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Ladj Ly, realizador de “Os Miseráveis”: “Soube que Macron viu o filme e que gostou. Tive pena que não nos visitasse”

“Os Miseráveis”, de Ladj Ly: para o cineasta, há qualquer coisa de Gavroche (de “Os Miseráveis” de Victor Hugo) nos miúdos do filme
“Os Miseráveis”, de Ladj Ly: para o cineasta, há qualquer coisa de Gavroche (de “Os Miseráveis” de Victor Hugo) nos miúdos do filme

Os arrabaldes de Paris estão a ferro e fogo em “Os Miseráveis”. Conversa com o realizador Ladj Ly, filho de imigrantes malianos, sobre um filme que saiu premiado de Cannes e chegou aos Óscares

Ladj Ly tem 39 anos, é francês, filho de imigrantes malianos, e cresceu em Montfermeil, onde o seu filme se passa. Em meados do século XIX também Victor Hugo falou dos excluídos daquele subúrbio parisiense no seu romance “Os Miseráveis”, clássico da literatura ocidental ao qual este filme, 150 anos depois, vai pedir emprestado o título. Acontece que, no trabalho de Ladj Ly, os excluídos são sobretudo os descendentes de uma imigração originária das antigas colónias do hexágono em África. Quando o filme começa, naquele movimento de massas em que tantos jovens comemoram a vitória francesa no Campeonato do Mundo de Futebol de 2018, não sabemos ainda que temos à nossa espera um filme de barricadas e de guerras contra o poder, a incidir sem medo na violência da polícia e, mais grave ainda, na sua impunidade. Isto é: a veia de Hugo está presente, mas com outra roupagem — e não é menos brutal que as misérias das revoluções industriais de oitocentos. É pelo ponto de vista da Lei que entramos nesta França a ferro e fogo, pelos olhos do sargento Stéphane (Damien Bonnard, ator de “Na Vertical” de Guiradie e também do último Polanski), acabado de chegar da pacata Cherbourg para integrar uma brigada especial anticrime. Ladj Ly já havia criado a personagem há três anos, na homónima curta-metragem de 2017 que deu origem a esta estreia na longa. Em Montfermeil, o sargento Stéphane é literalmente atirado às feras. Não tem outro remédio senão adaptar-se rapidamente aos seus novos colegas Chris e Gwada, polícias batidos que conhecem bem o terreno — e conhecer bem o terreno significa aqui seguir métodos de trabalho nada ortodoxos. O que aquela brigada não sabe ainda é que anda por ali um miúdo a brincar com um drone espião. O aparelho tem uma câmara e, lá de cima, consegue filmar tudo.

“Os Miseráveis” foi sob várias perspetivas a surpresa de Cannes 2019. Para já, são sempre muito poucas as primeiras obras que conseguem ter acesso direto à competição pela Palma de Ouro, a seleção para o concurso principal já era em si uma distinção. Por outro lado, praticamente ninguém tinha ouvido falar do nome de Ladj Ly — e ele foi o primeiro cineasta negro a representar a França na prestigiada competição. Mas as coisas não ficaram por aqui. É que saiu do festival com o Prémio do Júri (ex-aequo com “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles), foi depois o título francês eleito para representar a França nos Óscares e logrou ser nomeado (para a categoria de Melhor Filme Internacional ganha por “Parasitas”). Encontrámos o cineasta seis meses depois do festival da Côte d’Azur, no início de dezembro, em Berlim, no âmbito dos Prémios do Cinema Europeu, organizados pela Academia Europeia de Cinema. Ladj Ly foi a European Discovery do ano e já lançara então uma campanha em Los Angeles.

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