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75% das empresas aumentaram o investimento na sustentabilidade apesar da guerra

75% das empresas aumentaram o investimento na sustentabilidade apesar da guerra

Um estudo da Deloitte mostra que a grande maioria das empresas aumentou os gastos na área da sustentabilidade em 2022. Os executivos dessas empresas reconhecem que as alterações climáticas estão a prejudicar a quantidade e o preço das matérias-primas que utilizam e mais de 30% admitem que o tema do clima está a afetar negativamente a saúde física e mental dos seus colaboradores

Quando questionados sobre se investiram mais ou menos na sustentabilidade em 2022, 75% dos executivos responderam afirmativamente, num ano marcado pela guerra na Ucrânia que abalou a economia mundial e fez disparar os preços das matérias-primas. A esta pergunta, 21% mantiveram o budget inalterado e 3% assumiram que cortaram o orçamento na área da sustentabilidade. Esta é uma das principais conclusões de um estudo anual feito pela Deloitte que entrevistou neste inquérito um total de 2.016 executivos C-level. Os executivos C-level são as chefias de topo dentro das empresas, tais como o Chief Executive Officer (CEO), o Chief Operating Officer (COO) ou o Chief Financial Officer (CFO).

Sobre os maiores desafios que vão enfrentar este ano, 44% responderam que são desafios climáticos, opção que aparece à frente de temas como a inovação (36%), o talento (34%) e os problemas nas cadeias de abastecimento (os entrevistados puderam responder afirmativamente a mais do que uma opção). A este propósito, Afonso Arnaldo, Partner e Sustainability and Climate practice leader da Deloitte, refere num comunicado enviado ao Expresso SER que, “apesar dos desafios complexos que os líderes das empresas enfrentaram no último ano, como a incerteza económica, conflito geopolítico ou interrupções na cadeia de logística, as alterações climáticas surgem como preocupação principal”.

Neste inquérito realizado junto de gestores de 24 países, a quase totalidade dos entrevistados afirmou que a sua organização sentiu de alguma forma o impacto das alterações climáticas no ano passado. E em que é que essas alterações climáticas impactaram mais na vida das empresas? 46% dos inquiridos responderam que foi na escassez e no custo acrescido dos recursos, enquanto 45% dos inquiridos destacaram uma mudança nos padrões e preferências de consumo associada às alterações climáticas. Por outro lado, 43% apontaram a regulamentação das emissões como outro dos principais problemas que afetam as empresas.

Adicionalmente, neste inquérito cerca de um terço dos executivos C-level reconheceu que as questões climáticas estão a afetar negativamente a saúde física (37%) e mental (32%) dos seus colaboradores. A preocupação com a saúde física dos trabalhadores é uma preocupação sobretudo nos países da região da Ásia-Pacífico onde esta percentagem sobe de 37% para 44%.

E será que estes gestores já foram afetados pessoalmente por algum evento provocado pelas alterações climáticas? A esta questão, 49% dos gestores escolheram a opção “calor extremo”, 32% “restrições a nível da água”, 29% “tempestades mais frequentes e poderosas” e 28% “secas severas”. As cheias severas, os incêndios florestais e a subida do nível do mar são outros eventos extremos que afetaram estes executivos.

Não obstante estes valores, o estudo tem uma nota de otimismo: “Apesar das preocupações reveladas no estudo, 78% dos líderes estão otimistas de que a sociedade irá tomar as medidas necessárias para evitar os piores efeitos das alterações climáticas e 84% concordam que as metas climáticas podem ser atingidas ao mesmo tempo que se mantém um crescimento económico global sustentado”.

A pressão dos administradores e dos clientes

No estudo da Deloitte lê-se ainda “que as organizações se sentem cada vez mais pressionadas pelos stakeholders para serem verdadeiros agentes de mudança no tema das alterações climáticas”. E quem é que pressionou mais à mudança de comportamento? 68% dos executivos C-level disseram sentir-se muito ou moderadamente pressionados pelos membros do conselho de administração, pelos reguladores/governo e pelos consumidores/clientes. “Paralelamente, as organizações estão gradualmente a sentir uma pressão crescente por parte dos acionistas e investidores, funcionários e sociedade civil”, lê-se no inquérito.

Em termos de ações concretas tomadas para melhorar o ambiente, mais de metade dos gestores revela estar a usar mais material reciclável na empresa, a melhorar a eficiência energética e a dar formação nestas áreas aos seus trabalhadores.

E qual é o maior benefício para as empresas de ter práticas mais amigas do ambiente? 52% responderam “reconhecimento e reputação da marca” e 44% falam em “satisfação dos clientes”. No polo oposto, “vários gestores entrevistados continuam a ter dificuldades em definir as vantagens financeiras a longo prazo dos investimentos feitos na área da sustentabilidade”.

Em termos de obstáculos na implementação de políticas mais sustentáveis, 24% consideram que a maior dificuldade é a medição do impacto ambiental e 19% referem que é demasiado caro.

No final do estudo, os consultores da Deloitte deixam algumas recomendações às chefias das empresas, tais como a inclusão dos objetivos climáticos na definição da estratégia das empresas, dar mais poder e autonomia aos administradores nestes temas, encorajar os restantes stakeholders a agirem, e, aconselham ainda, o investimento em novas tecnologias tais como a captura do carbono.

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