O mundo está louco, esperemos até podermos estar juntos”, ouve ele da mulher com quem sonha casar em praia paradisíaca — é Elizabeth Shue quem fala, num muito breve papel. Tanto quanto se sabe, Tom Hanks escreveu aquela frase muito antes de sequer imaginarmos o que o mundo se tornaria neste 2020 — “Greyhound”, aliás, é a sua estreia como argumentista. Só que a frase soa agora com um sentido que ele não lhe deu. O filme que a Sony Pictures tinha previsto lançar há pouco mais de um mês não vai ter qualquer exploração comercial no grande ecrã por causa da covid-19, resta-lhe a distribuição em streaming. Já Hanks, ele que foi uma das primeiras estrelas de Hollywood, senão mesmo a primeira, a ter sido infetada pelo novo vírus (foi ele quem, involuntariamente, ‘apresentou’ a doença a tantos americanos com uma frontalidade e uma seriedade dignas de nota), andou a trabalhar dez anos para mostrar este filme em condições que ele não vai ter. E ficou destroçado, “com o coração partido”, contou há pouco ao “The Guardian”. A covid-19 “também nos partiu o coração a todos nós. Porque não temos cinemas.”
Visto o filme, que a Apple TV+ se encarregou de lançar (depois de ter pago à Sony 70 milhões de dólares, vencendo a disputa com a Netflix), percebe-se que as palavras do ator não foram mero desabafo e isso nem se deve tanto ao facto de ele ter escrito este papel à exata medida de si próprio. É que, se Hanks encarna como nenhum outro da sua geração o herói americano a partir de uma determinada fase da carreira (antes disso, era a América que estava apaixonada por ele), sempre preferiu fazê-lo com um uniforme vestido — e isto vem muito provavelmente dos anos 90 de Spielberg e dos tempos de “O Resgate do Soldado Ryan”. Tempos esses que também o levaram a ser Capitão Phillips no filme homónimo de Paul Greengrass. E o não menos corajoso Sully que amarou aquele Boeing no Rio Hudson, tal como Clint Eastwood o filmou em 2016.
Este é um artigo exclusivo. Se é assinante clique AQUI para continuar a ler. Para aceder a todos os conteúdos exclusivos do site do Expresso também pode usar o código que está na capa da revista E do Expresso.
Caso ainda não seja assinante, veja aqui as opções e os preços. Assim terá acesso a todos os nossos artigos.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt