O Governo caiu, mas eleições só em março? E o Parlamento, ainda funciona? 6 perguntas e respostas para entender o essencial desta crise
RODRIGO ANTUNES
Lítio, hidrogénio, investigações, buscas, demissões, governo em queda, orçamento em risco e eleições à vista. O frenesim mediático dos últimos dias foi intenso. Para que não se perca na avalanche de informação, o guia da crise política em curso em seis pontos-chave.
Entre os locais da operação estiveram o Palácio de São Bento (residência oficial do primeiro-ministro) e vários ministérios, além das residências privadas de membros do círculo próximo de António Costa. Foram detidas cinco pessoas.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou também a abertura de um inquérito-crime ao primeiro-ministro, que foi apanhado nas escutas realizadas aos telemóveis de arguidos, detidos e suspeitos sob investigação. O Ministério Público suspeita que o chefe do governo possa ter tido conhecimento dos factos sob investigação e tenha intervindo “para desbloquear procedimentos”. Será investigado separadamente pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), por ser primeiro-ministro.
Depois de duas reuniões com o Presidente da República, António Costa apresentou a demissão.
Diogo Lacerda Machado (amigo de António Costa e consultor);
Afonso Salema (CEO da Start Campus);
Nuno Lacasta (presidente da Associação Portuguesa do Ambiente);
Nuno Mascarenhas (presidente da Câmara Municipal de Sines);
Vítor Escária (ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro);
Rui Oliveira Neves (gestor da Start Campus).
O que se sabe sobre a acusação?
Segundo um comunicado da PGR divulgado na terça-feira, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) está a investigar crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência.
Em causa estão:
as concessões de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso (Boticas);
um projeto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines,
o projeto de construção de um centro de dados desenvolvido na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade “Start Campus”.
António Costa apresentou o pedido de demissão e Marcelo Rebelo de Sousa aceitou-o. No entanto, isso não significa que o governo já não esteja em funções.
De modo a preservar a aprovação do Orçamento do Estado para 2024, a 29 de novembro em votação final global, e a sua entrada em vigor, a aceitação formal da exoneração do atual primeiro-ministro só acontecerá “em inícios de dezembro” e a dissolução do Parlamento só irá acontecer a 15 de janeiro.
A dissolução da Assembleia da República e convocação de eleições era a única solução possível?
Depois do anúncio da demissão do primeiro-ministro, Marcelo Rebelo de Sousa convocou os partidos políticos representados na Assembleia da República e o Conselho de Estado, órgão político consultivo do Presidente da República, para se pronunciarem sobre qual o próximo passo.
Entre os partidos, a maioria pediu um cenário de dissolução do Parlamento e convocação de eleições legislativas antecipadas. António Costa e o Partido Socialista defenderam uma solução que passasse pela nomeação de um novo primeiro-ministro e formação de um novo governo suportado pela atual maioria parlamentar.
Na quinta, Marcelo Rebelo de Sousa falou ao país e desfez o tabu. Anunciou a aceitação da exoneração do primeiro-ministro, a dissolução do Parlamento e eleições antecipadas.
Como fica a situação política até lá?
O Parlamento fica em funções até 15 de janeiro. Quanto ao Governo deverá ser exonerado no início de dezembro e, como previsto no artigo 186.º, n.º 5 da Constituição, "após a sua demissão, o Governo limitar-se-á à prática dos atos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos".
E na prática, António Costa deverá permanecer como primeiro-ministro até que um novo governo tome posse. As eleições legislativas estão marcadas para 10 de março, mas o empossamento não será imediato. Tendo em conta a experiência das últimas legislaturas, pode demorar quase dois meses.
Esta é a oitava vez que a Assembleia da República será dissolvida, e a quarta nos últimos vinte anos. O impasse político (entre a demissão e as eleições) será o mais longo deste século. Marcelo Rebelo de Sousa deu cinco razões para a demora.
A investigação, que entretanto foi batizada “Operação Influencer”, continua e foi separada em várias partes, sendo esperado que em breve faça novos arguidos.
Agora que já está a par de toda a informação, pode continuar a acompanhar as últimas notícias da crise política aqui.