"Tento não guardar más memórias das adversidades ou dificuldades"
D.R.
Francisco Rodrigues, é o CEO da PICadvanced e um dos seis finalistas da 9ª edição em Portugal do EY Entrepreneur of the Year, a que o Expresso se associa. É a terceira das seis entrevistas que vamos publicar ao longo do mês de junho com cada um dos escolhidos na antecâmara do decisão final que será conhecida a 29 de junho. Até lá saiba mais sobre os nomeados e o prémio
Como consequência de uma nomeação externa, resultando na entrevista presencial com a equipa da EY, encarei a candidatura a este prémio como um momento de reflexão da forma como a PICadvanced cresceu e como eu cresci com ela ao longo dos últimos nove anos. Estar entre os seis finalistas é importante e expressa a história de crescimento da empresa, e a minha enquanto empreendedor, sendo a mesma validada por um júri reconhecido, o que comprova que tanto a equipa que compõe a empresa como eu enquanto pessoa que a lidera estamos no caminho certo.
As telecomunicações sugiram por acaso ou desde cedo foram uma ambição?
Acima de tudo eu queria uma área científica ligada com engenharia o mais próximo possível perto da matemática e da física, havendo a especial curiosidade em torno de como funcionam os computadores e os sistemas eletrónicos. Assim, escolhi o curso de Eletrónica e Telecomunicações que tem um plano curricular vasto e abrangente sendo que durante o curso interessei-me pelo ramo das telecomunicações e mais tarde pelas comunicações óticas e o seu hardware. Hoje em dia as minhas funções são maioritariamente de gestão, mas gosto de me continuar a ver como engenheiro de telecomunicações dando apoio técnico nas várias áreas da empresa e também ajudando na formação de vários alunos principalmente da Universidade de Aveiro.
Quais foram as principais influências durante este período?
Ao longo do meu percurso de crescimento tive a sorte de me cruzar com diversas mentes que me foram guiando e moldando. Do ponto de vista de valores-base e rigor ético, as maiores influências são os meus pais pela educação que me proporcionaram. Na área do associativismo juvenil/início do empreendedorismo foi sem dúvida a equipa que conheci na Associação Juvenil de Ciência e que fez parte da minha história de crescimento e vontade para fazer parte do grupo daqueles que querem mudar e fazer crescer organizações. Mais tarde, no caminho científico e no mundo empresarial, os meus colegas da PICadvanced mas em particular destaque o professor António Teixeira que me convidou para fazer parte da PICadvanced desde o início, orientou-me no meu percurso técnico e profissional, apostou em mim para ser CEO da empresa e é ainda hoje a pessoa que mais me desafia a fazer mais e melhor.
Obstáculos e riscos foram, ou melhor, são uma constante?
O dia a dia de um empreendedor é o enfrentar desafios, identificar novas oportunidades que irão trazer novos obstáculos e dificuldades. A adversidade gera disrupção mas permite o sucesso, colocando-nos novos caminhos pela frente e permitindo saltos quânticos, levando-nos a novos níveis. Posto isto, tento não guardar más memórias das adversidades ou dificuldades, mas sim guardar memórias das lições que me trouxeram. Recordo num determinado momento da qualificação do nosso primeiro produto, quando surgiu um obstáculo técnico que poderia deitar por terra toda a tecnologia e consequentemente a sobrevivência da empresa àquela data. Após várias tentativas conseguimos ultrapassar esse obstáculo o que nos colocou numa posição pioneira e com a vantagem competitiva que ainda hoje temos.
A imagem do empreendedorismo em Portugal é a mais adequada?
Em termos de reconhecimento, creio que os empreendedores não o são para serem reconhecidos. Os que conheço fazem-no porque não sabem estar de uma forma diferente na vida que não seja resolver problemas que contribuam para a melhoria de um mercado, a maior parte das vezes com um impacto profundo na sociedade. Olhando pelo outro lado, a sociedade em geral quer novas empresas e melhor economia para um país que possa crescer e ser melhor. Os jovens portugueses são altamente qualificados e têm ferramentas como mais nenhuma geração teve, estando agora na hora de demonstrarem que podem capitalizar o conhecimento adquirido e transformá-lo em valor e competitividade. Quanto ao apoio, para uma empresa nascer e no seu início, são necessários apoios de infraestrutura, mentoria e revisão profunda da coerência do seu plano de negócios, e para isso já existe em Portugal uma rede bastante vasta, na minha opinião. No caso particular da PICadvanced tivemos bastante apoio da Incubadora de Empresas da Universidade de Aveiro, bem como de outros programas para que fomos sendo alertados. Quanto à execução do plano de negócios, geração de valor e criação de condições para os colaboradores, estamos em Portugal muito aquém das melhores práticas. A carga fiscal para qualquer empresa é elevada e se uma start-up der lucro nos seus primeiros anos terá de pagar impostos sobre isso, impedindo o reinvestimento, justamente na altura em que mais está a crescer e conquistar mercados. Contudo o mais proeminente são os impostos sobre os salários que retiram muita competitividade a uma start-up para contratação de recursos humanos altamente qualificados em número suficiente para a execução do seu plano de negócios. Hoje em dia, muitos jovens portugueses altamente qualificados, continuam a viver em Portugal a trabalhar como prestadores de serviços ou colaboradores de empresas multinacionais que contratam em Portugal, pois conhecem os excelentes recursos humanos que aqui há. Oferecem salários que uma pequena empresa portuguesa, em fase de crescimento com fundos limitados, não consegue competir, criando um problema estrutural no crescimento da nossa economia.
Quais são os próximos objetivos?
Algo que aprendi ao longo destes anos é que planear o futuro é um exercício importante para nos conseguirmos posicionar, mas que tem muito de incerto: quase sempre o que acontece está bastante longe do que planeámos, principalmente se for a longo prazo. Numa empresa e na vida é importante sabermos para onde queremos ir e termos o plano de negócios ou pessoal bem detalhado, mas mais importante é conseguirmos adaptar-nos às novas circunstâncias e aproveitar o máximo delas. Para o futuro os meus planos são continuar ter a sorte de trabalhar a fazer o que mais gosto, e que isso passe por um crescimento satisfatório pessoal na PICadvanced, criando impacto no mundo da ótica integrada, das telecomunicações na sociedade através da maneira como comunicamos.
A vida em três atos
Música favorita
“As músicas têm diferentes impactos consoante o momento em que estamos e eu não consigo identificar nenhuma como favorita. Mas neste momento estou a ouvir “The Times They Are A-Changin’” do Bob Dylan”.
Para cantar no carro neste momento a preferida é “É preciso que eu diminua” do Samuel Úria".
Objeto de que não abdica no dia a dia
Atualmente, "os headphones”.
Citação favorita
“Posso deixar um pedaço de Alberto Caeiro que reflete um pouco como vejo a vida”:
"Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, / Não há nada mais simples. / Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte. / Entre uma coisa e outra todos os dias são meus".
O que precisa de saber sobre o EY Entrepreneur of the Year
Com arranque nos EUA em 1986, o EY Entrepreneur of the Year já se realizou em mais de 60 países,com um total aproximado de 10 mil candidaturas. Em Portugal,esta é a 9ª edição.
Guy Villax, António Rios de Amorim, Dionísio Pestana ou Belmiro de Azevedo são alguns dos vencedores portugueses.
Líderes como Jeff Bezos,da Amazon, Howard Schultz,da Starbucks, Michael Dell,da Dell Computer Corporation,ou Guy Laliberté, fundador do Cirque du Soleil, são alguns dos mais destacados vencedores internacionais.
A seleção foi resultado de um processo que combinou a recolha de informação com uma entrevista pessoal com o empreendedor, realizada por uma equipa sénior da EY. A informação foi então integrada num dossier sobre cada candidato e entregue ao júri, encabeçado por António Horta Osório, para definir os seis finalistas entre todos os candidatos.
Os principais critérios para avaliação do empreendedor são: propósito, crescimento, espírito empreendedor e impacto.
Após nova reunião do júri para chegar ao veredicto final, o grande vencedor será conhecido numa gala a realizar a 29 de junho.
Daniela Braga, diretora executiva da Defined.ai, considera que os criadores de inteligência Artificial que propagam xenofobia ou sexismo devem ser penalizados