Drones iranianos utilizados pela Rússia na Ucrânia têm componentes fabricados nos Estados Unidos
Uma simulação de um ataque com drone durante o treino de um militar da 63ª brigada do exército ucraniano, pouco antes da reconquista de Kherson
SOPA Images
Análise a restos de três drones demonstra que 82% das peças são provenientes dos Estados Unidos. Dispositivos cada vez mais avançados a nível tecnológico têm sido uma das principais armas na guerra na Ucrânia
Os drones com origem no Irão que a Rússia tem utilizado para atacar a Ucrânia são construídos com peças maioritariamente criadas em empresas nos Estados Unidos e também na Europa, revela um relatório divulgado esta semana pela Conflict Armament Research, organização com sede no Reino Unido que monitoriza o fornecimento de armas em locais de conflito.
A maioria das peças que a investigação examinou e conseguiu identificar, como semicondutores, contém marcas que indicam que o fabrico ocorreu nos últimos anos, sobretudo em 2020 e 2021, mas também já este ano. Não se sabe exatamente como chegaram ao Irão, país que está sob sanções que restringem a importação deste material.
Desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro, que o Irão tem negado a acusação sobre o fornecimento de equipamento militar à Rússia. A equipa da Conflict Armament Research analisou os restos de três modelos de drones iranianos: os Shahed 131 e 136, que destroem alvos quando os atingem, e o Mohajer-6, de vigilância.
“Em três modelos, vimos mais de 500 componentes diferentes. Identificámos mais de 70 fabricantes em 13 países diferentes e cerca de 82% destes componentes foram fabricados nos Estados Unidos”, disse Damien Spleeters, que liderou a investigação, ao “The New York Times”.
Para Spleeters, o facto de tantos componentes terem origem nos Estados Unidos e em países da União Europeia demonstra a ineficácia das sanções em vigor contra o Irão. “Muito frequentemente, quando falo com os reguladores, a conversa vai para o quão difícil é regular essas coisas porque elas estão em todo o lado.”
A equipa também encontrou um elevado número de chips baratos e comuns nos drones analisados. “Muitos dos chips que acabam em sistemas militares como drones também têm utilizações de consumo generalizadas. O que isso significa é que estão disponíveis para compra para fins de consumo ou civis em muitos países e, por isso, não há um controlo próximo sobre o destino desses chips quando chegam aos distribuidores e depois aos utilizadores finais”, explicou Chris Miller, professor universitário e autor do livro “Chip War”, ao “The New York Times”.
Desta forma, embora seja “ilegal” que uma empresa dos Estados Unidos transfira chips “diretamente para o Irão para este tipo de utilização”, é “simples” que os dispositivos sejam “transferidos para um país terceiro e depois alguém no país terceiro os transfira para o Irão, por exemplo”, acrescentou Miller.
Ao longo do conflito, tanto a Rússia como a Ucrânia têm utilizado drones, não apenas enquanto plataformas de vigilância e reconhecimento, mas também como transporte de mísseis e granadas para atingir alvos. Os ataques têm causado fortes impactos no terreno.
Além dos drones fornecidos por países aliados, a Ucrânia também adaptou a funções militares modelos destes dispositivos disponíveis no mercado civil. Este tipo de material tem feito a diferença não apenas no domínio aéreo, mas também naval. Há ainda novos sistemas de informação em tempo real que facilitam e aceleram tomadas de decisão.
Com a evolução tecnológica ao longo dos últimos anos, os meios utilizados em território ucraniano são mais sofisticados e têm maior precisão. Especialistas militares consideram que a Ucrânia tem sido um palco de ensaio de novas armas e de outras que, apesar de já existirem, ainda não tinham sido testadas num campo de batalha.
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