Economia

Gestor financeiro da TAP diz que os aviões da Airbus "foram caros e continuam a ser"

Gestor financeiro da TAP diz que os aviões da Airbus "foram caros e continuam a ser"
TIAGO MIRANDA

Gonçalo Pires considera que a injeção de fundos da Airbus, usados como prestações acessórias por David Neeeleman, "não é capital". E considerou que os 53 aviões adquiridos pela TAP na gestão do acionista norte-americano "foram caros"

Os novos aviões da TAP "são caros", admitiu o administrador financeiro da companhia, Gonçalo Pires, no Parlamento, explicando que têm um peso de 14,16% face às receitas, um "valor que não compara bem com as restantes companhias aéreas".

"Os aviões da Airbus foram caros e continuam a ser. Um valor que não compara bem com as restantes companhias aéreas", sublinhou.

Gonçalo Pires, ouvido no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da TAP de 2020 a 2022, sublinhou que a dívida da companhia no contrato da Airbus é um tema relevante. É que, recorde-se, ainda antes de se tornar acionista da TAP, David Neeeleman negociou com a Airbus a troca da frota encomendada pela companhia portuguesa, abdicando de 12 A 350 e encomendando 53 Neo.

Um acordo que rendeu a uma empresa de David Neeleman (a DGN) 226 milhões de dólares, que o investidor usou depois na privatização da TAP, como prestações acessórias.

"A Airbus é um parceiro estratégico da TAP", frisou o administrador financeiro, reconhecendo que não será fácil renegociar os contratos existentes, e "quase impossível" com os lessors, os financiadores do leasing das aeronaves.

E disse ainda que "a TAP mandou fazer um estudo [ao preço do leasing das aeronaves]. Esses estudo foi entrega à tutela", avançou. Foi considerado que a TAP foi penalizada nestes contratos, e o processo seguiu para o Ministério Público.

Uma dificuldade que não é sentida nas negociações com outros fornecedores. "A TAP já reviu contratos com 3000 fornecedores, e conseguiu uma poupança no valor de 150 milhões de euros", afirmou.

Saiu muita gente com valor da TAP

Aos deputados da comissão de inquérito, o administrador financeiro da TAP admitiu ainda que saíram muitos trabalhadores com valor da companhia no âmbito do plano de reestruturação, um processo que defendeu não ter acompanhado, uma vez que na altura em que houve mais saídas não fazia parte da comissão executiva.

"Saiu muita gente, sim; estamos a contratar muita gente, sim. Também porque a recuperação fez-se mais rápido do que se esperava", afirmou, em resposta ao deputado do PCP, Bruno Dias, que tinha considerado que faltavam trabalhadores na companhia. E acrescentou: "voluntariamente saiu muita gente. Saíram muitas pessoas de valor".

Precisou ainda: "estamos a contratar hoje porque a TAP está a recuperar. Estamos a voar mais e precisamos de mais engenheiros de manutenção". Para o futuro, e a ajudar os resultados, estarão os créditos fiscais conseguidos com uma decisão governamental, implementada no Orçamento do Estado para 2023, que irá permitir reduzir a fatura com impostos no futuro, abrilhantando os lucros vindouros - e a privatização.

Cinco horas de audição

As contas de 2022 da empresa já foram positivas, muito devido a este efeito, mas a administração da TAP não as pôde apresentar publicamente, sendo que tal deveu-se a uma ordem de João Galamba - com que Gonçalo Pires concordava, mas que assumiu não ser consensual em toda a equipa de administração; e que o ministro tinha dito que não era verdade. O PSD acusou Galamba de mentir e, apesar de já ter lido a ata, fez um requerimento a solicitar a sua entrega.

Na audição desta quinta-feira, a segunda do inquérito parlamentar, Gonçalo Pires defendeu ainda não ter tido intervenção na negociação para a saída da administradora Alexandra Reis em fevereiro de 2022 (com uma indemnização de meio milhão) - a única intervenção que assumiu foi comunicar a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a “renúncia”, que depois se verificou não ter sido bem "renúncia" à luz das regras de empresas públicas, mas defendeu que não era motivar para demitir-se.

O gestor revelou, ainda, que no ano passado uma indemnização paga em 2018, de 1,3 milhões, a um ex-administrador do tempo da maioria privada na TAP, foi considerada ilegal e terá de ser devolvida.

Na próxima semana, a comissão de inquérito segue com a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, e a administradora que acabou por desencadear a comissão de inquérito, Alexandra Reis, nos dias 4 e 5, respetivamente.

TIAGO MIRANDA

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