Na sua estreia no festival Paredes de Coura, os Comet Is Coming são um corpo celeste comandado por três mentes inquietas: King Shabaka (saxofone), Danalogue (teclas) e Betamax (bateria). Inspirados pela ficção científica, pelo espaço sideral e por outras realidades paralelas à terrestre e palpável, os londrinos são considerados uns dos porta-estandartes do novo jazz britânico, apimentando o seu caldeirão sónico com doses generosas de psicadelismo, funk e rock.
Depois dos Badbadnotgood, que ontem voltaram ao anfiteatro onde haviam sido felizes em 2017, coube aos Comet Is Coming provar que no palco grande de Paredes de Coura cabe muito mais do que "música de guitarras" (do saxofone de Shabaka Hutchinks, aka King Shabaka, por exemplo, sai o equivalente a uma trovoada de riffs). Sentados pacatamente na relva, pelo menos na metade superior do recinto, os courenses honorários abrem os ouvidos à proposta exploratória dos autores de 'Summon the Fire'. Num prolongamento do espírito pacífico que se vive junto ao rio, também há quem aproveite para descansar ou fazer desenhos, enquanto nas filas da frente se usa os momentos mais rock para aquecer os músculos para mais logo (em aguardada estreia nacional, os Turnstile deverão exigir resistência destas pernas).
Da primeira vez que tocaram em Portugal, há oito anos, os Comet is Coming estiveram aqui perto: no festival Milhões de Festa, em Barcelos. Mas a verdade é que esta música podia apresentar-se num festival sobretudo rock, como estes, no FMM de Sines, dedicado à world music, ou num evento jazz. A missão dos três músicos, explica o teclista Dan Leavers, aka Danalogue, é unir as pessoas através das suas experiências musicais, ou daquilo a que chamam "raio" ou "feixe". É essa a temática do próximo álbum da banda, anunciou: "Hyper-Dimensional Expansion Beam" sai em setembro e deverá aprofundar a dimensão caleidoscópica do grupo.
Num anfiteatro ainda a lamber as feridas da noite passada, em que levou muita 'porrada' boa de Idles, Murder Capital ou Viagra Boys, muitos aderem ao apelo dos Comet is Coming, batendo palmas ao som de temas que, nalguns casos, vivem num limbo entre o transe berbere e a libertação da música eletrónica. Tal como os seus 'vizinhos' de género Badbadnotgood, é provável que voltem ao Minho para renovar votos com o povo de Coura.
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