Coimbra votou a favor de apoio de 440 mil euros à promotora dos Coldplay
Coldplay
Euan Cherry/Getty Images
A Câmara Municipal de Coimbra vai apoiar a Everything Is New, promotora dos quatro concertos dos Coldplay em Coimbra, em 440 mil euros. Para José Manuel Silva, presidente da Câmara, trata-se de “um dos melhores negócios de sempre nesta área” para a região de Coimbra. Os vereadores socialistas recusaram-se a participar na votação e criticam um custo total para a Câmara que estimam em 1 milhão de euros
A Câmara Municipal de Coimbra (CMC) votou esta terça-feira a atribuição de um apoio financeiro no valor de 440 mil euros à Everything is New, empresa responsável pela realização de quatro concertos dos Coldplay, que se realizam no Estádio Municipal de Coimbra nos dias 17, 18, 20 e 21 de maio.
Para além de estabelecer um apoio de 440 mil euros à promotora, obriga a autarquia a ficar responsável pela substituição do relvado do estádio após os concertos, assegurar a limpeza do estádio antes, durante e após os espetáculos e isenta a Everything is New de qualquer taxa, tendo direito a utilizar o estádio entre 1 e 25 de maio.
O acordo foi aprovado com os votos a favor da coligação Juntos Somos Coimbra (PSD, CDS-PP, Nós,Cidadãos!, PPM, Aliança, RIR e Volt) e um contra do vereador da CDU, numa votação em que os quatro vereadores socialistas se recusaram a participar, considerando estar em causa "um simulacro de democracia" por o acordo ser debatido 19 dias antes de entrar em vigor.
Coldplay ao vivo em Curitiba, Brasil, março de 2023
Os vereadores do PS, na oposição, alegam que “o apoio global direto e indireto aos concertos dos Coldplay vai rondar um milhão de euros”. Na reunião do executivo sobre o acordo entre a Câmara de Coimbra, a promotora Everything is New e a Associação Académica de Coimbra -- Organismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF). Carina Gomes, vereadora do PS, sublinhou que o partido não duvida de que os quatro concertos "darão visibilidade a Coimbra", mas criticou "dados ocultos" quanto ao negócio, nomeadamente a receita global de bilheteira e custos globais de produção associados ou o valor que a promotora irá pagar à AAC/OAF.
A vereadora, que assumiu a pasta da cultura no anterior mandato (onde o PS tinha maioria), vincou que o apoio dado à promotora não tem associados quaisquer critérios ou fundamentos e questionou o porquê de não estar contabilizado o valor das isenções de taxas. "Não faz sentido, com contas saudáveis como as que a Câmara tem, gastar 440 mil euros nestes concertos, tendo cancelado a superespecial do rali [que teve um custo para a autarquia de 630 mil euros em 2022] e o Prémio Estação Imagem, estando a diminuir o orçamento de eventos culturais consolidados na cidade e não tendo criado uma única medida de apoio social extraordinário às famílias neste período de graves carências financeiras", protestou.
Também o vereador da CDU Francisco Queirós considerou que trazer uma banda da dimensão dos Coldplay para Coimbra é "uma ótima ideia", mas questionou as condições em que os concertos acontecem, questionando até a legalidade do acordo hoje discutido. "A atribuição de 110 mil euros por espetáculo, a uma empresa privada é um avultado subsídio direto da Câmara a uma grande empresa privada de produção de eventos culturais", salientou. Para Francisco Queirós, o acordo "não é aceitável", considerando que, mais do que as empresas de restauração ou hotelaria, "quem na verdade lucra e brutalmente é esta empresa promotora, a juntar aos lucros de bilheteira".
Já o presidente da Câmara, José Manuel Silva, realçou, em resposta ao PS, que o acordo feito com a Everything is New é "exatamente semelhante" ao protocolo feito pelo anterior executivo socialista para o concerto de Andrea Bocelli, em 2021, com exceção do pagamento direto à promotora. "Os que criticaram a não realização da superespecial [do rali], são os mesmos que agora criticam a realização dos concertos dos Coldplay. Em vez de trazermos 20 mil, trazemos mais de 200 mil pessoas a Coimbra. O retorno financeiro é incomparavelmente superior", vincou.
Segundo o edil, o valor de apoio definido surgiu com base numa negociação com a promotora, assegurando que havia outros municípios interessados nos quatro concertos dos Coldplay. "Negociámos bem, e ficando aquém do que nos era pedido, conseguimos uma proposta competitiva e lançar Coimbra na rota dos grandes eventos internacionais na área artística", argumentou.
Coldplay no Festival de Paredes de Coura, em agosto de 2000
Na ótica de José Manuel Silva, estes concertos são "um dos melhores negócios de sempre nesta área para a cidade de Coimbra e para a sua região". "Se cada pessoa deixasse 500 euros, haveria um retorno tangível de 100 milhões de euros. Se cada uma só deixar 100 euros - e isso não chega para a dormida da maioria -- são 20 milhões de euros. Portanto, teremos um retorno tangível entre 20 e 100 milhões de euros", sustentou. O autarca justificou o apoio também apontando para o exemplo de outras autarquias, que também dão apoio ou isentam de taxas grandes eventos culturais.
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