Cultura

“Bolo de Noiva” de Joana Vasconcelos, inaugurado em Inglaterra, lembra “direito de aspirar à alegria”

Joana Vasconcelos diante do “Bolo de Noiva” com o barão Jacob Rothschild, que lhe encomendou a obra
Joana Vasconcelos diante do “Bolo de Noiva” com o barão Jacob Rothschild, que lhe encomendou a obra
Pedro Cordeiro

Presidente da República e ministro dos Negócios Estrangeiros estiveram na inauguração da nova peça da artista na residência histórica da família Rothschild, a noroeste de Londres. Marcelo disse-se encantado, Cravinho comparou o arrojo da obra ao palácio da Pena. “Bolo de Noiva” terá visitas guiadas entre 18 de junho e 26 de outubro

“Bolo de Noiva” de Joana Vasconcelos, inaugurado em Inglaterra, lembra “direito de aspirar à alegria”

Pedro Cordeiro

Enviado a Londres

“Isto é enorme! É uma casa!”, admirava-se Marcelo Rebelo de Sousa, quinta-feira à tarde ao entrar no “Bolo de Noiva” de Joana Vasconcelos, instalado nos jardins de Waddesdon Manor, residência que pertenceu à família Rothschild, 80 quilómetros a noroeste de Londres. O Presidente da República encerrou, com a inauguração da peça, a sua viagem ao Reino Unido para festejar 650 anos de amizade com Portugal.

A obra tem 12 metros de altura e a forma que lhe dá nome. A artista define-a como “entre a pastelaria e a arquitetura”, todo feito em cerâmica portuguesa. Marcelo, que cortou a fita inaugural horas depois de ter assistido, em Londres, à cerimónia evocativa da aliança anglo-luso, escalou dois dos quatro andares do “Bolo”, sem querer subir mais alto.

Foram usados na obra cerca de 25 mil azulejos da fábrica Viúva Lamego, 1238 peças de cerâmica e 3500 de ferro forjado, produzidas em Portugal. A montagem envolveu equipas portuguesas e locais.

Enquanto a artista explicava que a instalação levou cinco anos a materializar, um deles no terreno, com pandemia pelo meio, Jacob Rothschild, que a encomendou para o jardim da mansão que a sua fundação administra — mas que pertence desde 1957 ao National Trust britânico — celebrava “o triunfo do génio e da perseverança”.

O também quarto barão Rothschild tem na mesma propriedade outras duas peças da portuguesa, um bule em ferro forjado de nome “Salon de Thé”, e dois candelabros gigantes compostos por garrafas de vinho Château-Lafite, com o título “Lafite”. “Apaixonei-me pelo seu trabalho”, afirmou.

Amor por Portugal, pela cerâmica e pela tradição

Joana Vasconcelos referiu “um trabalho feito com muito amor, com amor incondicional por Portugal, pelo seu património, amor incondicional pela cerâmica e amor incondicional pela tradição”, e elogiou a equipa que a apoia. Agradecendo a Rothschild por ter “sonhado” com ela, assegurou que “sem a sua magia, confiança e visão, isto não teria sido possível”.

Numa festa sob clima incaracteristicamente quente, que reuniu algumas centenas de pessoas, estiveram o embaixador português em Londres, Nuno Brito; o seu homólogo britânico em Lisboa, Chris Sainty; a presidente das comemorações dos 650 anos de amizade entre Portugal e Inglaterra, Maria João Rodrigues de Araújo; o duque de Wellington, que horas antes oferecera aos dignitários lusos uma receção na casa da sua família em Londres, Apsley House; e o ministro dos Negócios Estrangeiros português.

MNE: “Alegria é a palavra que define o dia”

Coube a João Gomes Cravinho o discurso oficial, em que comparou o arrojo do “Bolo de Noiva” ao Palácio da Pena de Sintra, “incompreendido” quando o rei D. Fernando II o fez erigir no século XIX. “Alegria é a palavra que define o dia”, afirmou, assinalando a feliz coincidência de datas com o aniversário do Tratado de Amizade.

“Uma obra em que o artista é português, os materiais são portugueses, mas o contexto e o local são inequivocamente britânicos, é uma excelente combinação para celebrar os 650 anos”, declarou Cravinho.

“Fatia absurda de alegria”, “homenagem ao barroco português” e “joia indisfarçadamente festiva” foram expressões que o chefe da diplomacia usou para descrever a peça de Vasconcelos, a quem atribui o mérito de “costurar com cerâmica”. E rematou: “Joana é sinónimo de criatividade, de inesperado, de quebrar sempre novas barreiras nas expressões artísticas”.

Detalhe da decoração da obra, com azulejos da fábrica Viúva Lamego
Pedro Cordeiro

Cravinho recordou que Rothschild é comendador da Ordem do Infante D. Henrique desde 1985 e elogiou o seu gesto, que revela “visão” e “desejo de fomentar as artes”. As visitas guiadas ao “Bolo de Noiva” decorrem de 18 de junho a 26 de outubro.

Ao mesmo tempo, admitiu o ministro, uma peça tão colorida inaugurada num dia soalheiro levanta questões. “Como viver a felicidade quando há tanta tragédia à nossa volta?”, perguntou, para referir desafios como a guerra da Ucrânia ou as alterações climáticas. A resposta não tardou: “Todos têm o direito a aspirar à alegria!”.

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