Irmãs de Filipe VI vacinaram-se em Abu Dhabi. Ministra da Saúde prefere “exemplaridade” dos reis, que aguardam “como o resto dos espanhóis”
Elena e Cristina de Borbón à saída de uma cerimónia religiosa em Madrid, em 2015
Fotonoticias/Getty Images
Elena e Cristina de Borbón receberam dose da vacina chinesa durante uma visita ao pai, Juan Carlos, em Abu Dhabi. Filipe VI demarca-se, anunciando que esperará pela sua vez e que as irmãs não fazem parte da família real
A ministra da Saúde espanhola, Carolina Darias, criticou esta quarta-feira, de forma indireta, as irmãs do rei Filipe VI, que se fizeram vacinar contra a covid-19 em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Elena e Cristina de Borbón, de 57 e 55 anos respetivamente, não cumprem critérios de prioridade para serem imunizadas em Espanha.
As infantas foram inoculadas com uma vacina chinesa durante uma visita ao pai, o rei emérito Juan Carlos, que se instalou no Médio Oriente no verão passado, após divulgações de obscuras manobras financeiras. A notícia foi dada pelo jornal digital “El Confidencial”, que informou que também o antigo monarca foi vacinado, tal como o antigo diretor dos serviços de informações espanhóis (CNI), Félix Sanz Roldán, que o visitou.
“Neste país precisamos de exemplaridade e por mim fico com a de Suas Majestades, que, como o resto dos espanhóis, serão vacinadas quando for a sua vez e com a vacina que lhes calhar”, afirmou a ministra Carolina Darias, inquirida sobre o assunto numa conferência de imprensa.
Juan Carlos também foi imunizado
A governante falou depois de Elena e Cristina terem explicado, num comunicado assinado pela primeira, que se vacinaram para poderem ter “um passaporte sanitário” que lhes permitisse visitar “regularmente” o progenitor.
Juan Carlos I é alvo deste mural do artista Roc BlackBlock em Barcelona, ao lado do filho e atual rei, Filipe VI, e do ditador Francisco
A concórdia que reinava entre pai e filho em 2014, ano da passagem de testemunho entre reis, desapareceu nos anos seguintes Carlos Alvarez/Getty Images)
Terão recebido a vacina Sinopharm em fevereiro, quando foram ajudar Juan Carlos a mudar-se do hotel Emirates Palace, onde vivia desde agosto de 2020, para uma moradia de 4150 metros quadrados na ilha de Nurai. O ex-monarca, de 83 anos, também foi imunizado, tendo tido uma reação virulenta à vacina, que é habitual, segundo o jornal “La Vanguardia”.
“Ofereceram-nos a possibilidade de sermos vacinadas, que aceitámos”, lê-se no comunicado de Elena, a mais velha dos três filhos de Juan Carlos e Sofia, que fez chegar a informação às redações espanholas através de WhatsApp. “Se não fosse por esta circunstância teríamos acedido ao turno de vacinação em Espanha quando nos calhasse”, acrescenta.
Vacinadas antes da mãe, de 82 anos
A reação do palácio da Zarzuela, residência oficial de Filipe VI, foi frisar que as infantas Elena e Cristina não fazem parte da família real nem representam a Coroa, e que o chefe de Estado “não é responsável pelos atos das suas irmãs” nem comenta assuntos privados delas.
Filipe, no trono desde 2014 por abdicação do pai, quis reduzir a dimensão da família real. Compõem-na apenas ele e a mulher, as duas filhas e os pais. Juan Carlos está, porém, afastado e mantém escassa relação com o filho e sucessor. O casamento com a rainha emérita Sofia não existe há muitos anos além do papel.
O primeiro-ministro Pedro Sánchez e o rei emérito Juan Carlos nas comemorações do 40.º aniversário da Constituição espanhola, em 2018
O primeiro-ministro Pedro Sánchez entre os reis Filipe e Letizia, durante a parada militar do Ano Novo, a 6 de janeiro de 2021. À esquerda, a ministra da Defesa, Margarita Roble
O atual rei fez saber que tanto ele como a rainha Letizia, e as filhas de ambos, Leonor e Sofia, serão imunizados quando receberem indicação das autoridades de saúde. O mesmo vale para a mãe de Filipe, a rainha emérita Sofia, de 82 anos. A infanta Elena visitou-a na Zarzuela esta quarta-feira.
Governo unânime na crítica
Além da ministra da Saúde, a notícia levou vários membros do Governo de Pedro Sánchez a expressar desconhecimento e reprovação em relação às filhas de Juan Carlos. Ministro socialistas como Nadia Calviño (Economia) e Miquel Iceta (Política Territorial), ou do esquerdista Unidas Podemos, como Pablo Iglesias (vice-primeiro-ministro), Yolanda Díaz (Trabalho) ou Irene Montero (Igualdade) censuraram em público Elena e Cristina.
O rei dispensaria seguramente mais uma polémica com familiares seus. Cristina foi, na década passada, a primeira pessoa da família real a sentar-se no banco dos réus (foi absolvida), no âmbito do processo que mantém na prisão o seu marido, Iñaki Urdangarín. Filipe VI retirou-lhe o título de duquesa de Palma de Maiorca, que Juan Carlos lhe atribuíra quando se casou.
Já o rei emérito pagou há dias quatro milhões de euros de dívidas ao fisco, por receitas não declaradas. Está sob investigação e decidiu, no verão passado, sair do país. Os jornais espanhóis asseguram, porém, que tenciona regressar nas próximas semanas, tendo a regularização de impostos visado pô-lo a salvo de processos judiciais.