O ministro das Infraestruturas, João Galamba, enviou um e-mail à administração da TAP sobre a forma em que deveria ocorrer a apresentação dos resultados relativos a 2022, ano em que a transportadora regressaria ao lucro pela primeira vez desde 2017, e que seriam os últimos resultados a serem apresentados pela ainda presidente executiva, Christine Ourmières-Widener. Não houve conferência de imprensa, apenas um encontro com analistas porque a companhia aérea tem obrigações cotadas e nas mãos de vários investidores. O PSD quer ler esse e-mail, já que Galamba tinha negado no Parlamento ter dado qualquer ordem nesse sentido.
“O PSD vai dar entrada de um requerimento para ter acesso ao e-mail, instrução, ordem, para que o formato da conferência de imprensa fosse o que foi”, anunciou o deputado social-democrata Paulo Moniz na comissão de inquérito à TAP esta quinta-feira, 30 de março, perante o gestor financeiro da companhia, Gonçalo Pires, que confirmou que tinha existido um e-mail do Ministério das Infraestruturas sobre a matéria.
Para os sociais-democratas, essa comunicação é relevante porque, na sua ótica, há uma contradição face àquilo que foi dito por João Galamba no Parlamento há uma semana, quando negou ter dado alguma ordem para que Christine Ourmières-Widener, presidente executiva da TAP, não fizesse uma apresentação de resultados em conferência de imprensa com jornalistas: “Não foi impedida até porque nem foi pedido. Quando não se pede, não se pode ser impedido”.
Apesar de ter feito o requerimento, o PSD leu aquela comunicação: “os resultados da TAP deverão ser objeto de comunicação e não deve ser efetuada qualquer conferência de imprensa, ou dada qualquer entrevista sobre o assunto”. “Transmito que a posição referente ao modo foi previamente acordada com a área governativa das finanças”, são questões que estavam nesse e-mail, segundo citou o deputado social-democrata Paulo Moniz.
Gonçalo Pires confirmou o e-mail, e disse aos deputados que o Ministério das Infraestruturas comunicou que devia haver uma concentração na apresentação aos investidores, e que isso ia em linha de conta com a sua ideia.
“Como lhe disse, o meu entendimento e de muitos no Conselho de Administração é que devíamos optar pela discrição. Foi perguntado à tutela a forma como devíamos ter apresentado os resultados, e foi confirmado o dia e a forma”, continuou o responsável pelas finanças da TAP.
Gonçalo Pires assumiu ser amigo de João Galamba – “sou amigo, colega de faculdade, amigo há muitos anos, está entre o meu grupo de amigos chegados”. O que está no e-mail saído do Ministério das Infraestruturas é o que o PSD quer consultar.
O administrador financeiro esteve ao lado da presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, na apresentação de resultados de 2022 que ocorreu apenas em exclusivo perante investidores. Foram divulgados a 21 de março e foram lucros de 65,6 milhões de euros, o primeiro resultado positivo em cinco anos.
Porém, não houve qualquer conferência de imprensa, como é normal, não tendo os gestores sido confrontados com questões de jornalistas nem sobre as contas, nem sobre a exoneração de Christine Ourmières-Widener anunciado pelos ministros da tutela – João Galamba e Fernando Medina, ministro das Finanças.
O afastamento da presidente executiva e do presidente do conselho de administração, Manuel Beja, foi ditado na sequência da auditoria da Inspeção-Geral de Finanças, que diz que a CEO assinou, juntamente com o presidente da administração, o acordo para a saída de Alexandra Reis com uma indemnização de 500 mil euros, que considerou indevido. Uma saída que Gonçalo Pires, embora responsável pela área financeira, disse não ter tido qualquer envolvimento.
(Notícia atualizada às 20h58 com informações sobre a leitura do e-mail do Ministério das Infraestruturas)
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