Rússia utilizou mísseis produzidos nos últimos meses em ataque recente à Ucrânia
Ataque atingiu a região de Kiev a 23 de novembro
NurPhoto/Getty Images
Restos de dois mísseis que atingiram Kiev a 23 de novembro mostram que ambos foram fabricados recentemente, apesar das sanções e de dependerem de componentes com origem na Europa e nos Estados Unidos
Os mísseis de cruzeiro usados pela Rússia no ataque em grande escala à Ucrânia há duas semanas foram fabricados nos últimos meses, apesar das sanções em vigor, demonstra um relatório divulgado esta semana pela Conflict Armament Research, organização sediada no Reino Unido que acompanha e investiga o fornecimento de armas em locais de conflito.
A 23 de novembro, as forças russas realizaram um ataque com mísseis contra a Ucrânia. Infraestruturas críticas foram afetadas e milhões de ucranianos ficaram sem eletricidade ou água em várias regiões, como Kiev. No terreno, uma equipa de investigação da Conflict Armament Research analisou os restos de dois dos mísseis que atingiram a capital ucraniana.
Trata-se dos mísseis russos Kh-101, que voam em baixa altitude para evitar os sistemas de radar e cujo modelo mais recente está em utilização desde 2013. As marcas nos restos analisados indicam que as duas armas foram produzidas entre julho e setembro e entre outubro e novembro deste ano.
Segundo a Conflict Armament Research, estes mísseis são “fortemente dependentes” de componentes e tecnologias produzidos por empresas nos Estados Unidos e na Europa. Um outro relatório da organização, divulgado no final de novembro, também demonstrou que os drones com origem no Irão que a Rússia tem utilizado para atacar a Ucrânia são construídos com peças maioritariamente criadas nessas mesmas regiões.
Uma simulação de um ataque com drone durante o treino de um militar da 63ª brigada do exército ucraniano, pouco antes da reconquista de Kherson
A investigação conclui, assim, que a Rússia ainda tem a capacidade de produzir armas guiadas, como são exemplo os mísseis Kh-101, apesar das sanções impostas devido à invasão da Ucrânia – iniciada no dia 24 de fevereiro –, com o objetivo de privar Moscovo dos componentes necessários para fabricar as munições. O oitavo e mais recente pacote de sanções da Comissão Europeia contra a Rússia, aprovado em outubro, incluiu um reforço da proibição de exportações de produtos essenciais ao sector tecnológico de armamento.
Ainda no dia 23 de novembro, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmou que o fornecimento de armas guiadas de precisão à Rússia foi “significativamente reduzido” e que seria mais difícil para os russos produzi-las rapidamente devido às “restrições comerciais” sobre elementos como microchips.
O líder da investigação da Conflict Armament Research considera que é difícil dizer se a Rússia está a ficar com falta deste tipo de armas. “Essas alegações têm sido feitas desde abril. Estamos apenas a apontar para o facto de que estes mísseis de cruzeiro terem sido fabricados tão recentemente pode ser um sintoma disso, mas não é uma certeza”, referiu Damien Spleeters ao “The New York Times”.
A análise aponta que o recurso a armas guiadas apenas meses após o fabrico pode ser um sinal de dificuldades em termos de stock de material deste nível. Na condição de anonimato, um analista do Departamento de Defesa dos Estados Unidos confirmou ao diário norte-americano que a Rússia está a ter problemas com o arsenal de munições.
O analista acrescenta que o Governo russo ordenou o aumento do número de horas de trabalho dos funcionários das fábricas para a produção de mais material e que a Rússia está a disparar menos armas de longo alcance, como mísseis de cruzeiro, num menor número de alvos na Ucrânia.
Os investigadores documentaram ainda os fragmentos de outros dois mísseis Kh-101, que também continham marcas que revelam a data de fabrico. Neste caso, eram anteriores à invasão da Ucrânia. Um dos mísseis foi produzido entre abril e junho de 2018 e atingiu Kiev em junho de 2022, enquanto outro foi fabricado entre outubro e dezembro de 2019 e atingiu a capital ucraniana em outubro deste ano.
Os ataques russos ao sistema energético ucraniano, incluindo uma nova onda de bombardeamentos na segunda-feira, têm dificultado o restabelecimento do abastecimento, à medida que as temperaturas baixam no país. O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, disse na terça-feira que os ataques dos últimos meses danificaram 35% das principais infraestruturas energéticas.
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