Guerra na Ucrânia

Serviços secretos ucranianos denunciam brutalidade na atuação do Grupo Wagner no leste do país

Mural em Belgrado (Sérvia) a apelar ao recrutamento no grupo Wagner
Mural em Belgrado (Sérvia) a apelar ao recrutamento no grupo Wagner
OLIVER BUNIC / AFP / GETTY IMAGES

Um relatório dos serviços secretos destaca a atuação do conjunto envolvido nos fortes combates que decorrem na região de Bakhmut, onde o uso de granadas e drones tem sido fundamental. Elevado número de baixas e a forma como são tratados os feridos são outros pontos destacados

Um relatório dos serviços secretos ucranianos demonstra como os combatentes do Grupo Wagner, apesar de encarados como descartáveis, têm sido eficazes nos combates realizados nos arredores de Bakhmut. O grupo de mercenários russo tem estado fortemente envolvido nos intensos combates em Soledar, na região de Donetsk.

Datado de dezembro, o relatório obtido pela CNN conclui que o grupo liderado pelo oligarca russo Yevgeny Prigozhin representa uma forte ameaça, apesar do elevado número de baixas. “A morte de milhares de soldados Wagner não importa à sociedade russa. Os grupos de assalto não se retiram sem um comando. A retirada não autorizada de uma equipa ou sem estarem feridos é punível com execução no local”, lê-se no documento.

Os membros do grupo que ficam feridos são frequentemente deixados no campo de batalha durante horas. “A infantaria de assalto não está autorizada a transportar os feridos para fora do campo de batalha por conta própria, uma vez que a sua tarefa principal é continuar o assalto até que o objetivo seja alcançado. Se o assalto falhar, a retirada é permitida apenas durante a noite”, acrescenta o relatório.

Além da indiferença pelas vítimas, a análise ucraniana salienta que as táticas do Grupo Wagner são “as únicas que se revelam eficazes para as tropas mobilizadas mal treinadas, que constituem a maioria das forças terrestres russas”. Mais: o Exército russo pode até estar a adaptar as táticas, para se tornar mais parecido com o Grupo Wagner. “Em vez dos clássicos grupos táticos de batalhão das Forças Armadas russas, são propostas unidades de assalto”, refere o relatório.

Os combatetes Wagner são organizados em grupos móveis de cerca de uma dúzia, utilizam granadas lançadas por foguetes e exploram o uso de drones em tempo real, o que o documento classifica como “elemento-chave”. Recorrem ainda a equipamentos de comunicação da Motorola, empresa que garantiu à CNN ter suspendido todas as vendas à Rússia e ter encerrado as operações no país.

O elevado número de vítimas está relacionado com o facto de, na maioria das vezes, reclusos formarem a primeira vaga de um ataque. Seguem-se combatentes mais experientes e mais protegidos, por exemplo com equipamento de visão noturna. O major-general Isidro Pereira já tinha explicado anteriormente ao Expresso que os membros do grupo - que tem recrutado dezenas de milhares de prisioneiros - são “lançados em vagas para a frente das posições defensivas da Ucrânia”, funcionando como “carne para canhão”.

Para as forças ucranianas, os drones são determinantes para evitar que sejam “esmagadas” pelos ataques com granadas. O relatório conta um incidente, ocorrido em dezembro, em que um drone avistou o avanço de um conjunto Wagner, o que permitiu que as defesas ucranianas o eliminassem antes de as granadas serem disparadas.

Os serviços secretos indicam também que quando as forças Wagner conseguem assumir uma posição, o apoio da artilharia permite-lhes cavar trincheiras, mas estas são vulneráveis a ataques em terreno aberto e muitas vezes é inexistente a coordenação entre os membros do grupo e os militares russos.

No dia 11 de janeiro, Prigozhin anunciou a captura da cidade de Soledar, algo não reconhecido pela Ucrânia. Dois dias depois, o Ministério da Defesa russo declarou a vitória. “Nenhuma outra unidade além da Wagner esteve envolvida na captura de Soledar”, garantiu Prigozhin. O líder acrescentou que o grupo é, provavelmente, “o exército mais experiente do mundo atual” e “continuará a avançar” com os seus próprios meios.

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