram Darya Tryopova, suspeita de participação na explosão no café de São Petersburgo" no domingo, anunciou o Comité de Investigação da Rússia na rede social Telegram.
A mulher é identificada como uma ativista anti-guerra, que já tinha sido detida por participar numa manifestação contra a invasão da Ucrânia.
Num vídeo, a testemunha Alisa Smotrova disse que uma mulher, que se identificou como Nastya, fez perguntas e trocou impressões com Tatarsky durante a discussão.
Nastya disse ter feito um busto do blogger, mas suspeitando que este pudesse ser uma bomba, os guardas pediram que fosse deixado à porta. Nastya e Tatarsky riram-se. A mulher foi então buscar o busto e ofereceu-o a Tatarsky, que o terá colocado numa mesa próxima.
Vladlen Tatarsky, cujo nome real era Maxim Fomin, contava com mais de meio milhão de seguidores no Telegram. Cerca de 30 pessoas ficaram feridas na sequência da explosão, informou o ministério da Saúde do país.
Um grupo patriótico russo, organizador do evento, disse ter tomado medidas de segurança, mas reconheceu que “foram insuficientes”.
Smotrova descreveu pessoas a correr em pânico, algumas delas feridas e cobertas de sangue.
De acordo com media russos, investigadores estão a considerar o busto a possível fonte da explosão, embora não descartem a possibilidade de um explosivo ter sido colocado no café antes do evento.
Até ao momento, ninguém reivindicou publicamente o atentado, mas bloggers militares e comentadores apontaram de imediato o dedo à Ucrânia, comparando este incidente ao homicídio, em agosto passado, de Darya Dugina, comentadora televisiva e filha de Alexander Dugin, filósofo russo próximo do Kremlin. Darya morreu quando o carro em que seguia explodiu.
Na altura, as autoridades russas atribuíram a culpa aos serviços secretos militares da Ucrânia, embora Kiev tenha negado o envolvimento.
Entretanto, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, afirmou já que as atividades de Tatarsky “valeram-lhe o ódio do regime de Kiev” e observou que há muito este e outros bloggers militares russos enfrentam ameaças ucranianas.
Um responsável do Governo ucraniano classificou a explosão que matou Tatarsky como parte da turbulência interna.
“A questão de quando o terrorismo doméstico se tornaria num instrumento de luta política interna [na Rússia] era uma questão de tempo”, escreveu o assessor presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak no Twitter.
Tatarsky nasceu no Donbas, coração industrial da Ucrânia, e trabalhou como mineiro antes de iniciar um negócio de mobiliário. Ao passar por dificuldades financeiras assaltou um banco, cumprindo por isso pena de prisão. Tatarsky escapou durante uma rebelião separatista apoiada pela Rússia, em 2014, semanas após a anexação da Crimeia por Moscovo. Depois disso, juntou-se a rebeldes separatistas e lutou na linha de frente, antes de se dedicar aos blogues.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: piquete@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes