Houve em tempos quem dissesse que estava amaldiçoado. O anel tem um círculo cravejado de diamantes em redor, no centro do qual está uma gravura do perfil de August Wilhelm Iffland, um proeminente ator, dramaturgo e encenador do final do século XVIII e início do século XIX. O atual detentor do anel a cada momento histórico é considerado o mais significativo,valioso e digno ator do teatro em língua alemã. Bruno Ganz tinha o anel no dedo quando morreu esta sexta-feira, 16 de Fevereiro, na sua casa de Zurique, aos 77 anos.
O próximo guardião do anel é sempre escolhido pelo atual detentor - que o guarda até à morte - mas se Ganz deixou algum nome designado não se tem ainda a certeza. Certo é que não seria a primeira vez que o sucessor não é escolhido pela pessoa que o antecede. Nos anos 50, Albert Basserman escolheria por três vezes um sucessor, e por três vezes o eleito acabaria por falecer pouco tempo depois. Uma maldição, ditariam os mais supersticiosos. A distinção acabou por ter de ser decidida por intermédio de um comité de atores de língua alemã.
A notícia da morte de Bruno Ganz começa com a história de um anel por dois motivos. O primeiro para demonstrar a importância do ator no panorama do teatro e do cinema europeu, e a segunda para fugir - ainda que temporariamente - ao inevitável: apesar de uma carreira extensa e distinguida, a maioria do grande público lembrar-se-á sempre de Bruno Ganz por causa da famosa cena do filme “A Queda” em que o ator representa Hitler no seu bunker de Berlim nos últimos 10 dias da sua vida, num misto de fúria, cólera e loucura perante uma guerra perdida. Uma cena que deu depois origem a diversos “memes” e paródias na internet.
Se quisermos fazer referência a outro marco da história de cinema, Ganz fez ainda parte do elenco de “As Asas do Desejo” (1987), de Wim Wenders, onde interpretava o papel Damiel, o anjo que velava pelas almas perdidas na Berlim pós-guerra. Ou do “Nosferatu”, de Werner Herzog (1978) em que fazia o papel do conhecido vampiro.
A notícia da morte de Bruno Ganz foi inicialmente avançada pela sua agente, Patricia Baumbauer, ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.
No verão passado, enquanto estava a trabalhar no Festival de Salzburgo, o ator suíço recebeu um diagnóstico de que sofria de cancro do colón.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jsduarte@expresso.impresa.pt